Isabela Cerqueira é formada em Engenharia Industrial pelo Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca, atuou na L’óreal até 2020, quando criou a Good Vibres em out/2020 para auxiliar pessoas a (re)descobrirem a sexualidade de forma positiva e saudável. Desde março de 2022 é membro do Conselho Empresarial de Comércio Eletrônico e Varejo da Associação Comercial do Rio de Janeiro – ACRJ. Na entrevista exclusiva ao portal Panorama Mercantil ela aborda diversos assuntos ligados a sextechs, autoconhecimento sexual, bem-estar sexual, desmistificação de tabus sexuais, mitos sobre a masturbação, dicas sobre orgasmos, dicas sobre sextoys, rotina de PPcare, empoderamento feminino e empreendedorismo feminino. “Segui em frente com a ideia de que não poderia falar sobre sexo sem tabu se tivesse vergonha ou medo de encarar abertamente o tema nas redes com minha imagem. Outro desafio está em manter o crescimento considerando a censura das redes sociais. O algoritmo reflete a normalização da objetificação sexual, em contrapartida, restringe o acesso de informações sobre autoconhecimento e sexualidade positiva. Diversos conteúdos são barrados, deletados e o medo de ser banido das redes é algo constante para todos que trabalham com o ramo na internet. Todo o marketing precisa ser orgânico e não podemos usar as ferramentas pagas de alavancagem que o mercado, em geral, utiliza”, afirma.
Isabela, houve algum tipo de preconceito de outras pessoas quando você quis empreender vendendo produtos sexuais?
Ser mulher e decidir empreender com mercado erótico requer coragem e resiliência para encarar o mundo patriarcal que joga contra. Senti na pele a dificuldade de ter credibilidade com a empresa, por uma questão tanto de gênero e quanto etária, ainda mais agravada pelo ramo de atuação que escolhi. Por exemplo: Fornecedores duvidavam do poder de compra e não planejavam a produção conforme a demanda solicitada. Mulheres precisam mostrar muito resultado concreto para serem reconhecidas como empresárias. O marketing é difícil, o assédio é constante e conviver com julgamentos é rotina. Ainda assim, a motivação de poder ajudar milhares de pessoas pelo Brasil afora compensa e muito os desafios de empreender com esse mercado.
Lembra do momento crucial em que você decide deixar uma multinacional para criar a Good Vibres?
A Good Vibres nasceu da vontade de ajudar pessoas a vivenciarem sua sexualidade de forma mais saudável e feliz. Sempre gostei de falar sobre sexo e via isso como algo natural. Entretanto, quando trazia o tema em rodas de conversas com amigas, percebia que essa não era a realidade da maioria. A trava na comunicação por conta do tabu é reflexo de gerações de mulheres que não foram ensinadas a desfrutar do gozar, começando no âmbito sexualidade, mas refletindo também em diversos outros aspectos da vida. Por que não mudar esse cenário?
Quando veio a pandemia ainda trabalhava em uma multinacional, mas sempre tive vontade de empreender e deixar um legado maior para a sociedade. Felizmente nasci com privilégios, fruto do trabalho de gerações de mulheres da minha família e me sentia no dever de compartilhar com outras. O aspecto sexual era uma dor forte e podia ajudar. Em maio/2020, criei o @xxt.pwr, página no Instagram para falar sobre sexualidade de forma aberta, ampliando a roda de conversa com minhas amigas para quem quisesse ouvir e falar sobre sexo sem tabus.
A página foi crescendo de forma bem mais acelerada do que imaginava. Expus diversas vezes minha paixão em sex toys e como eles foram determinantes no meu processo de autoconhecimento sexual. Com isso, muitas pessoas passaram a pedir dicas de artigos eróticos com essa finalidade. Entretanto, tinha dificuldade de encontrar no mercado produtos de qualidade, acessíveis, que focassem no prazer próprio. Foi então que vi a oportunidade de tornar essa paixão em uma empresa. Em outubro/2020, sai do emprego CLT e abri, no quartinho dos fundos de casa, a Good Vibres, loja de bem-estar sexual.
Quais são as peculiaridades da sua empresa?
Um dos maiores diferenciais da Good Vibres é a humanização, tendo à frente da marca uma pessoa que se expõe na internet para falar sobre sexualidade de forma aberta e natural. O início foi bem difícil, pois, falar sobre um tema tão sensível infelizmente ainda implica em ouvir muitas críticas e assédio. Para muitos, era motivo de constrangimento me abrir para falar de um assunto que, em minha visão, sempre foi encarado como natural.
Ainda assim, segui em frente com a ideia de que não poderia falar sobre sexo sem tabu se tivesse vergonha ou medo de encarar abertamente o tema nas redes com minha imagem. Outro desafio está em manter o crescimento considerando a censura das redes sociais. O algoritmo reflete a normalização da objetificação sexual, em contrapartida, restringe o acesso de informações sobre autoconhecimento e sexualidade positiva. Diversos conteúdos são barrados, deletados e o medo de ser banido das redes é algo constante para todos que trabalham com o ramo na internet. Todo o marketing precisa ser orgânico e não podemos usar as ferramentas pagas de alavancagem que o mercado, em geral, utiliza. Para lidar com a restrição, temos que nos desafiar diariamente para construir ideias fora da caixa.
Sente que a mentalidade de quem consome esses produtos mudou no Brasil?
Hoje vejo o mercado erótico como um movimento que promove o autoconhecimento sexual com foco no bem-estar. Aos poucos nossa sociedade vem quebrando tabus sobre sexualidade e criando uma conexão com o prazer, que também é uma grande aliada da saúde. Esse movimento está transformando o mercado erótico em bem-estar sexual, e as mulheres têm sido protagonistas dessa mudança. Cerca de 80% dos consumidores desse mercado são mulheres.
Essa mudança está refletindo numa crescente constante nos números. A estimativa é de que o mercado chegue a valer cerca de US$ 125.100 bilhões em 2026, um aumento de mais de 12%, segundo análises feitas pela empresa de consultoria de marketing KBV Research.
A pandemia ajudou no boom do mercado das sextechs?
Sim. Durante o isolamento social o mercado erótico mundial aumentou o número de vendas pela internet. Apenas em 2020, o setor movimentou US$78 bilhões, de acordo com dados da Allied Market Research. No Brasil, o valor estimado de venda foi de R$2 bilhões, segundo levantamento da Abeme (Associação Brasileira das Empresas do Mercado Erótico e Sensual).
Quais são os sextoys mais vendidos pela Good Vibres?
Flex Vibrador e Sugador de Clitóris, Piggy Sugador de Clitóris Recarregável, Fancy Vibrador e Sugador de Clitóris.
O prazer feminino ainda é um tabu?
Sim, e enfrentar os tabus que envolvem a sexualidade para grande parte da sociedade é uma adversidade a ser superada. Com as pessoas ficando em casa na pandemia, iniciamos um momento de transição onde muitos começaram a repensar a forma como lidam com sua sexualidade, entretanto, esse ainda é um tema bastante sensível e vencer os tabus é uma longa caminhada em que vamos, aos poucos, conquistando espaço.
Como esses tabus estão sendo quebrados?
Do lado da Good Vibres, trabalhamos com uma comunicação leve e descontraída. Levando informações importantes com diálogo próximo do cliente, segurança e empoderamento.
Quais os principais mitos sobre o orgasmo feminino?
Orgasmo é mais fácil de alcançar com a penetração ou só é alcançado com a penetração; Se masturbar/gozar vai fazer você ter menos vontade de transar; É difícil a mulher alcançar o orgasmo ou homens tem mais facilidade de gozar; Se a mulher não goza na relação, a culpa é do outro (nós devemos ser as responsáveis pelo nosso prazer).
O que vislumbra para a Good Vibres em um curto prazo?
Agora, o foco é expandir. Tanto na discussão da sexualidade quanto nas vendas. Dei início a uma pós-graduação em educação sexual para ampliar o conteúdo educacional e acabei de lançar o primeiro produto da linha de produção própria – o lubrificante vegano e hidratante Senses Lubri. Em 2023, a meta é criar mais parcerias com grandes lojas de departamento e drogarias para lançar outros produtos autorais. Como reconhecimento do trabalho, foi convidada para ser membro do conselho empresarial de comércio eletrônico e varejo da Associação Comercial do Rio de Janeiro (ACRJ).
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