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Hamilton de Holanda fala sobre sua música criativa

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Para muitos especialistas e críticos, o bandolinista e compositor carioca Hamilton de Holanda, é um dos grandes gênios musicais vivos do país. Filho de José Américo e Iélva Nídia, pernambucanos, músico mudou-se em 1977 para Brasília com a família. Começou a tocar aos 5 anos de idade e a se apresentar aos 6. Ficou em evidência na cena da música brasileira no ano de 1995, quando foi considerado o melhor intérprete no II Festival de Choro do Rio de Janeiro, com “Destroçando a Macaxeira”, que ficou em segundo lugar como composição. Atualmente toca com o seu quinteto formado por André Vasconcellos, Daniel Santiago, Gabriel Grossi e Márcio Bahia. Com o irmão Fernando César formou o grupo “Dois de Ouro” e ao longo de sua carreira fez parcerias com vários artistas renomados como o italiano Stefano Bollani, o cubano Chucho Valdés, o norte-americano Wynton Marsalis entre outros. Bacharel em composição pela UnB (Universidade de Brasília), já lecionou na Escola de Choro Raphael Rabello. “Me sinto muito feliz de ter percorrido um caminho musical que começou na infância e poder desenvolver minha vocação durante todo esse tempo, estudando, me divertindo, trabalhando bastante, podendo viver. Eu gosto muito quando a música chega ao coração das pessoas, principalmente quando vejo a reação nos shows, o contato direto e imediato. Me lembro quando era criança e via isso acontecer”, afirma o talentoso bandolinista. 

Quando fizemos a nossa pesquisa, o que mais apareceu sobre você foi a palavra gênio. Como é a sua reação quando lê ou ouve que é um gênio do bandolim?

Me sinto muito feliz de ter percorrido um caminho musical que começou na infância e poder desenvolver minha vocação durante todo esse tempo, estudando, me divertindo, trabalhando bastante, podendo viver. Eu gosto muito quando a música chega ao coração das pessoas, principalmente quando vejo a reação nos shows, o contato direto e imediato. Me lembro quando era criança e via isso acontecer. Uma dessas vezes foi em um congresso sobre crianças superdotadas, onde toquei meu bandolim e vi o impacto na hora, a emoção e a alegria das pessoas. Eu devia ter uns 10 anos de idade. Aquilo foi marcante. Ao mesmo tempo, era a coisa mais normal pegar o bandolim e tocar. Sempre estudei música, seja tocando em roda de choros ou na ‘academia’, até hoje me dedico muito ao estudo, à descoberta. Tenho fascínio por aquilo que ainda não aprendi.

Outros artistas têm uma visão muito parecida com a sua, quando dizem que a música tem o poder de cura. Fale mais sobre isso.

Acho que a música tem vários poderes, um deles é o de cura. Eu mesmo me curo de algumas gripes e dores com música. Não sou só eu que falo, os musicoterapeutas estão aí pra mostrar a toda gente que é verdade.

Alguns críticos dizem que o que você faz é choro; outros dizem que é samba e alguns dizem que é jazz. Como você classificaria a sua música?

É bem difícil classificar. Eu posso citar alguns elementos que ela tem. O ‘lastro’ é o choro. Mas não é só choro, tem samba, tem música mineira, nordestina, jazz, pode perceber pitadas de flamenco – influência de Raphael Rabello – e eu diria, que em certas situações, o ‘acabamento’ da música clássica. Tudo isso com melodias bem brasileiras. Já toquei em vários festivais pelo Brasil e pelo mundo: Festival de Jazz, de World Music, de Bandolim, Rock, Música Clássica, Samba, Choro, Música Instrumental, entre outros. Pra que tudo faça sentido, tento manter um padrão de som, fraseado e rítmico, e aí vou ‘encaixando’ o bandolim em diversas situações. Eu toco música brasileira. O jazz entra como ingrediente, como tempero. A liberdade e a relação com a “música feita na hora” é o que mais têm no jazz e uso na minha música.

“Quando as coisas são feitas de uma forma séria, são valorizadas.” O que seria fazer as coisas de uma forma séria no mundo musical?

Gosto muito de reverenciar músicos do passado, por exemplo. Vou sempre contra aquela máxima de que o país não tem memória. Tem que ter. E acho que uma delas é dar valor ao que foi feito por nossos mestres, mostrar que temos uma produção artística que contribuiu muito para o desenvolvimento da personalidade do povo brasileiro.

O cantor e compositor Erasmo Carlos, nos disse que o jabá oficializado domina os espaços na música brasileira atualmente. Acredita que isso é um fato, ou sua percepção é diferente?

Não sei se domina todo o espaço, mas o jabá está por aí em qualquer esquina da indústria musical. É complicado.

Voltando um pouco na sua infância, você começou a tocar com 5 anos e a apresentar com 6. Como são suas lembranças dessa época?

Tenho a lembrança de que estava sempre fazendo uma coisa muito ‘legal’, pra mim era igual a brincar. E gostava de saber que tocar me aproximava das pessoas, eu era bem tímido.

Você diz que quando termina um disco se desapega dele. Esse desapegar se dá para não ter a sensação que poderia ter feito ainda mais?

É quase isso, é o limite de ‘poder fazer mais’ com o ‘melhor do dia’. Não é fácil chegar a essa conclusão, por isso que digo desapego. É o equilíbrio entre aquilo que se quer fazer e o que dá pra fazer.

Em várias entrevistas, você sempre é perguntado sobre a sua produção que é intensa, e diz que não vai se podar, mesmo que isso incomode algumas pessoas. Você sente que as pessoas se incomodam quando um artista é prolífico?

Acho que não falei exatamente isso, sobre incomodar algumas pessoas. Eu já tive ‘reclamação’ de fã que diz que não consegue comprar todos os meus discos porque o dinheiro não dá pra tudo. Há alguns anos – juntamente com meu sócio Marcos Portinari – abri uma gravadora independente e assim posso lançar o disco de acordo com o momento artístico. Alguns eu disponibilizo gratuitamente. Também tenho todos em ‘streaming’ no meu site oficial. Achei uma maneira de me adaptar aos dias de hoje. Assim, posso compor à vontade, tocar à vontade e gravar quantos discos conseguir e achar que tenha aquela ‘faísca’ original.

Um trabalho seu que consideramos excepcional, é o “Mundo de Pixinguinha” que saiu pelo selo Rob Digital e conta com diversos convidados, entre eles o grande músico cubano Chucho Valdés. Como foi a concepção desse disco em especial?

Esse foi um projeto que fiz com o apoio do “Natura Musical”, e que tem me dado muitas alegrias. A ideia surgiu em meio a uma exposição sobre Pixinguinha em Brasília, numa conversa com meu produtor e empresário, Marcos Portinari. Pensei em fazer uma homenagem ao Pixinguinha, o Marcos levantou a bola: por que não fazemos com convidados internacionais? Aproveitamos de nossa experiência fora do Brasil e desenvolvemos a ideia artística e a logística pra realizar esse projeto. Convidamos a amiga Lú Araújo, produtora e pesquisadora da obra de Pixinguinha. Fui gravar na Europa e nos EUA com os músicos convidados. A ideia era, a partir da partitura original, criarmos um arranjo na hora, no estúdio. Acho que o resultado foi a sintonia entre o choro e o jazz. Não simplesmente isso, mas a generosidade de cada músico com sua linguagem contribuindo com a obra do nosso mestre Pixinguinha. Foram eles: Chucho Valdés, Wynton Marsalis, Richard Galliano, Stefano Bollani, Omar Sosa, Mario Laginha, Odette Ernest Dias e os brasileiros Carlos Malta e André Mehmari.

Você acredita que todo artista tem uma responsabilidade social?

Acredito e tento fazer minha parte. Mas não só os artistas, qualquer cidadão, seja dentista, advogado, filósofo, publicitário ou esportista tem sua parcela de responsabilidade social. E principalmente os políticos.

Saindo um pouco da música, como tem visto o Brasil atualmente, com tantas coisas acontecendo sobretudo no campo social, como as manifestações, por exemplo?

Fico com um misto de felicidade e preocupação. Felicidade porque a população tem que estar nas ruas mesmo, achei muito bom ver o que aconteceu no ano passado, ainda mais que o mundo inteiro estava vendo por conta da Copa das Confederações. O povo na rua pedindo, com razão, melhoras nas áreas de saúde, transporte e educação, em geral. Famílias indo às ruas, como deve ser. Mas fico preocupado com a ação violenta de uma pequena parte que vai à rua pra criar conflito, e não pra ajudar a resolver. Essa semana, infelizmente, tivemos a morte de um cinegrafista no Rio de Janeiro atingido por um rojão em meio a uma manifestação [aqui falando da morte do cinegrafista da Band Santiago Ilídio Andrade morto em 10/02]. Não imagino o que vai acontecer daqui pra frente, mas gostaria muito de ver o povo sempre na rua, pacificamente. A democracia agradece.

Última atualização da matéria foi há 2 anos


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