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Guinles: como eles perderam fortuna e poder?

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A família Guinle possui uma história fascinante que remonta ao século XVII na região dos Altos Pirenéus, na França. Originalmente de Bazet, um subúrbio de Tarbes, os Guinle se estabeleceram como membros da pequena burguesia, ocupando diversas funções respeitáveis na sociedade local. Desde 1630, há registros de seus antepassados, como Domenge Mamnus, mencionado em obrigações com a Igreja de Saint-Saver-de-Rustan. Ao longo dos anos, membros da família ocuparam diversas profissões: Bernard Guinle, processado em 1699, Jacques, advogado em 1706, e Pierre e Martin, que foram açougueiros. A partir de 1720, Pierre, filho do açougueiro Pierre, tornou-se advogado do Parlamento. Outros Guinles se destacaram em atividades religiosas e administrativas, como Jean, que em 1776 recebeu direitos sobre os dízimos de Tostat, e outro Jean, que arrendou terras das Ursulinas em 1779.

O século XIX também viu Guinles em várias funções públicas: Jean-Pierre, nascido em Tarbes, tornou-se chefe das cavalariças municipais e se aposentou em 1867. Além disso, um Guinle foi notário em Tarbes por volta de 1860, outro foi oficial sanitário em Andrest, e Romain foi agricultor e assessor administrativo municipal em Andrest. Alexandre Guinle, nascido em 1884, destacou-se como músico e poeta, recebendo prêmios da Academia Francesa.

Durante a Segunda Guerra Mundial, os Guinles de Sarniguet e Pujo participaram ativamente da Resistência, auxiliando judeus e abrigando aviadores norte-americanos. Essa participação heroica destacou a família como patriótica e generosa.

A chegada ao Brasil

A saga dos Guinle no Brasil começa com Jean-Arnauld Guinle, nascido em Bazet, que emigrou para o Uruguai por volta de 1840. Após encontrar Montevidéu em turbulência militar, ele foi aconselhado a mudar-se para o Brasil. Casou-se com Josephine Désirée Bernardine Pallasim e mudou-se para Porto Alegre, onde nasceu seu filho Eduardo Pallasim Guinle em 1846. Eduardo iniciou sua carreira como caixeiro viajante e, após conhecer Cândido Gaffrée, estabeleceu uma parceria comercial.

Em 1875, Eduardo casou-se com Guilhermina Coutinho e mudou-se para o Rio de Janeiro, onde abriu um pequeno comércio. No Rio de Janeiro, nasceram seus sete filhos: Eduardo, Guilherme, Carlos, Arnaldo, Octávio, Celina e Heloísa. A grande virada veio em 1888, quando Eduardo e Gaffrée venceram uma licitação para modernizar uma parte do Porto de Santos. Eles expandiram a concessão e a prorrogaram, resultando em enormes receitas provenientes do porto.

Ascensão ao topo

Eduardo Pallasim Guinle faleceu em 1912, deixando uma grande fortuna para seus descendentes. A morte de Gaffrée em 1919, sem herdeiros, transferiu sua parte nas empresas para os filhos de Eduardo. Durante a primeira metade do século XX, os Guinle expandiram seus negócios para áreas como energia elétrica, imobiliárias, indústria têxtil, bancos, construção civil e hotelaria. Um dos legados mais notáveis foi o Copacabana Palace Hotel, construído a pedido do então presidente Epitácio Pessoa, que desejava um hotel de turismo na capital do país.

A proximidade do poder na então capital federal, o Rio de Janeiro, favoreceu imensamente os negócios da família Guinle. Além do Porto de Santos, a família executou diversas obras públicas, solidificando sua influência e riqueza. O Copacabana Palace tornou-se um símbolo de luxo e sofisticação, hospedando celebridades e dignitários de todo o mundo.

Consolidação e expansão dos negócios

Os Guinles eram mais do que empresários bem-sucedidos; eles eram visionários. Diversificaram seus investimentos em vários setores, incluindo a construção de grandes empreendimentos imobiliários e a fundação de bancos e indústrias. O controle do Porto de Santos continuava a ser uma das principais fontes de receita, mas a família não se acomodou. Investiram em energia elétrica, compreendendo a importância desse setor para o crescimento econômico do país.

Um dos marcos significativos foi a fundação da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) em 1941, um projeto essencial para a industrialização do Brasil. Com apoio do Governo Vargas (alguns dizem que o tesouro foi roubado de Guilherme Guinle, enfim…), a CSN tornou-se um dos maiores complexos siderúrgicos da América Latina, e a participação dos Guinle neste empreendimento reforçou sua posição como atores-chave no desenvolvimento econômico do país.

A influência política também foi um pilar do sucesso dos Guinle. Eles se aproximaram de figuras importantes e conseguiram contratos lucrativos com o governo. A construção do Copacabana Palace não foi apenas uma empreitada comercial, mas também uma jogada estratégica para consolidar sua posição na sociedade carioca. Esse período de expansão e consolidação marcou o auge da fortuna e do poder dos Guinle.

A era de ouro

Nas décadas de 1920 e 1930, a família Guinle desfrutou de uma era de ouro. Suas mansões eram centros de vida social e cultural no Rio de Janeiro. Os Guinle eram conhecidos por seu estilo de vida luxuoso e por suas contribuições às artes e à cultura. Patrocinaram eventos culturais, apoiaram artistas e participaram ativamente da vida social da elite carioca.

A influência dos Guinle não se limitava ao Brasil. Suas conexões internacionais lhes permitiram expandir seus negócios e seu prestígio além das fronteiras brasileiras. Eles estavam na vanguarda das tendências econômicas e sociais, sempre buscando novas oportunidades de investimento e expansão. Durante esse período, os Guinle não apenas acumularam riqueza, mas também cimentaram seu legado como uma das famílias mais influentes do Brasil.

O playboy Jorginho Guinle

Entre os membros mais notórios da família estava Jorge Eduardo Guinle, conhecido como Jorginho Guinle. Ele personificava o glamour e a extravagância associados ao auge dos Guinle. Jorginho era conhecido por seu estilo de vida de playboy, frequentando festas internacionais e circulando entre estrelas de Hollywood e celebridades mundiais. Apesar de nunca ter trabalhado no sentido tradicional, ele era uma figura central na vida social do Rio de Janeiro e do mundo.

Jorginho Guinle gastou grande parte de sua herança em viagens, festas e no financiamento de filmes e eventos culturais. Sua vida era um contraste marcante com a de seus antepassados, que haviam construído a fortuna da família através de trabalho duro e visão empresarial. O estilo de vida extravagante de Jorginho é frequentemente citado como um dos fatores que contribuíram para a rápida dissipação da fortuna dos Guinle.

O declínio

A partir da década de 1960, a fortuna e o poder dos Guinle começaram a declinar. A transferência da capital do Brasil para Brasília em 1960 foi um golpe significativo. O Rio de Janeiro deixou de ser o centro do poder político, e os Guinle perderam a proximidade com os círculos de decisão. Além disso, a diversificação dos negócios nem sempre trouxe os retornos esperados. Alguns investimentos falharam, e a administração das diversas empresas tornou-se cada vez mais complicada.

A terceira geração da família, embora educada e sofisticada, não tinha a mesma habilidade empresarial e a visão estratégica dos fundadores. O aumento da competição e as mudanças no cenário econômico global também contribuíram para o declínio. Os Guinle começaram a vender ativos para cobrir dívidas e manter seu estilo de vida luxuoso. O império que eles haviam construído com tanto esforço começou a se desfazer.

A perda do Copacabana Palace e o fim do império

O golpe final para a família Guinle veio com a venda do Copacabana Palace. O hotel, um dos símbolos da glória da família, foi vendido em 1989 para a Orient-Express Hotels, marcando o fim de uma era. A venda foi um reflexo da situação financeira crítica da família, que não conseguiu manter o controle de seus principais ativos. O Copacabana Palace, que uma vez fora o orgulho dos Guinle, tornou-se um lembrete doloroso de seu declínio.

A perda do hotel simbolizou a derrocada do império Guinle. A família, que outrora controlava vastas áreas de negócios e tinha uma influência significativa na política e na economia do Brasil, agora enfrentava uma realidade completamente diferente. A venda do Copacabana Palace foi um sinal claro de que os tempos haviam mudado, e a era dos Guinle como titãs da indústria brasileira havia chegado ao fim.

Uma dura reflexão

A história dos Guinle é um exemplo clássico de ascensão e queda. Eles começaram como membros da pequena burguesia na França e, por meio de visão empresarial e determinação, construíram um dos maiores impérios do Brasil. No entanto, a falta de adaptação às mudanças econômicas e políticas, a má administração e a falta de continuidade na liderança resultaram em seu declínio.


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