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Helena Solberg diz que temos bons roteiristas

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Helena Solberg começou sua carreira a partir do contato com grandes nomes do Cinema Novo, como Cacá Diegues e Arnaldo Jabor, época em que conviveu com eles durante os estudos na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, e, posteriormente, com Joaquim Pedro de Andrade, Paulo César Saraceni e Mário Carneiro. A partir dos anos 80, dirigiu uma série de documentários para canais de televisão internacionais, como HBO, PBS, Channel 4, Rádio e Televisão de Portugal, National Geographic Channel, entre outros. Seus documentários e longas-metragens abordam tópicos diversos, como as vidas das mulheres na América Latina, problemas contemporâneos encarados por pessoas nativas das Américas do Sul e Central, como no filme “From the Ashes: Nicaragua Today”, que narra as raízes do Movimento Nacional de Libertação da Nicarágua, que leva à Revolução Sandinista e à derrubada da ditadura de Anastásio Somoza Debayle, em 1979. Em 2009, recebeu o prêmio de Melhor Direção no Festival Internacional do Rio por “Palavra (En)cantada”, que foi o documentário mais assistido nos cinemas brasileiros no ano. Em 2013 lançou o documentário “A Alma da Gente”. Em abril de 2014, foi a grande homenageada do Festival É Tudo Verdade. Foi tema do livro da jornalista e pesquisadora Mariana Tavares, “Helena Solberg – Do Cinema Novo ao documentário contemporâneo” lançado em julho do mesmo ano.

Helena, como vê o atual estado do cinema nacional?

Apesar da atual crise política e econômica que estamos passando as leis do áudio visual continuam funcionando. Existe, aliás, uma efervescência de novos diretores, uma nova safra que o último Festival Internacional do Rio revelou que nos dá muita esperança. Muitas diretoras mulheres também estão estreando, o que traz um grande alento e tem que ser celebrado! O novo ministro da Cultura, Sérgio Sá Leitão, promete diminuir a burocracia na Ancine (Agência Nacional do Cinema) que nos estrangula. A prorrogação da Lei do Audiovisual é essencial para nossa sobrevivência e ele, tudo indica, está também engajado nessa frente.

Existe algum resquício do Cinema Novo em obras realizadas recentemente no país?

O Cinema Novo tinha suas inquietudes particulares e cumpriu sua função no momento que estávamos vivendo. Vai ficar para sempre deixando um legado de uma linguagem própria que acho que vai inspirar as novas gerações.

O que representou o Cinema Novo em sua vida e principalmente na sua trajetória artística?

Havia uma fome muito grande de mudanças na época. Uma sensação libertária de que tudo era possível. Eu, como mulher, tinha minhas preocupações e questões particulares que eram difíceis de expressar em um grupo majoritariamente masculino e por que não dizer machista. As liberdades que queríamos exigiam de nós mulheres um preço muito alto. Minha geração foi anterior ao uso da pílula anticoncepcional. Queríamos a igualdade social, mas queríamos também nos libertarmos dos valores burgueses pelos quais fomos criados. Eu queria respostas para entender quem eu era antes de me colocar no lugar do outro, o oprimido. Apesar de estar ligada por amizade e convivência com os rapazes do Cinema Novo, na verdade eu tinha um projeto individual que queria perseguir. Arregacei as mangas e fui à luta!

Quando o cinema deve ter um papel social?

Acho que a forma não deve se sobrepor ao conteúdo, mas servir a ele. Um filme é um recorte da realidade, recorte esse proposto pelo autor. É o olhar dele queiramos ou não. Através desse recorte o cineasta propõe uma reflexão, e o espectador aceita ou não essa visão. O contexto da onde vem essa visão particular sempre me interessou. Nesse sentido acho que sim o cinema tem um papel social não de proselitismo, mas de estimular uma reflexão.

Você realizou um documentário instigante e original intitulado “Carmen Miranda: Banana is my Business”, no qual retrata a vida e a carreira da ‘Pequena Notável’. Como foi realizar este documentário e o que lhe impressionou quando realizava suas pesquisas para este filme?

A trajetória de Carmen Miranda conseguia reunir diversas questões que me interessavam sobre nossa identidade cultural, sobre o olhar estrangeiro sobre nós, sobre a perda que sofremos quando nos traduzimos para o outro. Um ícone é sempre fascinante e misterioso pelo o que esconde, pelo que existe por trás da máscara. Era um desafio que me interessava e aceitei. Construí esse filme com David Meyer (produtor e montador do filme e meu marido) me acompanhando em todas as fases. A visão dele, como americano, me ajudou muito a compreender o fenômeno Carmen. Para mim o filme é uma biografia afetiva não só de Carmen, mas também nossa naquele momento.

Para um documentário ser interessante, a história deve ser atraente ou muitas vezes a técnica do diretor e de sua equipe podem ser o grande diferencial?

Precisamos urgentemente de mais bons roteiristas. Reconhecemos a existência já de alguns ajudando a melhorar bastante o nosso cinema. Acho que o cinema argentino é um exemplo dessa combinação que tem sido um sucesso internacional. O cinema mexicano merece também uma menção aqui. O documentário é uma outra história, ele se concretiza na mesa de montagem e isso pra mim sempre foi a parte mais estimulante e criativa do documentário. O montador muitas vezes trabalha como um roteirista a partir do material bruto que muitas vezes têm novos elementos que não foram previstos antes das filmagens.

Você é produtora, diretora e roteirista. Esses três papéis já se chocaram em alguma de suas produções?

Nos anos 60 e 70 isso era a norma para os cineastas independentes. O modelo era esse por necessidade simplesmente. É evidente que hoje não funcionaria e seria certamente um suicídio. Domingos de Oliveira [ator, diretor, dramaturgo de cinema e teatro, poeta e cineasta brasileiro, 1936 – ] tem seu método assim como o Bressane [Júlio Bressane, cineasta, 1946 – ]. Ambos da velha guarda, criaram seu próprio modelo e são muito bem-sucedidos. Tem uma audiência menor, mas fiel. Cavi Borges [produtor, diretor e empresário do setor de cinema. É o fundador da Cavídeo, locadora especializada em filmes raros e de arte, referência entre os cinéfilos do Rio, que mais tarde também se tornou produtora e distribuidora de filmes] da nova geração é também um fenômeno de produtividade e acho interessante ver como a necessidade cria diferentes formas de sobrevivência. E as mulheres estão cada vez mais presentes nessas três funções também. O cinema sempre foi uma atividade cheia de riscos principalmente para os independentes, os que buscam um cinema mais autoral e querem experimentar novas linguagens.

Quais os elementos necessários para um bom roteiro?

Uma boa história e um bom roteiro são imbatíveis. Estou me referindo especificamente ao cinema de ficção.

No que o documentário difere de outros tipos de filmes em sua visão particular?

A experiência do documentário é única pra qualquer cineasta e foi onde muitos se iniciaram.

Quais são os seus novos projetos?

Tenho dois em andamento, mas acho prematuro elaborar sobre eles.


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