A história da mineira Celma Albuquerque Galeria de Arte começou em 1988, quando foi aberta a Cromos, por Celma Albuquerque, em conjunto de duas lojas, na Rua Pernambuco, dando forma à antiga e cultivada paixão dela pelas artes visuais. Em 1998, a galeria mudou-se para amplo espaço na Rua Antônio de Albuquerque e ganhou o nome da criadora. Desde 2005 à frente da empreitada, estão Flávia e Lúcio Albuquerque, filhos de Celma, os auxiliares mais diretos da mãe desde que a galeria foi criada. Eles contam que se tornar donos foi natural, já que, desde adolescentes, estão às voltas com atividades do espaço. Mas recordam que, ao assumirem o local ainda muito novos, enfrentaram olhar desconfiado do mercado de arte, tendo que provar que eram sérios, mesmo sendo jovens. O local já abrigou mostras de alguns dos mais importantes artistas contemporâneos brasileiros – Waltercio Caldas, Eduardo Sued, Nelson Leirner, Carmela Gross, Nuno Ramos, Eder Santos e José Bento. A galerista Flávia Albuquerque afirma: “A galeria precisa disponibilizar informação e material de pesquisa dos artistas representados. Isso é importante como estratégia de formação de novos colecionadores e para consolidar as coleções já existentes. Precisa também, ter um time de jovens artistas em ascensão e de artistas reconhecidos. Procuramos manter um time coeso, estabelecendo um trabalho contínuo ao longo dos anos”.
Flávia, sua galeria completará trinta anos em 2018. Quais foram as mudanças mais notáveis no mercado de artes nesse período em sua visão?
A mudança mais notável é o nível de informação das pessoas em relação à arte, desde o público, até jovens colecionadores e colecionadores mais experientes. Percebo por parte dessas pessoas um maior conhecimento e acompanhamento a respeito dos artistas – sejam estes mais jovens ou já consolidados. Há também uma presença significativa desse público nas feiras de arte e exposições, representando um maior interesse pela pesquisa e trajetória dos artistas. Isso repercute diretamente no mercado: quanto mais informação, mais aquecido ele se torna e consequentemente mais retorno de investimento oferece. O leque de escolha do mercado abrange uma escala de valores muito ampla, permitindo a aquisição de obras com valores compatíveis com um público cada vez mais diversificado e exigente.
Quais são os pontos primordiais de uma galeria que quer obter o sucesso neste mercado?
A galeria precisa disponibilizar informação e material de pesquisa dos artistas representados. Isso é importante como estratégia de formação de novos colecionadores e para consolidar as coleções já existentes. Precisa também, ter um time de jovens artistas em ascensão e de artistas reconhecidos. Procuramos manter um time coeso, estabelecendo um trabalho contínuo ao longo dos anos. Isso traz credibilidade ao trabalho do artista, da galeria e reverbera positivamente no momento da comercialização, uma vez que possibilita ao colecionador conhecer a trajetória dessa parceria.
Quando a visão de um galerista deve convergir com a visão de um gestor?
Existe um limite tênue entre os dois lados. Particularmente, vivo isto diariamente na galeria e considero esse aspecto importantíssimo para o bom andamento e equilíbrio dessa equação. Os dois lados se convergem e se divergem constantemente, procurando perceber o momento certo em que um prevalece sobre o outro. Isto possibilita empreender de formas diferentes em momentos diferentes: às vezes precisamos da visão do galerista, que aposta em uma complexa proposta de um determinado artista por acreditar e incentivar as próprias questões da arte; noutras vezes é preciso reestruturar e adequar tais propostas à realidade. São nessas horas que o papel do gestor faz a diferença. Ambos são importantes e devem caminhar juntos para possibilitar o incremento de nossas ações.
Como enxerga a arte contemporânea e seus novos artistas em nosso país?
Particularmente acredito que o termo arte contemporânea não se trata de um estilo e, sim, de uma condição temporal: a arte do nosso tempo que traz à tona as questões que nos cercam e nos dizem respeito. Os jovens artistas trazem esses questionamentos em seus trabalhos de forma muito contundente, do mesmo modo que os veteranos também o fazem. Portanto, todos estão inseridos, simultaneamente, não na dita “arte contemporânea” mas, sim, na contemporaneidade. O nosso país é um celeiro de artistas. A cada ano surgem novos nomes no cenário nacional. Acredito que isso se dê pelo fato de termos hoje um maior incentivo à produção artística, com um grande número de projetos de residências e bolsas, além de novos cursos de artes visuais que formam artistas mais atuantes, bem informados e conectados com a realidade. O jovem artista atualmente sabe que não basta apenas produzir seu trabalho, é preciso também saber gerenciá-lo. É aí que ocorre a parceria que mencionei anteriormente. Com esta mudança no perfil de formação dos artistas e da grande circulação de informação, além, é claro, do cenário atual da produção artística brasileira, tudo isso repercute qualitativamente nas proposições apresentadas, instaurando, desta maneira, um circuito muito positivo para a arte produzida em nosso país.
Em que momento a visão da arte como empreendimento se tornou mais sólida em sua galeria?
A arte sempre foi para nós, minha mãe, meu irmão e eu uma grande paixão em primeiro lugar. Há mais de trinta anos, quando minha mãe abriu a galeria em uma pequena loja em Belo Horizonte não existia o mercado e a circulação de informação atuais. Havia desde aquele tempo um interesse de nossa parte não só na comercialização de obras, mas também em como transformar tudo aquilo – espaço físico, acervo de obras, livros e catálogos – em algo mais abrangente que pudesse contribuir, de certa forma, para o cenário da arte na cidade. Foi então que, com este intuito de não só comercializar as obras, mas proporcionar uma experiência mais abrangente ao visitante, em 1998, minha mãe inaugurou o espaço em que estamos até hoje. Ao longo dos anos, a galeria ocupou um lugar institucional na cidade devido à escassez de um circuito cultural local. Hoje em dia é completamente diferente. Temos importantes instituições atuantes na cidade. Esta mudança de espaço físico proporcionou não só a realização de exposições de grande porte, cursos e palestras como também a percepção que dali em diante estávamos lidando com a arte como um empreendimento, como algo que exigiria de nós um posicionamento diferente em relação a todos os aspectos, inclusive o mercadológico.
O que falta no Brasil e que você acredita ser fundamental para a formação de uma massa crítica e consumidora de arte?
A meu ver, falta um maior incentivo à educação, ou seja, uma sociedade com acesso à arte de qualidade; espaços culturais, museus e galerias comprometidos e incentivados a proporcionar eventos relevantes. Para a formação de uma massa crítica e consumidora de arte é necessário que haja, como consequência, para isso, um entorno estruturado de forma a proporcionar acesso à informação. Hoje em dia, ao mesmo tempo, em que é mais fácil obter informações via internet, o excesso dela pode acabar também por dispersar e confundir um pouco. Acredito que a formação de massa crítica e possivelmente consumidora de arte seja consolidada através de um maior número de cursos especializados direcionados a este público interessado, sendo oferecido a ele o contato com distintos modos de percepção, produção e gerenciamento da arte para o mesmo poder se situar melhor. No Brasil temos um número significativo de pessoas aptas a atuar em diferentes segmentos: mercado editorial, crítica, docência, arte educação, pesquisa, curadoria, museologia, historiadores, etc. Essas atividades, em suas especificidades, acabam por disseminar o conhecimento, proporcionando mudanças na formação das novas gerações quanto à percepção e entendimento da arte.
Como está sendo a divulgação dos novos artistas pela galeria?
Há alguns anos, desde a inauguração do atual espaço, editávamos folders e catálogos para as exposições. Atualmente, para a adequação não só ao mercado atual como também para o bom equilíbrio entre a visão do galerista e a do gestor, fazemos toda divulgação da galeria pelas redes sociais mantendo nosso site sempre atualizado. Além disso, realizamos constantemente mostras individuais ou coletivas. Nosso trabalho também abrange a apresentação das obras aos clientes; sejam as que estão no acervo ou em livros e catálogos. Como parte da divulgação de novos nomes, frequentemente incluímos jovens artistas em nossos stands das feiras de arte.
O que norteava o ideal da sua mãe Celma Albuquerque e que você acredita ser um legado monumental?
O ideal de minha mãe era poder estar sempre em contato com a arte e construir um espaço capaz de abrigar as mais diversas proposições dos artistas. Paralelo a isso, ela sempre manteve como prioridade uma relação próxima com os mesmos. Aprendi muito com ela em todos os sentidos. O lugar que ocupamos hoje no cenário das galerias de arte no Brasil é fruto do seu maior legado: determinação e dedicação incansáveis à galeria, bem como o respeito e amor à arte de modo geral.
Qual das obras do acervo da galeria trouxe um impacto singular para sua vida?
Convivi desde criança com obras de arte pela casa. Frequentei também os ateliês dos artistas e me aproximei de suas pesquisas. Isso proporcionou uma relação estreita com cada um deles. Alguns trabalhos me tocam mais que outros, mas cada obra, a sua maneira, teve e continua tendo um impacto diferente em minha vida.
Em que momento a arte deve ter um papel social?
Acredito que o papel da arte é ser ela mesma – a arte pela arte, mais nada. Se ela exercer esse papel, estará cumprindo com sua verdadeira essência.
O que move um galerista em sua definição pessoal?
O que me move é a paixão, o convívio diário com as obras no acervo, o acompanhamento e evolução dos trabalhos dos artistas em seus ateliês, o prazer e a alegria de ver o cliente satisfeito com uma aquisição, o retorno dos artistas e visitantes com o resultado das exposições na galeria, a descoberta de um algum artista novo e a contribuição, de certa forma, para a formação de conhecimento através da realização de exposições e palestras com artistas e críticos de arte.
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