Em 1986, Jaime Arôxa montou sua própria escola. Paralelamente a sua vida de professor, coreografa peças, filmes, novelas e shows. Em 1989/1990 coreografou e dançou em seu primeiro trabalho para a televisão na abertura da novela Kananga do Japão da extinta Rede Manchete, ganhando projeção nacional, o que lhe proporcionou diversos outros trabalhos e convites para o teatro e para a televisão. Estudou salsa em Cuba e na Costa Rica, fazendo intercâmbio na Escola Nacional de Cuba. Viajou por diversos países da Europa estudando dança de competição. Idealizou e realizou o I Encontro Internacional de Dança de Salão em 1995, no Hotel Glória (RJ), com representantes de várias partes do mundo, que marcou o início de um trabalho voltado para informação e reciclagem de professores de danças de par. Estuda tango há anos na Argentina, fazendo de Buenos Aires sua segunda cidade em uma época de sua vida. “Sou uma pessoa muito eclética. Gosto muito de todas as danças. Estudei em Cuba salsa, bolero… Estudei as coisas de Cuba porque eu acho que é um dos berços da dança, principalmente da Dança de Salão. Os cubanos têm uma maneira muito especial de dançar. A música cubana tem uma importância muito grande no movimento da dança, nos primórdios, na maneira de como tudo começou. Então Cuba é um lugar de referência para mim”, afirma o coreógrafo.
Você nasceu em Recife. O que ficou do garoto pernambucano que não se perdeu em nenhum momento no renomado coreógrafo que se tornou?
A gente traz consigo todas as experiências vividas em todas as idades. A minha adolescência até o início da minha fase adulta foi no Recife, que traz culturalmente uma carga muito importante que influenciou no meu comportamento, na minha maneira de pensar e no meu gosto musical. Ser um coreógrafo com uma origem pernambucana, me faz ser e ter um pouco da minha terra, do meu jeito, da minha cultura e dos meus trabalhos, na minha visão e na minha dança. A criança e o coreógrafo têm de certa forma a liberdade de brincar, como têm as crianças, como tem aquele garoto pernambucano que ainda está em mim.
Sua trajetória no mundo da dança, começa com a sua saída de Recife para o Rio de Janeiro na década de 80. Antes disso, a dança ou alguma outra arte, já lhe chamava atenção?
Não conhecia a dança. Vim a conhecer a dança através do John Travolta no filme “Os Embalos de Sábado à Noite” e das danças do Sidney Magal na época. Foi quando descobri que eu tinha um certo jeito para dançar. Já gostava de dançar com as mulheres dos cabarés, da noite. Gostava muito de dançar! Sempre gostei muito de dançar! Não sabia que a dança era uma profissão. Uma atividade que eu pudesse ganhar dinheiro e sobreviver com isso. Mas gostava de cantar também, e achava que ia ser cantor, que tinha talento e jeito para ser cantor. Então a arte sempre esteve em mim mesmo antes de ter sido escolhido pela dança, ou eu ter escolhido a dança, não sei essa ordem. O que eu sei é que a dança ficou sendo minha vida!
Em entrevistas passadas, você afirma que o seu trabalho mais marcante foi o realizado na abertura da novela “Kananga do Japão” na extinta TV Manchete. Por que esse trabalho ainda mexe com você?
Porque foi um trabalho poético, uma cena linda de dança. Talvez uma das cenas mais bonitas de dança que a televisão já mostrou. Ela é uma cena atemporal. Se você assistir hoje vai gostar do mesmo jeito. Tenho muita saudade daquela dança, daquele momento da minha vida. Profissionalmente foi o que mais me impulsionou. Consegui 700 alunos depois daquele trabalho, foi quando fiquei conhecido. Muita coisa da minha fama de hoje veio daquele trabalho. Claro, as Comissões de Frente, o Estandarte de Ouro… Tiveram vários momentos importantes na minha vida, mais acho que esse foi o começo de tudo e continua sendo. A estética pode ter envelhecido, mais a essência e a alma que ela tem nunca vai se perder. É uma referência pra mim.
Você já coreografou novelas, filmes, peças de teatro, peças na publicidade e participou de vários festivais. Como consegue manter a sua identidade única nessas mais variadas plataformas?
Cada dia experimento novos trabalhos, novas visões, novas funções dentro da dança. Não sou só da dança de salão, sou da dança como um todo. Então faço os mais variados tipos de trabalho para teatro, cinema e televisão. Como você falou, é difícil manter a identidade, mais acho que a dança é um universo aberto que possui características que são importantes como: musicalidade, precisão, dramaticidade, teatralidade… Enfim a minha dança tem qualidades muito pessoais e consigo ser bastante eclético dentro dela. Ela (dança) é uma identidade, uma marca, uma maneira de fazer, mas ela não é fechada. Ela não é engessada. Ela se aplica como um tecido, com o qual você pode fazer diversas roupas, diversas expressões de se vestir.
Estudando salsa em Cuba e tango na Argentina, o que mais lhe fascinou nesses dois estilos que marcam tão bem a identidade desses dois povos?
Sou uma pessoa muito eclética. Gosto muito de todas as danças. Estudei em Cuba salsa, bolero… Estudei as coisas de Cuba porque acho que é um dos berços da dança, principalmente da Dança de Salão. Os cubanos têm uma maneira muito especial de dançar. A música cubana tem uma importância muito grande no movimento da dança, nos primórdios, na maneira de como tudo começou. Então Cuba é um lugar de referência para mim. Buenos Aires é minha paixão pelo tango. Já fui a Buenos Aires muitas e muitas vezes. Buenos Aires já foi a minha segunda cidade em algumas épocas. Já fui jurado no Campeonato Mundial de tango, isso pra mim, foi uma honra. Tenho agora neste momento, um casal que está indo para a final do Campeonato Mundial na frente de mais de 127 países. Fico orgulhoso do resultado desses estudos feitos em Buenos Aires. Buenos Aires será sempre uma referência e um ponto de aprendizado pra mim na arte de dançar tango.
A arte deve ter algum papel social em sua visão?
Toda arte tem um papel social muito forte e muito importante que é mostrar dentro do social o poder do ritual. A arte é um ritual. E o social é diferente do ritual. A arte auxilia a flexibilizar o social, através desses rituais, mostrando ser uma faceta de todos, incluindo assim toda a população na possibilidade de ser artista também. Talvez não na mesma intensidade dos que produzem arte, mas na função dos que consomem arte e delas alimentam suas almas.
Uma frase sua: “A arte nasce na pobreza, porque é onde a alma se sobressai para suportar a vida”. Quais os cuidados que um artista deve ter, para não “perder a alma”, ao deixar se levar por outros meios efêmeros e passageiros que não deixarão um legado sólido?
O artista verdadeiro nunca vai perder a alma, porque é o que norteia o trabalho dele; é o que fez ele abandonar o sistema tradicional, social… Foi o que fez ele deixar de ser um médico, um advogado ou um engenheiro, pra ser um louco. Ser um artista que tem como a alma o seu corpo mais ativo. O ser humano tem três corpos: O corpo animal, o corpo racional e o corpo espiritual. No artista o corpo espiritual parece se manifestar de uma maneira mais efetiva, mais atuante, e ele passa a ter um certo domínio sobre isso. Por isso que muitos artistas enlouquecem, pois, estão profundamente ligados a alma, esquecendo a necessidade do corpo. Esquece a necessidade do animal, eles abandonam a razão às vezes de uma maneira tão forte que não tem mais volta. O artista não tem que se preocupar em perder a alma. Ele tem que se preocupar em não perder a razão. Esse é o meu pensamento. Agora se ele perdeu a alma é porque realmente ele não é um artista na sua essência.
Muitos dizem que suas palestras são interessantes e que você desenvolve vários temas utilizando antropologia, filosofia e sua experiência de vida. Fale um pouco mais sobre isso.
As minhas palestras são motivadas pelo público e sempre o público está muito ávido por ouvir coisas que lhes agreguem, que lhes transformem, que lhes impactam e lhes surpreendam. Então, ter um rico conhecimento cultural ajuda muito na hora de falar sobre a dança. A dança de fato é presente na história da humanidade em todos os tempos, em todas as épocas, de todas as formas e em todos os meios. Então a matéria-prima de uma palestra quando se fala de dança, é muito vasta e muito ampla. Por isso que gosto muito de ler e de estudar durante horas sem ficar entediado, e, ao mesmo tempo, fazendo um link entre as necessidades e objetivos pessoais de cada um. É fundamental, ser otimista também, pois, assim conhecemos e associamos nosso mundo interno com o nosso mundo externo, para podermos ter uma visão muito mais dançante, muito mais musical e muito mais feliz.
Alguns críticos disseram que seus espetáculos são sempre interessantes, pois, os seus dançarinos sempre têm uma musicalidade. Como você consegue fazer com que os seus dançarinos tenham essa musicalidade planejada por você para um certo espetáculo que já estava de certa forma coreografado em sua mente?
A música é divina. Ela tem uma função muito especial na vida de todos nós. Então desde que as pessoas começam a trabalhar comigo – isso não só sobre os bailarinos, mais meus alunos também – eles entendem que o texto espiritual do trabalho é a musicalidade. Bem entendido que não dou aula de música, dou aula de musicalidade. Não precisa você entender de música pra você ter musicalidade. Então uso muito essa natural manifestação que é a essência da dança e trato de colocar isso em minhas coreografias. Não conto as minhas coreografias, isso é uma coisa que faço do meu jeito. Nenhuma coreografia minha tem contagem. A contagem engessa um pouco os movimentos, então deixo que eles sintam o detalhe da música que quero. Eles têm que dançar os sonhos e não os números. Acho que esse sistema de coreografar através da melodia e dos acentos, é o que quero destacar. Escolho o que destacar dentro da música e assim eles terminam aprendendo isso e levando não só para as minhas coreografias, mas também para os seus trabalhos depois que eles começam a voar sozinhos.
Sendo um nome respeitado e um grande observador da cena, poderia nos dizer o que o mundo da dança no Brasil tem de melhor e de pior?
O de melhor é o jeito de ser brasileiro. A dança brasileira tem uma diferença das outras danças do mundo, porque ela tem uma mistura cultural muito forte e essa mistura está se ampliando cada dia mais. E isso faz com que tenhamos um diferencial na maneira de fazer até as mesmas coisas que eles fazem lá fora, mas com um sabor diferente pelo fato de sermos brasileiros. O bom da dança brasileira, é que ela é brasileira. O pior? Bom, no meio da dança existe uma certa fantasia, o ego infla muito e aí você perde um pouco a visão da realidade. As referências às vezes são muito curtas, com muita gente dançando, aí você encontra uma baixa qualidade em muitas áreas. A Dança de Salão é terrível nesse aspecto. Eu não gosto muito do ensino. Eu acho que a didática não é boa, e não forma. Tirando alguns exemplos e algumas exceções, mais se comparado ao movimento geral da dança no país, nosso índice de aproveitamento mundial e muito baixo. Nossas produções são poucas, então não somos o destaque mundial como poderíamos ser. Somos muito mais pelo talento, e por sermos brasileiros que por disciplina, e pela educação que a dança exige. De novo não é geral, mais é uma maioria que acho que ainda pode evoluir mais se observar as exigências que a dança cobra.
Quando pesquisamos sobre Jaime Arôxa, sempre é dito que você é um dos maiores profissionais de dança em nosso país. Como é continuar trabalhando e buscando a excelência depois de tantos anos no seu metiê que lhe trouxe reconhecimento tanto em nosso país como fora dele?
Você se manter atual, se reinventando e conseguindo cada vez mais trabalho, sendo chamado pra fazer mais coisas, e matar um leão durante todos os dias é difícil à beça, mais acho que tenho conseguido. Esse com certeza é o maior desafio da minha carreira. Me manter e usar toda minha experiência para continuar sendo uma referência, isso é firmar minha consagração.
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