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Gustavo Loyola analisa a situação fiscal do Brasil

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Filho do ex-Procurador-Geral de Justiça do Estado de Goiás, Cleomar de Barros Loyola, graduado pela Universidade de Brasília e doutor em economia pela Fundação Getúlio Vargas, Gustavo Jorge Laboissière Loyola é ex-presidente do Banco Central do Brasil, cargo que ocupou em dois períodos distintos. Loyola foi diretor operacional da Planibanc Corretora de Valores de novembro de 1987 a janeiro de 1989 e diretor-adjunto do Banco de Investimento Planibanc S.A. de fevereiro a outubro de 1989. O Banco Planibanc foi fundado em 1983 por um grupo de investidores, dentre eles o economista Luiz Carlos Mendonça de Barros. Foi sócio e diretor da empresa MCM Consultores Associados de agosto de 1993 a maio de 1995, no intervalo entre os períodos em que ocupou a presidência do Banco Central. Atualmente, Gustavo Loyola é sócio-diretor da empresa de consultoria Tendências Consultoria Integrada. “Os gargalos de logística afetam seriamente o agronegócio. Se diz que no Brasil tudo vai bem “da porteira para dentro”, mas que da “porteira para fora”, o caos logístico rouba quase todo ganho do produtor. Há necessidade de mais investimentos em logística, o que demanda um quadro regulatório favorável aos investidores. Mais recentemente o Governo Dilma adotou medidas positivas nesse sentido, tendo sido bem-sucedido nas concessões rodoviárias e de aeroportos”, afirma o economista. 

A previsão de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) para este ano é de 0,52%. Será difícil alcançarmos novamente o patamar de 2010, onde o crescimento da economia brasileira foi de 7,5%?

O crescimento deve realmente ficar muito baixo este ano, menor inclusive do que 0,5%. No próximo ano, igualmente o cenário é ruim, com o PIB crescendo em torno dos 1,5%. Em 2010, tivemos uma situação excepcional, já que no ano anterior houve uma recessão e o Governo havia adotado medidas fortes de estímulo. Daqui para frente, acho possível um crescimento médio da ordem de 3%, mas para isso o Governo deve fazer ajustes na política econômica e iniciar um programa de reformas.

Por que o senhor é favorável de termos no momento, um presidente um pouco mais conservador no Banco Central?

Prefiro dizer que gostaria que a política monetária tivesse sido mais conservadora em 2011 e 2012, o que poderia ter evitado a aceleração da inflação e as dificuldades atuais para se cumprir a meta de 4,5%.

O senhor é favorável a um Banco Central independente?

Sim, sou amplamente favorável, pois, a independência do BC traz menor inflação e maior crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) no longo prazo.

Qual a sua visão sobre a política cambial do atual Governo?

No regime de taxas flutuantes de câmbio, as intervenções do BC não devem ter como objetivo desviar a taxa de câmbio do seu nível de equilíbrio de mercado, mas apenas evitar excessiva volatilidade em função da maior ou menor liquidez do mercado em determinadas circunstâncias. Penso que no geral a política cambial atual tem sido correta.

Algo no mercado externo, pode atrapalhar neste momento a economia nacional?

Sim, a perspectiva de alta de juros nos EUA reduz a liquidez internacional e torna mais seletivo o fluxo de recursos para os países emergentes. Além disso, exerce pressão baixista sobre os preços dos produtos primários dos quais o Brasil é grande exportador. A resposta à pergunta, então, é sim.

A inflação é o principal problema do país neste momento?

Não sei se é o pior problema, mas certamente é o que exige resposta mais imediata. Com a inflação do jeito que está, torna-se difícil melhorar as expectativas e aumentar o investimento na economia. A situação fiscal também exige cuidados, pois, tem contribuído para piora da percepção de risco em relação ao Brasil.

Quais medidas seriam eficazes neste momento para desestrangular a indústria nacional que vem sofrendo sistematicamente?

O grande problema da indústria brasileira é o custo Brasil. As nossas empresas se defrontam com custos que as tornam pouco competitivas no campo internacional. Precisamos de reformas, principalmente nas áreas tributária e trabalhista, para aliviar este fardo que tende a inviabilizar parte da indústria brasileira.

O que o senhor acredita que deve ser feito em nosso país, para que tenhamos o verdadeiro capitalismo, já que a impressão que temos é que no Brasil, só algumas empresas amigas do Governo é que “jogam” o grande jogo do mercado?

Infelizmente, nos últimos anos pouco se fez nesse sentido. Ao contrário, o que houve foi o fortalecimento de um falso capitalismo baseado mais no relacionamento das empresas com o Governo do que com seus méritos.

Em 2012, o senhor alertava que o modelo de crescimento já estava se esgotando. Por que o poder às vezes, seja ele de qual partido for, é tão teimoso que não enxerga aquilo que os economistas estão analisando?

Este é um mistério. Acredito que seja pela dificuldade que normalmente os Governos têm de reconhecer seus próprios erros ou ainda por mera cegueira ideológica.

Os empresários do setor de agronegócios reclamam sempre da infraestrutura do país. Como sanar esses gargalos?

De fato, os gargalos de logística afetam seriamente o agronegócio. Se diz que no Brasil tudo vai bem “da porteira para dentro”, mas que da “porteira para fora”, o caos logístico rouba quase todo ganho do produtor. Há necessidade de mais investimentos em logística, o que demanda um quadro regulatório favorável aos investidores. Mais recentemente o Governo Dilma adotou medidas positivas nesse sentido, tendo sido bem-sucedido nas concessões rodoviárias e de aeroportos. Mas ainda há muito a ser feito, notadamente em portos e ferrovias.

Todo candidato sempre coloca a reforma tributária e a reforma política como metas, mas quando chegam ao poder, não conseguem cumprir. Por que essas reformas só ficam no campo das intenções?

No caso da reforma tributária, o problema maior é o de conciliar os interesses não convergentes da União e dos Estados. No caso da reforma política, o óbice maior são os próprios políticos que receiam arriscar a perda de um “Status quo” confortável para eles. Para triunfar, essas reformas exigem forte envolvimento da sociedade, de modo a induzir seus representantes a agir.


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