No final do século XIX, Londres era uma metrópole em rápida expansão e desenvolvimento, mas também era uma cidade marcada por profundas desigualdades sociais. No bairro de Whitechapel, localizado no leste da cidade, a pobreza extrema, o crime e a prostituição predominavam. Trabalhadores mal remunerados, imigrantes e mulheres marginalizadas compunham a maioria da população local, criando um ambiente ideal para o florescimento de atividades ilícitas. Esse cenário desolador se tornaria o palco de uma série de assassinatos que deixariam o mundo em choque e moldariam o imaginário popular para sempre.
As condições de vida em Whitechapel eram terríveis. As ruas eram estreitas, sujas e mal iluminadas, com uma densidade populacional impressionante. Os moradores enfrentavam doenças, fome e desemprego, o que levava muitas mulheres a se prostituírem para sobreviver. Esse contexto de degradação social e violência urbana serviu como um terreno fértil para o surgimento de um dos serial killers mais enigmáticos e violentos da história moderna: Jack, o Estripador. Suas vítimas seriam principalmente essas mulheres vulneráveis, que viviam nas sombras de uma sociedade negligente.
A imprensa da época amplificava as tensões sociais, com jornais sensacionalistas relatando crimes de maneira exagerada e espalhando o medo. Quando os primeiros assassinatos atribuídos a Jack, o Estripador, começaram a aparecer em 1888, a cobertura midiática ajudou a transformar esses crimes em um fenômeno público. A combinação de uma cidade em ebulição, um assassino sádico e a sede da população por histórias macabras criou o cenário perfeito para o surgimento de uma lenda que duraria mais de um século.
Entre agosto e novembro de 1888, pelo menos cinco mulheres foram brutalmente assassinadas no distrito de Whitechapel, em Londres. Essas vítimas, conhecidas como “as cinco canônicas”, eram mulheres que trabalhavam como prostitutas ou viviam em extrema pobreza. Seus nomes eram Mary Ann Nichols, Annie Chapman, Elizabeth Stride, Catherine Eddowes e Mary Jane Kelly. A brutalidade dos crimes, com os corpos sendo mutilados de maneira grotesca, chamou a atenção tanto das autoridades quanto do público. No entanto, o que diferenciava esses assassinatos de outros crimes da época era o nível de violência e o aparente conhecimento anatômico do assassino.
Jack, o Estripador, não apenas matava suas vítimas, mas as mutilava de forma metódica, removendo órgãos internos, como úteros e rins, com precisão cirúrgica. Isso levou muitos a especular que o assassino poderia ser um médico ou alguém com experiência em dissecação. A natureza dos ataques indicava que o assassino tinha uma motivação além do simples desejo de matar – ele parecia buscar um prazer macabro em desfigurar suas vítimas e deixar os corpos em exibição, como uma assinatura grotesca de sua obra.
Um dos aspectos mais intrigantes dos crimes foi a maneira como o assassino evitava ser capturado. Apesar das patrulhas policiais intensificadas em Whitechapel, Jack, o Estripador, conseguia escapar após cada crime, desaparecendo nas vielas escuras da cidade. Os policiais da época estavam mal equipados para lidar com esse tipo de criminalidade, e a ciência forense estava em seus primórdios. Assim, o assassino aproveitou as falhas nas investigações e o caos da metrópole para continuar seu reinado de terror.
Desde o início da série de assassinatos, várias teorias surgiram sobre a identidade de Jack, o Estripador. A ausência de evidências concretas levou a uma enxurrada de suspeitos, que iam desde médicos renomados até pessoas comuns. No entanto, devido à natureza anônima e elusiva do criminoso, nenhuma acusação foi confirmada. Entre os suspeitos mais notáveis estavam Montague John Druitt, um advogado e professor que se suicidou logo após o último assassinato canônico, e Aaron Kosminski, um barbeiro polonês que foi internado em um asilo psiquiátrico pouco depois dos crimes.
Muitos acreditam que o envolvimento de pessoas influentes na sociedade londrina tenha contribuído para a impossibilidade de capturar Jack, o Estripador. Uma das teorias mais populares é a de que os crimes foram cometidos por Sir William Gull, médico da família real britânica, como parte de uma conspiração para encobrir um escândalo envolvendo o príncipe Albert Victor, neto da Rainha Vitória. De acordo com essa teoria, as vítimas eram mulheres que sabiam demais sobre os segredos da realeza, e seus assassinatos foram planejados para silenciá-las.
Além dessas hipóteses, há a teoria de que Jack, o Estripador, pode ter sido uma mulher, conhecida como a “Jill, a Estripadora”. Essa ideia foi levantada por alguns investigadores devido à capacidade do assassino de se movimentar pelas ruas de Whitechapel sem levantar suspeitas. Segundo essa teoria, uma mulher teria mais facilidade em se aproximar das vítimas sem atrair a atenção da polícia ou dos moradores. Embora interessante, essa teoria não possui evidências concretas que a sustentem.
Durante o período dos assassinatos, a polícia e a imprensa receberam várias cartas que alegavam ter sido escritas pelo próprio Jack, o Estripador. Entre essas correspondências, as mais famosas são a carta intitulada “Dear Boss” (Querido Chefe), a “Carta do Inferno” e a “Saucy Jacky” (Atrevido Jacky). A autenticidade dessas cartas é amplamente debatida, mas elas desempenharam um papel importante em manter o público e as autoridades em alerta, além de alimentarem a lenda em torno do assassino.
A “Dear Boss” é uma das cartas mais notórias, enviada à Central News Agency em setembro de 1888. Nela, o autor se vangloria dos assassinatos e promete continuar matando até ser capturado. Assinada como “Jack, o Estripador”, esta carta é creditada por ter popularizado o nome do assassino, que até então era conhecido apenas como “o assassino de Whitechapel”. Embora alguns especialistas acreditem que esta e outras cartas possam ter sido falsificações criadas por jornalistas para aumentar as vendas de jornais, a dúvida permanece sobre sua veracidade.
Outra carta famosa é a “Carta do Inferno”, recebida em outubro de 1888, acompanhada de um pedaço de rim humano. O autor afirmava que o órgão havia sido retirado de uma das vítimas, e a carta tinha um tom ainda mais macabro que as anteriores. Esta correspondência trouxe um elemento visceral e grotesco para os crimes, reforçando a percepção de que o assassino não apenas matava, mas se deliciava com seus atos de crueldade.
A figura de Jack, o Estripador, transcendeu o tempo e o espaço, transformando-se em um ícone cultural. Seu nome está associado a uma longa lista de filmes, livros, séries de TV e peças teatrais. A brutalidade dos assassinatos, combinada com o mistério em torno da identidade do assassino, fez com que ele se tornasse um dos criminosos mais famosos da história. De certo modo, Jack, o Estripador, criou o arquétipo do serial killer moderno, moldando o imaginário popular em torno da figura de um assassino enigmático e impiedoso.
O cinema foi um dos primeiros meios a explorar o legado de Jack, com filmes como The Lodger (1927), de Alfred Hitchcock, que utilizou a atmosfera de medo e mistério em torno dos assassinatos. Ao longo das décadas, a figura do Estripador foi reinterpretada de diversas maneiras, desde adaptações fiéis aos eventos históricos até abordagens fantasiosas que misturam ficção com realidade. Filmes como Do Inferno (2001), estrelado por Johnny Depp, são exemplos dessa contínua fascinação com o assassino.
Além das representações na cultura popular, Jack, o Estripador, inspirou investigações acadêmicas e especulações infindáveis. Livros de não-ficção e documentários dedicados a desvendar o mistério têm sido lançados ao longo dos anos, com cada nova geração de investigadores buscando uma resposta definitiva para um dos maiores enigmas da criminologia. Entretanto, o fascínio pela lenda pode ser o que mantém a história viva, mais do que a necessidade de descobrir a verdade.
Com os avanços na ciência forense ao longo do século XX e XXI, novas tentativas foram feitas para identificar Jack, o Estripador. Exames de DNA, técnicas de perfis psicológicos e análises detalhadas dos relatórios de autópsia das vítimas permitiram que investigadores modernos propusessem novas teorias sobre a identidade do assassino. Uma das tentativas mais notáveis ocorreu em 2014, quando um estudo de DNA associou o suspeito Aaron Kosminski aos crimes. Embora os resultados tenham sido recebidos com ceticismo, eles reviveram o interesse na investigação. Outras abordagens modernas incluem o uso de perfis geográficos para determinar o provável local de residência de Jack, o Estripador.
Apesar de mais de um século de investigações, teorias e debates, a identidade de Jack, o Estripador continua um dos maiores mistérios não resolvidos da história criminal. Embora muitas hipóteses tenham sido levantadas, nenhuma evidência conclusiva foi apresentada para identificar com certeza quem foi o assassino. A falta de tecnologia forense avançada na época e a escassez de testemunhas confiáveis tornaram difícil capturar o criminoso na época, e o passar do tempo apenas complicou a investigação.
O fascínio com Jack, o Estripador, no entanto, não se limita à busca pela identidade do assassino. A lenda que se formou em torno de sua figura é alimentada pela combinação de fatores que envolvem os assassinatos: a brutalidade dos crimes, o mistério em torno do assassino, o contexto social de uma Londres dividida entre riqueza e pobreza, e a incapacidade das autoridades de resolver o caso. Tudo isso fez com que o Estripador fosse elevado ao status de mito, tornando-o um símbolo duradouro do mal e da obscuridade humana.
Mesmo que a identidade de Jack, o Estripador, jamais seja descoberta, sua história continuará a fascinar gerações. Ele se tornou uma parte do folclore urbano de Londres, e suas atrocidades serão sempre lembradas como um exemplo de terror urbano que transcende o tempo. Ao final, o verdadeiro poder do Estripador pode não estar em seus crimes brutais, mas no legado de mistério e fascínio que ele deixou para trás. O caso de Jack, o Estripador, é uma lembrança sombria de que, por vezes, o medo do desconhecido é o maior de todos os terrores.
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