Uma grande lacuna no planejamento das cidades brasileiras é a questão da acessibilidade: a falta de um olhar para as pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida. Foi pensando nisso que dois empreendedores fundaram a Inpatics, negócio de soluções tecnológicas aplicadas ao espaço urbano. A startup baiana nasceu com o propósito de tornar as cidades mais humanas, inteligentes e sustentáveis por meio da tecnologia, visando melhorar a relação das pessoas com o ambiente que as cerca. Assim, a empresa busca mitigar os desafios enfrentados diariamente pelas pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida. Criada em 2020, a startup de Salvador (BA) está em fase de preparação para a entrada no mercado de grandes investimentos. Recentemente, a Inpatics firmou parceria com a Dome Ventures, corporate venture builder voltada para govtechs que tem o intuito de transformar o futuro das instituições públicas no Brasil. Nos próximos meses, a empresa vai fornecer orientações e recursos para fortalecer a marca e auxiliar na estruturação da operação. Até o início do ano que vem, a Inpatics espera estar pronta para receber aportes. “Quando pensamos em adaptar uma cidade para uma pessoa com deficiência física ou mobilidade reduzida, não beneficiamos apenas esse público, mas acabamos melhorando a vida de todos”, afirma Macello Medeiros, cofundador da startup Inpatics.
Macello, qual é a visão da Inpatics em relação à acessibilidade nas cidades brasileiras e como vocês planejam alcançá-la?
Na verdade, essa é uma questão mundial. A falta de acessibilidade no espaço urbano pode ser vista pelos olhos mais atentos em qualquer cidade do mundo. No Brasil é um pouco mais grave a começar pela falta de profissionais dedicados a essa questão quando falamos de ordenamento urbano. Para se ter uma ideia, em alguns cursos de engenharia a questão da acessibilidade é abordada de forma transversal! Sendo que seria necessária uma disciplina obrigatória no currículo de todos os cursos de engenharia, arquitetura, urbanismo e transporte. Ou seja, o problema já começa por aí. Nós não temos a autonomia de resolver o problema da acessibilidade nas cidades, mas sim ser uma empresa aliada das administrações públicas que têm o poder e dever de resolver essas questões. Nosso objetivo é dar visibilidade aos problemas da acessibilidade das cidades e criar ferramentas que ofereçam mais segurança e autonomia no deslocamento das pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida pelo espaço urbano. Uma delas é a plataforma Izzistrit que gera rotas acessíveis customizadas.
Que tipo de soluções tecnológicas a Inpatics oferece para melhorar a acessibilidade urbana?
Atualmente estamos trabalhando na plataforma Izzistrit que gera rotas acessíveis customizadas para as pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida. Com ela, o usuário poderá identificar qual a rota mais acessível ao se deslocar de um ponto A ao ponto B levando em conta o tipo de deficiência (física, auditiva, visual e cognitiva), o recurso assistivo (cadeira de rodas, bengala, andador, muleta, próteses inferiores ou superiores), o modo de deslocamento (A pé, carro, táxi, transporte público, transporte por aplicativo, bicicleta). Para o gestor público, responsável direto pelas melhorias, entregamos um dashboard customizável com dados quantitativos e qualitativos das condições de acessibilidades dos equipamentos urbanos mapeados e classificados (ponto de ônibus, faixa de pedestre, semáforos, passarelas, ascensores/elevadores).
Quais são os principais desafios enfrentados pelas pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida no ambiente urbano brasileiro e como a Inpatics busca mitigá-los?
São diversos os desafios que essas pessoas enfrentam no dia a dia. Basicamente existem de três ordens: barreiras físicas/arquitetônicas, barreiras atitudinais e barreiras comunicacionais. Estamos focando em soluções para as barreiras físicas identificadas no espaço urbano, inicialmente relacionadas aos 5 equipamentos citados anteriormente. Temos já soluções pensadas para estabelecimentos comerciais que vão aparecer na nossa plataforma como “accessible frieldly”, ou seja, vai ser recomendada como um estabelecimento que atente às nomas de acessibilidade. Acreditamos que por meio da plataforma Izzistrit e suas duas entregas atuais, rotas acessíveis customizadas e dashboard, estamos de alguma forma mitigando alguns problemas desse tipo quando oferecemos rotas mais acessíveis e dados estruturados para a administração pública tomar decisões na implantação de políticas públicas visando sempre a economicidade.
Por que você acredita que é importante investir em soluções tecnológicas para melhorar a relação das pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida com o espaço urbano?
A tecnologia sempre esteve presente na vida do ser humano desde os primórdios, pensando aí em formas de aplicação de técnicas que são ainda anteriores às tecnologias. Portanto, quando pensamos em ferramentas tecnológicas que apresentam soluções para problemas das pessoas, estamos de alguma forma melhorando a vida dessas pessoas. No caso específico das pessoas com deficiência, estamos também trazendo para um protagonismo no uso dessas tecnologias uma vez que muitas delas são invisibilizadas pela sociedade. É também um nicho de mercado. Temos uma imagem estigmatizada da pessoa com deficiência como um “ceguinho pedindo esmolas” e não é verdade. São pessoas que muitas delas têm um alto poder aquisitivo.
Quais são os recursos e funcionalidades oferecidos pela plataforma Izzistrit para auxiliar a tomada de decisão das pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida no deslocamento pela cidade?
Atualmente estamos oferecendo na plataforma a funcionalidade de indicação de rotas acessíveis customizadas para os usuários e para os gestores, entregamos um dashboard com dados estruturados qualitativos e quantitativos sobre as condições de acessibilidade dos equipamentos urbanos.
Como a Inpatics utiliza os dados urbanos para criar soluções inovadoras que contribuam para a acessibilidade nas cidades?
Realizamos a coleta de dados de 05 equipamentos urbanos: pontos de ônibus, faixa de pedestre, semáforos, passarelas, elevadores/ascensores. Durante as inspeções in loco, utilizamos indicadores técnicos específicos de cada equipamento. Todos os indicadores obedecem a critérios referenciados nas normas e leis relativas à acessibilidade em equipamentos e edificações (ex. ABNT 9050). Cada critério é classificado como “Favorável”, “Aceitável” e “Crítico” e, a partir de um barema, o equipamento recebe a classificação final e aparece na rota indicada na plataforma com uma cor respectiva “Verde”, “Amarelo” ou “Vermelho”. A partir dessa indicação dos equipamentos na rota é possível verificar os obstáculos que eles enfrentarão no deslocamento, podendo optar por outra forma de deslocamento ou planejar com antecedência para evitar contratempos, constrangimentos e até acidentes graves.
Quais são os critérios considerados pela plataforma Izzistrit ao gerar rotas acessíveis customizadas para cada pessoa, levando em conta suas necessidades específicas?
Utilizamos os seguintes critérios para indicar a rota customizada: tipo de deficiência (física, auditiva, visual e cognitiva), recurso assistivo (cadeira de rodas, bengala, andador, muleta, próteses inferior ou superior), modo de deslocamento (A pé, carro, táxi, transporte público, transporte por aplicativo, bicicleta). Um algoritmo vai levar em conta esses critérios e, também, as características do trajeto, levando em conta os “custos” desse deslocamento (superfície, declive, calçada, distância).
Por que a parceria com a Dome Ventures é importante para a Inpatics e como ela ajudará a impulsionar o crescimento da startup?
A nossa entrada no time da Dome nessa etapa de validação e busca do Product Market Fit (PMF) na qual nos encontramos foi importante principalmente no que se refere à ampliação da nossa rede de contatos com prefeituras e agentes públicos para que possamos apresentar a solução e obter feedbacks, pensando numa venda à posteriori.
Quais são os principais objetivos da Inpatics para os próximos meses em relação à expansão e captação de investimentos?
Nosso foco atualmente está voltado na realização da primeira venda. Depois da realização de uma POC em um bairro de Foz do Iguaçu via sandbox regulatório do Parque Tecnológico de Itaipu (PTI), estamos fazendo uma aproximação com a prefeitura para levar a solução para toda a cidade. Iniciamos também algumas conversas com o Governo da Bahia para implementar a nossa solução no Serviço de Atendimento ao Cidadão (SAC) que eles oferecem em sua plataforma digital. Nesse caso, forneceríamos apenas uma API da solução. Depois da primeira venda e obtenção de faturamento, estaremos prontos para obter aportes de investimento visando a expansão para mais cidades.
Como a Inpatics pretende fortalecer sua marca e estruturar suas operações para estar pronta para receber aportes até o início do próximo ano?
Estamos basicamente trabalhando com redes sociais, buscando o engajamento do nosso público com a plataforma. É um trabalho difícil para uma equipe tão pequena (apenas 05 pessoas). Mas estamos conseguindo alguns bons resultados como um prêmio Internacional que recebemos em 2022 pelo International Forum of Design (IFDesign).
Qual é o impacto social que a Inpatics almeja alcançar com suas soluções tecnológicas e como isso beneficia não apenas as pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida, mas toda a população?
Até 2050, 70 % da população mundial estará ocupando as cidades. Entendemos que para atender a essa quantidade de pessoas é preciso pensar desde já qual infraestrutura urbana desejamos para que nós, enquanto idosos, e nossos filhos e netos possam usufruir do espaço público. Quando pensamos nas pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida, estamos também pensando em toda a população da cidade porque se geramos um benefício através da requalificação da infraestrutura, desde a criança até o idoso poderá ser beneficiado no final com a melhoria dos equipamentos nesses espaços. Estou falando de gestantes, obesos, idosos, pais com carrinhos de bebês que não estão necessariamente nesse espectro, mas são beneficiadas diretamente pelas melhorias no espaço urbano. Isso tudo para garantir um direito básico presente na Declaração Universal dos Direitos Humanos que é o direito de ir e vir.
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