Guga Stocco é um estudioso de como a inovação e a tecnologia vêm transformado a sociedade em áreas diversas como entretenimento, varejo e mercado financeiro. Em palestras pela América Latina, Estados Unidos, Canadá e Europa, ao longo dos últimos seis anos, ele tem falado sobre temas de ponta como inovação, tendências, fintechs, inteligência artificial e blockchain. Stocco tem mais de 20 anos de experiência na criação de negócios digitais e transformações de negócios, com projetos bem-sucedidos nas áreas de banco digital (Banco Original), venture capital (Koolen & Partners), mobile e e-commerce (Buscapé), plataformas na internet (Microsoft) e marketing (TeRespondo). Ele participa atualmente de conselhos consultivos de inovação na B3 (empresa de infraestrutura de mercado financeiro que nasceu da junção da BM&FBovespa e da Cetip), na TOTVS (empresa brasileira especializada em software, serviços, plataforma e consultoria) e no Banco Carrefour (instituição financeira do grupo Carrefour que possui cartão de crédito como principal produto). É ainda embaixador no Brasil do Stanford Reasearch Institute, fundado em 1946 pela Universidade de Stanford, que atua no desenvolvimento de produtos e soluções em tecnologia, inovação e educação. “As startups precisam, principalmente, criar produtos e serviços centrados nos usuários”, afirma o CEO da GR1D Insurance.
Guga, como se encontra a cultura de inovação em nosso país?
A cultura da inovação no Brasil é quase inexistente. Não por falta de pessoas que tentam inovar, porque temos gente muito boa empreendendo, mas da nossa política econômica. O ecossistema de inovação sofre muito com o pensamento vigente, que ainda trabalha no ideal industrial e busca a produção repetitiva de qualidade mínima em vez de uma produção inovadora que visa alta qualidade e evolução. Isso funcionava no século passado. Agora, não mais.
É um bom momento para investimentos em startups?
É o melhor momento para investir em startups, porque estamos vivendo um momento de transformação. Mas é importante entender que é preciso estar preparado para empreender, porque o negócio vai dar errado – muitas vezes. Não dá para entrar nesse mercado com a lógica do “se nada der certo, volto a trabalhar no que fazia antes”. Quanto mais você errar, melhor ficará, e uma hora vai dar certo.
Como uma startup pode se destacar num mercado cada vez mais competitivo?
As startups precisam, principalmente, criar produtos e serviços centrados nos usuários. De nada adianta adotar as mais avançadas tecnologias se a empresa não resolve os problemas daqueles que utilizarão seu serviço. Se o time conseguir identificar as oportunidades do mercado que ainda não foram capturadas e criar uma boa experiência para seu usuário, terá todos os ingredientes para criar um grande negócio. Uma tendência hoje está na criação de um modelo de negócio baseado no aluguel ou no compartilhamento de bens, e não na venda de produtos. Por exemplo, o Uber não é dono dos carros que funcionam em sua plataforma. São os motoristas que “alugam” seus automóveis para realizar o serviço de táxi. Da mesma forma funciona o Airbnb, que não possui as casas e apartamentos que aluga. Também é importante saber utilizar as novas tecnologias que estão surgindo no mercado, como blockchain, Inteligência Artificial e Realidade Virtual. Através delas, é possível potencializar e otimizar produtos e serviços, oferecendo uma experiência muito melhor para o usuário.
Você entrou no mercado de internet no final da década de 90. Quais os maiores ensinamentos que teve em todo este período de atuação no mundo online?
O mercado de internet é muito dinâmico, muda tudo a toda hora. Nos anos 1990, não dava para saber se uma empresa surgida no universo da internet daria certo. Hoje, entrando no mercado tradicional, percebo que agora tenho que trabalhar da mesma forma como trabalhei nos últimos 20 anos: a única certeza é que tudo vai mudar e que é preciso ser neurótico o suficiente para surfar nessa onda. Os principais ensinamentos do mundo da internet foram a necessidade de agilidade, de abraçar o risco e de encarar o erro como uma oportunidade.
Que pilares são necessários para se ter um negócio de sucesso na era digital?
Antes de mais nada, é preciso realizar a transformação digital. Esse termo que antes parecia tão distante da realidade das empresas, hoje se tornou uma questão de sobrevivência. Além de pressupor a adoção de tecnologias e a digitalização de processos comuns e cotidianos, trata-se de uma transformação de cultura. A começar pelo time. As áreas precisam conversar entre si e compartilhar conhecimento. Por isso, é preciso criar times multidisciplinares com pessoas de diversas especialidades, como Design, Direito, Tecnologia, Negócios, Marketing e Recursos Humanos. O designer, em especial, deve encontrar total liberdade de criação dentro da empresa, uma vez que é ele quem identifica as oportunidades de mercado e realiza o mapeamento de operações. Cada vez mais, é necessário pensar no cliente em primeiro lugar. Hoje, as pessoas possuem muito mais poder de decisão quanto aos serviços e produtos que consomem, por isso, também se tornaram mais exigentes por qualidade. Se a empresa não cumprir com suas necessidades ou criar um serviço que não o ajuda, o usuário irá excluir o app e nunca mais voltará a usá-lo – sem falar das críticas nas redes sociais.
O que restará dos bancos tradicionais num futuro próximo em um cenário cada vez mais digital?
Os bancos, se quiserem sobreviver nessa nova fase, precisam realizar a transformação digital logo. Hoje os clientes encaram os bancos como um mal necessário, uma vez que produtos financeiros como a conta-corrente ou a carteira de investimentos estão concentrados nas mãos deles. Mas as estruturas das instituições tradicionais são atrasadas e voltadas para a própria empresa, quando deveriam ser centralizadas no cliente. Hoje, é ele que quer ter o poder de decisão quanto aos produtos e serviços que irá consumir, principalmente devido à acessibilidade do smartphone. Com o crescimento das fintechs – empresas de tecnologia que realizam serviços financeiros, mas não são bancos –, que já nascem dentro da cultura de inovação e pensam no cliente durante a criação de cada um de seus serviços, as pessoas deixarão seus bancos para transferir seu dinheiro e sua confiança nas empresas que realmente cumprem com suas necessidades. Se os bancos não realizarem a transformação digital, adotando metodologias voltadas para a inovação e colocando seus clientes na tomada de decisão, ou realizando parcerias de Open Banking, serão engolidos pelas fintechs.
Qual o maior diferencial que o Banco Original (no qual atuou) trouxe para esse mercado?
O Banco Original, além de possibilitar a abertura de conta-corrente pelo celular, de maneira totalmente digital, foi um dos pioneiros na implementação do conceito de Open Banking – operação na qual o cliente passa a deter o poder de decisão sobre suas informações bancárias e decide com quais empresas e fintechs irá compartilhá-las – no mundo. Dessa forma, o cliente do Original pode, por exemplo, consultar seu saldo no Instagram, sem ter que sair do app. Assim, o Banco Original abriu caminho para outras instituições financeiras realizarem o Open Banking, que hoje é uma forte tendência do mercado e que revolucionará o sistema financeiro brasileiro e mundial.
Como avalia o mobile banking no Brasil se compararmos com outras partes do mundo?
O mobile banking do Brasil é um dos melhores do mundo. Os bancos brasileiros são extremamente avançados, principalmente devido à história de inflação do país. Os bancos tiveram que se adaptar e adotar tecnologias. No entanto, isso ocorreu durante as décadas de 1980 e 1990 e desde então, é a mesma infraestrutura que temos hoje. O mobile banking brasileiro é fantástico, mas ainda está baseando nessas estruturas, que não foram desenhadas pensando nas pessoas que as utilizam. O foco foi de pegar a experiência do banco e transferir para o aplicativo no celular. Agora vão começar a surgir as experiências de mobile banking focadas no usuário. A China já está fazendo isso, e a experiência não se assemelha em nada à experiência do banco, passando a ser um grande marketplace de produtos e serviços financeiros. Daqui a cinco anos, se o Brasil não mudar seu mobile banking e seu serviço bancário, vai ficar para trás e será engolido pelas fintechs.
A revolução das fintechs ainda está no começo?
Não, muito pelo contrário. Só no Brasil, já temos mais de 400 fintechs, sendo que há quatro anos havia apenas cinco. Elas estão oferecendo produtos personalizados aos seus usuários, o que os bancos não fazem. Com a regulamentação do Open Banking, o que já foi sinalizada pelo Banco Central para ocorrer agora em 2019, todos os bancos terão que se adequar às novas regras e adotar o modelo de negócios. Quando isso ocorrer, será um caminho sem volta e as fintechs irão dominar o setor financeiro brasileiro. O mundo segue a mesma tendência, com empresas de tecnologia oferecendo serviços bancários melhores que aqueles das instituições tradicionais.
Que análise faz do mercado de criptomoedas no Brasil?
As criptomoedas não crescem no Brasil por não termos uma regulamentação. Por ser considerada um valor mobiliário, a legislação não permite que empresas lancem suas próprias moedas. Uma asset regulada pela Bolsa de Valores poderia emitir suas criptos, mas a carga imensa de regulamentação e de tecnologia não permite o desenvolvimento dessa nova economia.
Como vê a possível regulação desse mercado?
Um caminho para a regulamentação das criptomoedas é a chamada Regulatory Sandbox, que funciona como um ambiente de testes com exigências flexíveis, permitindo, por exemplo, que as empresas de inovação e tecnologia façam uma análise sobre o modelo de negócio implementado e seu impacto nos consumidores finais. Nesse formato, o regulador acompanha o processo de desenvolvimento ao mesmo tempo, que determina regras para controlar riscos e impactos negativos daquele negócio. Dessa forma, a regulamentação acompanha a inovação, ao invés de impedi-la ou atrapalhá-la. Para implementar esse sistema no Brasil, é preciso criar um comitê específico para a área de criptomoedas formado por especialistas, pesquisadores e representantes de empresas. Eles serão responsáveis por mapear o mercado, chamando os setores envolvidos para discussões e entendendo como funcionam os diferentes modelos de negócios criados ao redor de cada criptomoeda.
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