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Cidades sem Fome traz um debate urgente

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O administrador de empresas Hans Dieter Temp começou a cultivar uma horta orgânica no terreno baldio vizinho a sua casa, em Suzano, SP, isso foi o estalo, para que alguns jovens se apresentassem para trabalhar por lá. A vontade de produzir contagiou mais gente e logo as hortas ganharam outras três áreas no bairro. Tudo começou porque Hans se sentia incomodado com o terreno ao lado, alvo de lixo e entulho. A prefeitura de Suzano o convidou então para coordenar um programa de agricultura urbana – mas, quando já contava sete hortas, o projeto foi interrompido. Nada que o impedisse de continuar: fundou em 2003 a ONG Cidades sem Fome, com o apoio de empresas como Petrobras, Eco Urbis Ambiental, Fundação Interamericana de Desenvolvimento e Instituto HSBC de Solidariedade. Hoje, a ONG soma, na Grande São Paulo, mais de 21 hortas. Elas empregam 110 pessoas e beneficiam outras centenas com alimentos orgânicos e cursos de capacitação. “O início desse trabalho foi no ano de 2003 na zona leste da capital paulista. Assim que comecei a frequentar a localidade, percebi que nessa região, apesar do contexto urbano que caracteriza os bairros de uma maneira geral, haviam áreas ociosas sem nenhum tipo de construção ou utilização específica. São áreas privadas e públicas, geralmente áreas envolvidas em questões de litígios por herança ou então áreas pertencentes à órgãos públicos”, analisa o empreendedor.

Como você enxerga a política ambiental adotada pelo Governo Federal?

Acredito que o Governo Federal não acompanhou o avanço nas temáticas ambientais que hoje são propostas reais e sustentáveis em vários países. Foi fraco na questão das políticas de desmatamento, controle de madeiras e outros recursos naturais. Não conseguiu acompanhar outros países na questão de energias limpas e renováveis. Não conseguiu desengessar os caminhos para certificações ambientais e não conseguiu enquadrar grandes empresas e indivíduos que de alguma maneira ameaçam as questões ambientais brasileiras.

Em que momento você acreditou que seria possível criar hortas comunitárias em terrenos abandonados na cidade de São Paulo?

O início desse trabalho foi no ano de 2003 na zona leste da capital paulista. Assim que comecei a frequentar a localidade, percebi que nessa região, apesar do contexto urbano que caracteriza os bairros de uma maneira geral, haviam áreas ociosas sem nenhum tipo de construção ou utilização específica. São áreas privadas e públicas, geralmente áreas envolvidas em questões de litígios por herança ou então áreas pertencentes à órgãos públicos como prefeituras, Petrobras, Transpetro, Eletropaulo, Incra, Cohab e outros. Essas áreas sem destinação própria representam um grande passivo para as comunidades dos entornos, uma vez que sem utilização adequada, transformam-se em depósitos clandestinos de lixo e entulho, proporcionando condições favoráveis para as ocupações ilegais e desordenadas de moradias e a transformação dos espaços periurbanos em favelas e guetos. A ideia surgiu, a princípio, pela vontade de transformar pequenas áreas degradadas próximas a minha residência em locais produtivos, de melhorar o aspecto urbano do bairro, de trazer melhorias ambientais na comunidade local. A ideia não teve um foco social em seu início, não imaginava que o desenvolvimento de hortas em áreas urbanas viesse a se transformar em um projeto social com repercussão em todo o Brasil e até no exterior. Acho que fui impulsionado pelo contexto da situação, pela vontade de fazer algo diferente, de trazer melhorias para a comunidade.

Nos fale mais sobre a tríade da ONG Cidades sem Fome que é incentivar o desenvolvimento sustentável aliando à produção de alimentos orgânicos; preservar o ambiente local, além de gerar emprego, renda e educação em comunidades carentes.

A Cidades sem Fome transforma terrenos públicos e particulares da periferia da megacidade de São Paulo, em hortas comunitárias. O projeto, nessas regiões periféricas, conhecidas pela vulnerabilidade e pela carência de suas comunidades, visa melhorar a precária situação dos habitantes através de projetos sustentáveis de agricultura urbana, baseados em processos de produção orgânica. Esse projeto visa utilizar áreas públicas ou privadas que não tenham utilização específica, para a implantação e desenvolvimento de hortas a fim de proporcionar às comunidades carentes, oportunidades de trabalho, meios para capacitação profissional e geração de renda através da comercialização dos produtos obtidos pelos participantes do projeto. Tem por objetivo também, combater a desnutrição e melhorar a qualidade de vida das comunidades, uma vez que busca viabilizar o acesso a alimentos saudáveis e nutritivos além de trazer benefícios de caráter ambiental para esta população. A forma de atuação do projeto “Cidades sem Fome/Hortas Comunitárias” consiste na implantação de hortas comunitárias em áreas urbanas de grande concentração habitacional e esta iniciativa possui, como público prioritário, comunidades carentes que ocupam a periferia da Região Metropolitana de São Paulo. A proposta visa, sobretudo, oferecer alternativas para o desenvolvimento local dessas comunidades e minimizar os riscos e as condições de vulnerabilidade a que estão sujeitas. O projeto busca fomentar uma mobilização comunitária (sem, no entanto, isentar o poder público de suas responsabilidades) e, por meio da implantação de hortas em terrenos baldios e áreas subutilizadas, garantir, além de uma fonte de geração de renda, o aproveitamento de mão-de-obra ociosa (principalmente de mulheres e pessoas da terceira idade), o fornecimento de alimentos frescos cultivados em bases orgânicas, contemplando, também, a questão da segurança alimentar e do ganho de autoconfiança por parte dos envolvidos. Também busca incentivar o cooperativismo e difundir princípios e uma consciência ecológica através da realização de oficinas e de práticas de Educação Ambiental. Almeja, portanto, atuar positivamente sobre questões de relevância social, econômica e ambiental. A criação e manutenção destas hortas proporciona uma melhora das condições de vida desta parte da população, oferecendo oportunidades de trabalho, capacitação profissional dos participantes e de seus dependentes, a geração sistemática de renda com a comercialização de legumes, hortaliças e frutas produzidos pelo projeto, uma agregação de valor após o processamento destes produtos e a formação de cooperativas ou associações abrangendo os núcleos de produção. Ao criar possibilidades para auferir renda de forma autônoma e promover uma capacitação profissional, o projeto fornece instrumentos que também viabilizam o rompimento com o ciclo assistencialista a que diversas famílias se submetem devido à falta de alternativas para que se desenvolvam de forma digna.

A ONG Cidades sem Fome foi fundada em 2004, ou seja, há 12 anos. Quais os desafios mais notórios e que você pode salientar, que a ONG teve em sua implementação e desenvolvimento para chegar até os dias atuais?

Os maiores desafios foram os de aspecto estrutural como: captação de recursos; viabilização de áreas públicas para a implantação de projetos de hortas ou produção de alimentos em áreas urbanas; inclusão da agricultura urbana no contexto da agricultura familiar – tive que viajar 11 vezes para Brasília para convencer o Ministério do Desenvolvimento Social para que os agricultores urbanos pudessem ter os mesmos direitos que os agricultores familiares (acesso a microcréditos, participação em vendas para os programas públicos como merenda escolar, banco de alimentos, restaurantes populares, financiamento de maquinários e insumos a juros do Pronaf etc). Não colaboração da prefeitura e suas secretarias – o poder público local entende que a característica da cidade de São Paulo é indústria e prestação de serviços. Programas de produção de alimentos nos limbos e nas periferias é algo que não entra no contexto das políticas públicas locais enquanto que em outros países é uma temática amplamente discutida e incentivada.

Como funciona o sistema das bem-sucedidas hortas escolares?

Atualmente, em grande parte das cidades brasileiras, as escolas possuem além da função de educar também a função de alimentar milhares de crianças que em muitas ocasiões, encontram na merenda da escola, sua única refeição durante o dia. Existem na cidade de São Paulo e em suas regiões periféricas um grande número de escolas com grandes áreas físicas sem nenhuma utilização específica, o que representa um passivo para os administradores e educadores. Nessas regiões, encontram-se também os maiores bolsões de pobreza da cidade. O projeto quer utilizar de maneira racional os espaços existentes, aproveitando-os para a produção de alimentos, criando uma interface entre alunos, professores e comunidades do entorno dos centros educadores, visando permitir a produção de alimentos para as famílias mais necessitadas e criar vínculos ambientais com os jovens. O projeto Horta nas Escolas permite que os alunos possam desenvolver oficinas práticas de plantio em hortas e vivenciar os trabalhos. Sua participação no projeto representa um meio importante de produção de conhecimento, de organização e de participação em comunidade. Os alunos aprendem que, cultivar a horta é conhecer a matemática envolvida no plantio e nas colheitas, a biologia das plantas e do solo, o valor nutritivo dos alimentos. Cultivar a horta e trabalhar na criação de mudas de árvores significa dividir tarefas e organizar responsabilidades, além de implicar na participação ativa em um processo de transformação e melhoramento dos espaços físicos da comunidade onde as escolas estão presentes. A proposta da Organização Cidades sem Fome nesse projeto, é transformar todo o espaço das escolas em espaços pedagógicos. Entendemos que, dessa maneira, as ações contribuirão para o enfrentamento dos problemas que se identificam nas comunidades onde vivem, tendo os alunos como agentes de transformação, de intervenção na preservação e na defesa do Meio Ambiente, dos bens culturais e históricos. O aprendizado das soluções para esses problemas pelos alunos nas atividades do projeto Horta nas Escolas, nas temáticas ambientais, enfocará a sustentabilidade do projeto e trará a agregação de valores para a valorização e conservação do meio ambiente local. Trará também, consequentemente, uma maior mobilização do poder público para essa região, com a introdução de mecanismos que permitirão o desenvolvimento das comunidades inseridas nesse contexto. A metodologia enfocada, tanto para os alunos como os beneficiários diretos do projeto, considera o ser humano como sujeito de sua história e como responsável pela construção de uma sociedade mais justa e democrática e, tem como princípio o respeito ao saber e à criatividade dos cidadãos. O professor e o técnico (capacitadores), são vistos como facilitadores que instrumentalizam os alunos. Assim, o processo de aprendizagem é mútuo, de troca de valores e saberes. A aprendizagem resultante é engajada, na medida em que é gerada a partir da reflexão consciente, sobre a realidade local. O projeto Horta nas Escolas também atuará como instrumento de fortalecimento pedagógico, uma vez que as atividades ali desenvolvidas ajudam o professor a correlacionar diferentes conteúdos e coloca em prática a interdisciplinaridade com os seus alunos. Essas atividades também asseguram que a criança e a escola resgatem a cultura alimentar brasileira e, consequentemente, estilos de vida mais saudáveis.

Por que implantar hortas escolares?

A horta inserida no ambiente escolar servirá como um laboratório vivo que possibilita o desenvolvimento de diversas atividades pedagógicas em educação ambiental e alimentar unindo teoria e prática de forma contextualizada, auxiliando no processo de ensino-aprendizagem e estreitando relações através da promoção do trabalho coletivo e cooperado entre os agentes sociais envolvidos.

A problemática ambiental é uma das principais preocupações da sociedade moderna, desencadeando, por isso, uma série de iniciativas no sentido de reverter a situação atual de consequências danosas à vida na Terra. Uma dessas iniciativas é a Educação Ambiental que as instituições de educação básica estão procurando implementar, na busca da formação de cidadãos conscientes e comprometidos com as principais preocupações da sociedade. Aliado a este fator, o rápido processo de urbanização das cidades, que substitui espaços verdes por concreto, diminui o contato direto das crianças com todos os elementos bióticos da natureza da qual é parte integrante. Dentro desse paradigma, as crianças passaram a ter espaços cada vez mais restritos para vivenciarem o prazer natural de terem contato com elementos do ambiente do qual fazem parte. Para a educação fundamental, as atividades de educação ambiental nas escolas inserem-se em diversos temas transversais, principalmente meio ambiente, saúde e consumo, nas áreas do saber (disciplinas), de modo que impregne toda a prática educativa, e, ao mesmo tempo, crie uma visão global e abrangente da questão ambiental, visualizando os aspectos físicos e histórico-sociais. É de suma importância destacar a preocupação demonstrada pela maioria dos professores em trabalhar educação ambiental nas escolas. Esta preocupação torna-se ponto favorável para a implantação de novas ideias e propostas ligadas à área. Alimentação nas escolas. No Brasil de hoje, a má alimentação não é problema exclusivo de pobres nem de ricos, gente de todas as classes sociais se alimentam mal. Os problemas decorrentes de uma alimentação inadequada, como desnutrição, anemia, obesidade e doenças crônicas não transmissíveis, afetam tanto crianças, quanto jovens e adultos. Por isso, a educação alimentar desde a mais tenra idade é fundamental. As escolhas alimentares são experiências aprendidas. A familiaridade com o alimento é fator preponderante para sua aceitação e a partir daí aprende-se a gostar do que está disponível. A escola é indiscutivelmente o melhor agente para promover a educação alimentar, uma vez que é na infância e na adolescência que se fixam atitudes e práticas alimentares, difíceis de modificar na idade adulta. A finalidade da educação alimentar é transformar o alimento em um instrumento pedagógico, transpondo os limites do ato alimentar, fazendo com que este se transforme em um ponto de partida para novas descobertas. Apesar da alimentação ser servida nas instituições de ensino, raramente esta é vista como conteúdo de ensino. A educação alimentar deve ser levada para o ambiente escolar, onde o educando pode e deve reforçar a adoção de bons comportamentos alimentares. Na infância é que o ato alimentar pode ser vastamente explorado, pois, é nesta fase que a curiosidade é extremamente aguçada, os preconceitos ainda não foram adquiridos e onde surge a possibilidade de formação de um senso crítico mais amplo. Por esse motivo, as hortas escolares desempenham um papel importante no desenvolvimento de bons hábitos alimentares das crianças, uma vez que familiariza os envolvidos com os alimentos. O projeto horta nas escolas pode orientar a inclusão de temas como a reorientação alimentar, alimentação saudável nas atividades pedagógicas. Os conhecimentos e as habilidades que permitam às pessoas selecionar e consumir alimentos saudáveis, de forma segura e adequada, muito contribuem para a promoção da saúde. Contudo não basta apenas defender a ideia do acesso aos alimentos simplesmente, mas também que eles sejam oferecidos aos alunos de forma dinâmica e prazerosa, com qualidade, em atividades que respeitem a diversidade cultural e que sejam social, econômica e ambientalmente sustentáveis.

O projeto horta nas escolas sugere que os conteúdos de educação ambiental e alimentar sejam tratados nos temas transversais de maneira interdisciplinar na educação formal. Em outras palavras, propõe-se que as questões ambientais e de saúde permeiem os objetivos, conteúdos e orientações didáticas nas disciplinas, não passando, necessariamente, para o objetivo das aulas. As hortas escolares deverão ter a proposta e a finalidade de: servir como linha orientadora para que cada escola/docente possa adaptar o projeto à sua realidade local, como por exemplo, escolas situadas na periferia com grandes espaços físicos e com áreas verdes e escolas situadas em áreas densamente povoadas, com pouquíssimo espaço físico; adequar o trabalho às faixas etárias das crianças; inspirar os alunos a se mobilizarem, a procurar o conhecimento, buscar o como fazer. Dar espaço para o questionamento e a reflexão, que são próprios desses temas; tornar-se um elemento capaz de desenvolver temas envolvendo educação ambiental e alimentar, pois além de conectar conceitos teóricos a práticos auxiliando o processo de ensino e aprendizagem, as hortas escolares devem constituir-se como uma estratégia capaz de auxiliar no desenvolvimento dos conteúdos de forma interdisciplinar, distribuídos em assuntos trabalhados por temas transversais.

Resultados alcançados:

Maior integração do corpo docente, melhora no nível de socialização do aluno.

Desenvolvimento de habilidades específicas dos alunos.

Melhorar a estética dos espaços físicos das escolas.

Conscientização para a necessidade de conservação dos recursos naturais.

Aproveitamento de áreas escolares sem utilização para atividades produtivas.

A melhora da gestão de espaços públicos.

Substituição de espaços inutilizados por áreas verdes e produtivas.

Melhor aparência paisagística.

Incremento das reservas de águas subterrâneas.

Coleta e utilização de sobras orgânicas para a produção de compostos orgânicos.

Introdução na merenda escolar de verduras e legumes frescos de alto valor nutritivo.

Possibilitar aos alunos e professores aprendizados sobre a produção, o preparo e o consumo de alimentos de forma simples e atrativa.

Estimular hábitos alimentares saudáveis com o consumo de verduras e legumes produzidos nas hortas escolares.

Criar nas hortas escolares, possibilidades de aprendizados e capacitações para a família dos alunos. Através da observação e do manuseio da horta escolar, os pais dos alunos poderão construir em suas casas sua própria horta cuja finalidade será o aproveitamento das verduras e legumes ali produzidos para o consumo da família.

Você frequentou um curso técnico em agropecuária e políticas ambientais na Alemanha. O que mais lhe impressionou quando esteve no país europeu e que de certa forma trouxe para o seu projeto aqui no Brasil?

Durante o período que estive na Alemanha pude presenciar e ver como as pessoas valorizam seus espaços (urbanos e rurais) e os transformam em vários tipos de benefícios. Apesar do contexto social na Alemanha ser diferente do Brasil e não existir a problemática da fome ou da insegurança alimentar, milhares de moradores cultivam suas hortaliças, frutas e flores, independente de sua condição financeira. Vi pessoas ricas, donos de grandes empresas aos finais de semana cultivar seus próprios alimentos. Isso me sensibilizou e pesquisei porque isso acontecia. Em primeiro lugar, é um processo cultural, herança dos tempos difíceis do pós-guerra. As pessoas continuam com esse hábito porque entendem que é necessário. Não necessário porque faltam alimentos, mas porque é tradição. Depois, muitos usam as hortas como meio de fazer algo coletivo, algo que toda a família participa e se beneficia. Isso acontece com as hortas individuais e também com os espaços públicos. Quando visitamos alguma cidade da Europa temos a nítida impressão que o poder público é atuante e a gestão funciona. Na verdade, na maioria das vezes não é o poder público local que melhora os espaços, mas sim, a sociedade civil organizada. Por isso, existe a valorização dos espaços públicos onde todas as pessoas de alguma forma se beneficiam, sejam elas idosos, crianças, jovens, pessoas ativas no mercado de trabalho ou aposentados.

E a iniciativa privada, como tem atendido o chamado da Cidades sem Fome quando este chamado se faz necessário?

Ainda de forma muito tímida. Porém, nos últimos 12 anos foi a iniciativa privada que mais aportou recursos nos projetos da Cidades sem Fome. Mas acredito que se poderia fazer muito mais. A iniciativa privada deveria investir muito mais em nossos projetos. Queremos deixar de ser fazedores de “projetos sociais”, queremos, junto com a iniciativa privada fazer “negócios sociais”. Os negócios sociais são altamente sustentáveis, criam interfaces saudáveis entre pessoas que “tem” e pessoas que “necessitam”. A filantropia e programas assistencialistas não resolvem a vida de ninguém e acredito que esse tempo já é ido, hoje empresas procuram projetos que tenham essa pegada da sustentabilidade, de negócios sociais. E acredito com veemência, que os projetos da Cidades sem Fome possam ser interessantes para várias empresas da iniciativa privada. O desafio é encontrá-las.

O reconhecimento nacional da ONG, mudou em algum sentido, depois do prêmio Dubai International Award for Best Practices 2010 ganho em 2011 em Dubai?

O prêmio colocou a Cidades sem Fome em um cenário mais globalizado. Depois do prêmio, a Cidades sem Fome é referência quando se fala em projetos de agricultura urbana, hortas comunitárias, gestão de espaços urbanos, revitalização urbana, negócios sociais ou projetos que visam combater a insegurança alimentar de pessoas em situação de vulnerabilidade social.

Você se considera um empresário, um ativista ou um implementador de uma cultura que trouxe sonho e dignidade para várias pessoas?

Eu me considero um empresário que teve uma ideia e que conseguiu fazer uma leitura muito real de como resolver problemas crônicos de centenas de famílias. Na verdade, hortas urbanas não é uma novidade que introduzimos. Hortas sempre existiram. Inovamos a maneira de tratar e de combater a pobreza. Enxerguei no contexto de São Paulo todas as “matérias-primas” que alguém com um lampejo de ideia para a causa social precisa para equacionar o problema. Ou seja, milhares de pessoas necessitando trabalho, renda e alimentação, existência de grandes áreas sem utilização específica, clima ótimo, disponibilidade de conhecimentos e tecnologias e por último, 20 milhões de consumidores. Faltavam os recursos. E esse foi e é o nosso propósito. De maneira simples e eficiente trazer oportunidades de empreendedorismo para pessoas que sabemos, não irão conseguir mais inserção no mercado formal de trabalho.

Como enxerga a ONG nos próximos 10 anos?

A ONG precisa se realinhar em alguns aspectos. Vejo hoje a ONG muito dependente de recursos de apoiadores e financiadores. Isso aconteceu porque todos os recursos dos últimos 12 anos foram investidos nas atividades do projeto, na montagem de um modelo e de uma metodologia. Sinto a necessidade de uma sede própria para agrupar nossos bens adquiridos ao longo dos anos como veículos, maquinários, ferramentas, insumos e outros. Necessitamos dessa sede para podermos realizar eventos, cursos, oficinas, intercâmbios (a Cidades sem Fome tem visitações de interessados de várias partes do mundo) e isso de alguma forma pode gerar recursos próprios para a nossa entidade. A questão da reaplicação do modelo também é uma questão muito complexa. Sabemos que os projetos possuem potencial de replicação, porém, a maioria das pessoas ou prefeituras que nos contactam querem os projetos em suas cidades, porém, não podem arcar com os recursos necessários para a implantação dos projetos em suas cidades. Vejo a Cidades sem Fome conquistando muito espaço nos próximos 10 anos junto a órgãos como as concessionárias de transmissão de energia elétrica como Eletropaulo, EDP Bandeirantes, CETEEP e outras. Essas são detentoras de grandes espaços urbanos propícios para o desenvolvimento de nossos projetos e já existem algumas tratativas para o aproveitamento desses espaços e também da aplicação de recursos por parte dessas concessionárias nos projetos da Cidades sem Fome. Também vejo nossos projetos indo ao encontro de setores como a gastronomia com o fornecimento de nossa produção para restaurantes de alta gastronomia, de comida natural e outros o que irá gerar novos negócios sociais. O maior desafio e meu maior sonho é que em algum momento o poder público local comece a apoiar e financiar nossos projetos. Imagina ter recursos suficientes para fazer hortas na maioria das escolas públicas da zona leste. Seria algo fenomenal. Vejo também a Cidades sem Fome muito mais fortalecida no cenário mundial. Nosso escritório em Berlim iniciou suas atividades no início de 2016 e a ideia é divulgar nossos projetos na Europa para conseguirmos novos apoios financeiros e técnicos. Isso permitirá a expansão e o melhoramento de nossas atividades no Brasil.

Última atualização da matéria foi há 2 anos


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