André Lara Resende tem a palavra impacto como guia de suas iniciativas. Sócio-fundador do Grupo Baanko (um conjunto de iniciativas cujo o propósito é qualificar Negócios de Impacto), é ainda professor na FDC (Fundação Dom Cabral), consultor no BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) e empreendedor do ramo de startups. Na área social é presidente do Instituto Um Pé de Biblioteca e idealizador do Baanko Challenge (iniciativa que fomenta o uso de tecnologia e design para tirar ideias do papel). Engenheiro eletricista de formação, atuou como executivo em grandes empresas como Votorantim, White Martins e Thyssenkrupp, com atuação forte em automação, eficiência energética e sustentabilidade. Sempre levou modelos inovadores para dentro de empresas, com foco em resultados. “Acredito muito na importância da percepção do meio copo cheio, por isso costumo acreditar muito que nossa grama é verde. Temos excelentes casos mundiais de empreendedorismo social, seja ele com ou sem fins lucrativos. Temos também feito um bom trabalho no Brasil. Por aqui o campo para impacto social é bem diferente de países ricos, por isso a possibilidade de empreender socialmente aqui no Brasil é um campo bem aberto que vem crescendo bastante. (…) Quem não mede não gerencia. A gestão é um ponto muito forte do aprendizado de como fazer grandes negócios”, afirma Resende.
André, antes de mais nada, nos fale um pouco sobre o começo da sua carreira até chegarmos na fundação do Grupo Baanko.
Estudei como técnico de eletrotécnica e depois engenharia elétrica, passei por algumas grandes empresas como White Martins, Votorantim e Thyssenkrupp, e no mesmo período, de forma paralela me voluntariei no início da criação de uma ONG da qual hoje sou presidente voluntário, o Instituto Um Pé de Biblioteca, que apoia a abertura de bibliotecas comunitárias em comunidades de alta vulnerabilidade social com o modelo de empoderamento local e desenvolvimento de forma colaborativa. Já fizemos parcerias com grandes empresas como Oracle, Cyrela e MRV. Desde jovem penso sempre em como juntar negócios com o objetivo de gerar impacto social positivo.
Como enxerga o empreendedorismo social que é realizado atualmente no Brasil?
Acredito muito na importância da percepção do meio copo cheio, por isso costumo acreditar muito que nossa grama é verde. Temos excelentes casos mundiais de empreendedorismo social, seja ele com ou sem fins lucrativos. Temos também feito um bom trabalho no Brasil. Por aqui o campo para impacto social é bem diferente de países ricos, por isso a possibilidade de empreender socialmente aqui no Brasil é um campo bem aberto que vem crescendo bastante. Temos trabalhado bastante para conseguir levar para várias localidades a temática do desenvolvimento sustentável, baseamos nos ODS da ONU (Organização da Nações Unidas), para o desenvolvimento de negócios de impacto social, bem como levar o tema de empreendedorismo social para mostrar que é possível sim fazer negócios de forma mais inclusiva.
Sempre em sua entrevistas, você fala muito em gestão. Qual a importância da gestão em uma organização como o Grupo Baanko?
Quem não mede não gerencia. A gestão é um ponto muito forte do aprendizado de como fazer grandes negócios, o aprendizado de hoje é como usar essas ferramentas e metodologias que ajudaram a formar grandes conglomerados para pequenos negócios locais e para pensar de forma mais sustentável, colocando os indicadores de impacto social como indicadores chaves ao lado dos de performance e resultados. O nosso desafio hoje é criar um ecossistema e ambiente propício para a geração de impacto social, com políticas públicas (para isso precisamos de vereadores, deputados, prefeitos, governadores e demais envolvidos do mundo político pensando em desenvolver o tema localmente), para que assim as organizações possam comprovar que a importância a longo prazo de se gerar negócios pensando em toda a cadeia é mais viável, isso quando se pensa de forma sistêmica em todos e começamos a viver em comunidade, de forma colaborativa. Esse ambiente já existe na Inglaterra e se mostra muito viável, então não é mais uma questão de discutir se é válido ou possível, e sim de executar.
Em uma palestra, a especialista em investimentos Audrey Choi, afirmava que os investidores globais já colocam mais dinheiro em negócios que de certa forma, fazem a diferença na vida das pessoas. Como está vendo isso no Brasil?
Assim como no mundo isso também vem crescendo no Brasil. Uma pesquisa da Força Tarefa Brasileira de Finanças Sociais mostra que em 2014 foram investidos cerca de R$ 14 bilhões só no Brasil, e a previsão é de R$ 50 bilhões para 2020, sendo que no mundo a previsão para 2020 é de mais de R$ 1 trilhão. Nosso problema ainda é em desenvolver negócios de impacto social mais qualificados para que possam receber estes investimentos, e é nesse pipeline de desenvolvimento que o Baanko atua. Hoje buscamos investidores que queiram investir em negócios que já passaram em algum de nossos programas. Temos mais de 300 negócios de impacto já listados; mais de 150 trabalhados e uma lista de empreendedores de invejar, com brilho nos olhos e capacidade de desenvolver negócios que podem transformar realidades.
Quais os principais desafios que têm encontrado para manter a excelência do seu projeto intacta?
Ainda acho que falta encontrar essa excelência, como bom engenheiro sempre busco, mas cada vez mais percebo que a excelência da construção de forma colaborativa supera qualquer manual construído que coloca uma viseira nos empreendedores. Precisamos deixar a cabeça aberta para uma visão sistêmica e mais criativa, para conseguirmos resolver problemas sociais complexos com soluções inovadoras e simples, que pensem nas pessoas e deixem um legado positivo, feito de forma colaborativa. O trabalho de falar de Negócios de Impacto Social hoje no Brasil, compara-se com o mesmo que falar de startups de base tecnológica em 2005. Ainda temos poucas organizações que conhecem, acreditam e apoiam, mas isso vem crescendo exponencialmente. Acreditamos muito, e trabalhamos para isso, que até 5 anos teremos um cenário muito bom e propício. Para isso é preciso começar hoje a levar o tema para mais empresas, para os governos e para comunidades onde realmente acontece o impacto social. O impacto social está no interior do norte de Minas Gerais, no Nordeste do Brasil, e em várias outras comunidades de elevado índice de vulnerabilidade social. Temos excelentes cases de impacto social hoje em capitais como São Paulo, e o grande desafio é conseguir inovar de tal forma a levar estas soluções para estarem mais próximas do impacto.
Você é presidente da ONG Um Pé de Biblioteca. Quais similaridades desta ONG podemos encontrar facilmente no Baanko?
Estamos transformando uma ONG em um Negócio de Impacto, que pode ser com ou sem fins lucrativos. O Instituto Um Pé de Biblioteca é um laboratório que aplicamos metodologias inovadoras como canvas e métodos colaborativos para desenvolver projetos que gerem a própria receita e permitam escalar a leitura para atingir comunidades que realmente precisam, sem esquecer que precisamos envolver as organizações, empresas e comunidades de todas as classes em prol da solução. No Brasil temos uma média muito baixa de leitores, muito abaixo da média mundial que é de 10 livros por ano. Essa realidade nos alimenta, mostrando que temos um caminho árduo, mas possível de melhorar a educação através da leitura. O Baanko é a resposta de uma pergunta que nasceu dentro do meu tempo de voluntário de abertura de bibliotecas com carreira executiva dentro de empresas, onde buscava uma resposta de como colocar mais gestão nos projetos sociais e mais responsabilidade social dentro de organizações, que realmente permita acabar com o socialwashing [termo utilizado para designar um procedimento de marketing utilizado por uma organização (empresa, governo, etc) com o objetivo de dar à opinião pública uma imagem ecologicamente responsável dos seus serviços ou produtos, ou mesmo da própria organização. Neste caso, a organização tem, porém, uma atuação contrária aos interesses e bens ambientais] e começar a aproximar todos da solução para problemas sociais.
Se possível, nos fale um pouco sobre o evento anual Baanko Challenge que ocorre anualmente no Brasil, na Argentina e no Chile.
Ele aconteceu no ano passado em Valparaíso no Chile, Belo Horizonte, Rio e SP. Ainda deve acontecer em Curitiba, Brasília e Salvador. Estamos avaliando ainda outras cidades como Montes Claros, Campinas, Porto Alegre e Buenos Aires na Argentina. Digo avaliando pois nosso método é um desenvolvimento local, que fazemos através do MES (Meetup de Empreendedorismo Social), e de acordo com metas atingidas evoluímos o grupo para a organização do Baanko Challenge. Realizamos um evento de desenvolvimento de Negócios de Impacto por 3 semanas, como um exercício na prática de economia colaborativa. Selecionamos até 17 Negócios de Impacto Social baseado nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU. Com isso selecionamos participantes que podem ser desenvolvedores, designers, empreendedores ou voluntários por natureza, e formamos grupos de engajamento nos negócios, que durante 3 semanas interagem com vários parceiros que se doam oferecendo gratuitamente capacitação e local para realização das ações. No final ganha quem mais aproveita o percurso, melhor trabalha de forma colaborativa e tem maior evolução do modelo de negócio nas semanas. Todos são premiados quando conseguem chegar no final, este ano se fossemos traduzir em valores, distribuímos somente em um evento mais de R$ 2 milhões em premiações, desde vagas no Programa de Desenvolvimento de Dirigentes da Fundação Dom Cabral, exposição em mídia em aeroportos e restaurantes, dezenas de horas de mentorias, suporte para identidade visual, dentre outros. Outro número muito importante é que em média, mais de 70% dos participantes dizem que geram alguma conexão de primeiro grau, que é conseguir um sócio, um grande cliente, uma grande parceria, etc. Isso tem muito valor pra gente, é o motivo pelo qual trabalhamos e temos como objetivo maior, desenvolver e preparar mais negócios inclusivos que permitam termos um mercado mais sustentável.
O que você acredita ser fundamental, para a criação de um negócio que aspira impactar o nosso país?
O propósito. E este está com o empreendedor. Precisa ter uma formação mais completa, que mostre os caminhos e possibilidades também dentro do impacto social e como isso é importante também para impactar positivamente nos resultados da organização, principalmente uma vida mais longa com clientes mais fiéis, que se preocupam com o mesmo propósito e viram seguidores do modelo. A palavra propósito traz com ela várias características que precisamos em um líder, que possa se tornar um grande empreendedor. Precisa ter crença forte no impacto social, na sua importância, mas também precisa entender a importância de se gerar receita, ter resultados reais, praticar execução para atingir objetivos e assim buscar um modelo de negócio viável. O Negócio de Impacto precisa produzir bons produtos, com menor custo e que resolvam de forma inovadora problemas tanto do mercado que atua quanto das comunidades.
Em sua visão, a sociedade civil organizada, já tem a noção clara da importância do terceiro setor para a construção de um país mais próspero em todos sentidos?
Infelizmente não, mas tem melhorado bastante. O Brasil é um dos países do mundo com maior número de ONGs, isso é ruim pois poucos atrapalham a imagem da maioria que faz um trabalho fantástico no Brasil. A sociedade está aprendendo ainda essa importância, mas ainda temos muito chão para percorrer, inclusive para mostrar que Negócios de Impacto Social com fins lucrativos são complementos extremamente necessários para os Negócios de Impacto Social sem fins lucrativos. Michael Porter, professor renomado de Harvard, defende essa importância de percepção mostrando que a filantropia não aumenta mais, se estabilizou, e que para resolver os problemas sociais e ambientais do mundo, precisamos complementar esse apoio a soluções, e esse complemento virá dos negócios.
Qual dos projetos escolhidos anualmente pelo Grupo Baanko lhe tocou profundamente e por quê?
Impossível selecionar um ou outro, todos projetos têm muito propósito e brilham nossos olhos, mas como relatei anteriormente, o mundo de Negócios de Impacto Social é o mesmo mundo de negócios, inclusive muitos mercados ainda acham que são duas coisas distintas mas todo negócio pode incluir o impacto social como valor na sua cadeira, basta o empreendedor ter este propósito. No mundo normal dos negócios, sobrevivem os que alcançam superávit, que conseguem uma estrutura e inovam suficiente para se manterem fortes no mercado. Incluir impacto social é uma inovação acontecendo hoje nos negócios, e a definição do que estes negócios fazem com seu superávit que os tornam Negócios de Impacto Social.
A palavra impacto talvez seja uma das mais usadas quando o assunto é a sua organização. O que mais lhe impactou até hoje e que fez você ter uma outra perspectiva sobre você mesmo e sobre o mundo ao seu redor?
A palavra impacto é interessante, pois tem vários significados. No mundo de startups, muitos chamam startups de base tecnológica que escalam de forma rápida e formam grandes conglomerados de Negócios de Alto Impacto, mas que não se relaciona em nada com impacto social e acabam inclusive muitas vezes gerando impactos negativos ou caindo na mesma velocidade que crescem sem construir bases sólidas (basta imaginar que em 2010 a Nokia era a maior e mais inovadora empresa do mundo e depois entrou praticamente em falência). Quando se fala em Impacto Ambiental, o mindset [linha de raciocínio que direciona a vida das pessoas] é que é ruim. Um impacto negativo como lamentavelmente presenciamos em novembro de 2015 em Mariana/MG. E o Impacto Social, que traduz em soluções para resolver problemas de comunidades e pessoas que não têm acesso, que não tiveram as mesmas oportunidades. Tive vários momentos de impacto na minha vida, e acredito que são os momentos que tornam e criam a história. Desde meu avô parando para doar pães em um viaduto, nas primeiras bibliotecas que tive oportunidade de ajudar. Um momento muito importante pra mim, foi quando me deparei com a posição de pai. Qual mundo quero deixar para minha filha? Como podemos agir localmente e mudar globalmente? Isso é minha força para continuar a mover nesse caminho difícil, mas muito gratificante.
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