A campanha Fevereiro Laranja tem como objetivo conscientizar a população sobre a leucemia aguda, doença maligna dos glóbulos brancos do sangue, os leucócitos. A enfermidade progride rapidamente, quando ocorre a proliferação de células anormais e a formação de células saudáveis é substituída pelas cancerígenas. Atualmente a leucemia se encontra na nona posição entre os tipos de câncer mais comuns em homens e a 11ª em mulheres. Pelas estimativas do Instituto Nacional do Câncer (INCA), até o final desse ano mais de 10 mil novos casos serão detectados, somando 5.920 em homens e 4.890 em mulheres. “A campanha alerta sobre possíveis sinais e sintomas e a importância da doação da medula óssea. É necessário reforçar que o diagnóstico precoce pode elevar as possibilidades de cura.”, pontua Dra. Adrienne Moreno, OncoHematologista da UFRJ e da Oncologia D’Or. Entre os principais sintomas da doença estão anemia, cansaço e fadiga, queda de imunidade, diminuição das plaquetas, infecção, febre, hematomas e sangramentos espontâneos. Dores nas articulações e nos ossos, fadiga e cansaço também são comuns. “A leucemia afeta o Sistema Nervoso Central (SNC), podendo ocasionar dores de cabeça, náuseas, vômitos, visão dupla e desorientação”, acrescenta Dra. Adrienne. Após o diagnóstico e classificação da leucemia, detectados através de exames, o tratamento deve ser começado imediatamente. Em alguns casos há a necessidade da realização do transplante alogênico de medula óssea.
Doutora, o que é o Fevereiro Laranja?
Fevereiro Laranja é o mês que foi destinado à conscientização sobre as leucemias. É uma forma de trazer mais esclarecimento tanto para a população quanto para os profissionais de saúde que não estão diretamente relacionados ao tratamento e ao diagnóstico das leucemias. O objetivo é melhorar o processo do diagnóstico da doença com o encaminhamento e ganhar celeridade com o conhecimento de todas as partes.
Quando surgiu o Fevereiro Laranja?
Essa designação de meses com cores começou com o Novembro Azul, que foi criado para a conscientização do câncer de próstata, e todos os outros meses e cores vieram depois disso. Eu não sei precisar exatamente quando começou, mas o Fevereiro Laranja virou Lei no Estado de São Paulo, em 2019.
Qual o número de pessoas com leucemia anualmente no Brasil?
O dado reportado pelo INCA gira em torno de 10 mil novos casos de leucemias por ano. Porém, aqui no Brasil não há diferença entre casos de leucemias agudas ou crônicas. Além disso, o número provavelmente é menor que o real, já que a notificação dos casos não é obrigatória aqui. Por isso, quando nos referimos à incidência de novos casos, usamos os dados dos Estados Unidos, já que lá a notificação é obrigatória em todos os estados. Em 2021, foram contabilizados 60 mil novos casos de leucemias, englobando as leucemias agudas e as crônicas.
A leucemia é uma doença que atinge mais homens ou mulheres?
Em geral, as leucemias atingem mais os homens. Essa diferença varia, mas existe uma discreta predileção. Ainda não existe uma explicação porque isso acontece, pode ser relacionada ao estilo de vida, ou a algo biológico.
A leucemia pode ser evitada?
Talvez. Existem alguns fatores ambientais que podem contribuir para o aparecimento de uma leucemia. Alguns exemplos de situações que aumentam o risco de leucemia: poluição, uso do tabaco, o trabalhador rural que lida com o agrotóxico… Evitar essas práticas poderia evitar a doença, em teoria. No entanto, a formação de uma célula leucêmica é mais complexa do que simplesmente a exposição a um fator. Ainda há outros motivos que acontecem para o aparecimento da leucemia, inclusive a própria idade, que pode aumentar o risco de erros celulares.
Quais os principais sintomas de uma pessoa com leucemia?
Os principais sintomas de leucemia são: cansaço (um dos principais sintomas), infecção de repetição, palidez, sensação de falta de ar, febre, gânglios no pescoço ou debaixo do braço, aumento do volume abdominal por causa do aumento do baço e ou do fígado, sinais de sangramento, manchas roxas, boca com bolha de sangue, pontinhos de sangue nas pernas (petéquias). Esses não são sinais exclusivos das leucemias, podem ser manifestações de outras doenças também. A suspeição diagnóstica é clínica, mas aumenta quando o hemograma é realizado, porque pode detectar anemia, aumento ou redução dos leucócitos (glóbulo branco) e diminuição do número de plaquetas.
As chances de cura são grandes quando essa doença é detectada logo no começo?
Hoje em dia as chances de cura são maiores que já foram. Para alguns subtipos de leucemias agudas chegam a quase 100% de cura, para outros não chegam nem a 10%. No geral, no adulto, é uma doença que tem uma média de 40 a 50% de cura. O tratamento de cada uma delas é muito individualizado, tanto por questões do próprio paciente, por ter possibilidade de realizar quimioterapias mais intensas e até o transplante de medula, e também pelos fatores biológicos da própria leucemia.
Em relação às leucemias crônicas, elas não têm cura em princípio. A Leucemia Mieloide Crônica tem subgrupo de pacientes que ficam curados depois da suspensão do remédio, mas é um número pequeno. Para a Leucemia Linfocítica Crônica não há cura com os tratamentos aplicados hoje em dia, com exceção do transplante de medula óssea.
Em que estágio a doença se torna irreversível?
Na verdade, a doença se torna irreversível quando não responde ao tratamento. Esse é o critério de irreversibilidade para praticamente todas as doenças Onco-hematológicas. A irreversibilidade é estabelecida quando a doença para de responder ao tratamento proposto, seja em qual linha for.
Qual a importância dos meios de comunicação para essa conscientização?
Na minha opinião, os meios de comunicação têm um papel fundamental nessa conscientização, pois, com sua capilaridade, conseguem alcançar muitas pessoas ao mesmo tempo. Assim também é com as Mídias Sociais. Ainda, os profissionais da Comunicação têm a habilidade de transformar o que é falado dentro do jargão profissional em uma linguagem palatável e entendível, e isso faz toda a diferença. Percebo dentro do consultório que existe uma dificuldade, por mais que se explique, de se chegar à realidade do entendimento do paciente. Acredito que a existência de profissionais treinados para isso faz toda a diferença.
Quem pode ser o doador de medula óssea?
Os doadores de medula óssea voluntários, que não são da família do paciente, precisam se cadastrar no REDOME (Registro Nacional de Doadores Voluntários de Medula). Os voluntários devem ter mais de 18 anos e menos de 55 anos, não podem ter doenças graves: HIV, Hepatite C, Hepatite B, Câncer, Doenças Metabólicas descontroladas (Diabetes e Hipertensão) e Doenças Autoimunes. O principal é ser saudável, não ter nenhuma doença contagiosa e querer doar. Dentro da própria família, os doadores 100% compatíveis, os irmãos, também são selecionados com os mesmos critérios de saúde. Podem ser também os parentes parcialmente compatíveis, como pais, primos, filhos, pais ou meio irmãos.
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