Jaqueline Weigel é futurista profissional, estrategista de Negócios, especialista em Foresight e Futures Studies, em Desenvolvimento Humano, Liderança Exponencial e Gestão Positiva de Mudanças, além de CEO da W Futurismo. Pesquisa futuros em diferentes escolas globais e estuda Pós & Neohumanismo. É Keynote Speaker, pesquisadora, instrutora de alta liderança, expert no método Causal Layered Analysis e participa das comunidades de Futures Literacy da UNESCO, da World Futures Studies Federation e Association of Professional Futurists. É uma das pioneiras na aplicação das metodologias de Estudos de Futuros e Foresight Estratégico no Brasil. “Trabalhar em rede é muito bom. Muito construtivo, muito democrático, mas tem que ser de verdade. Penso que o ego das pessoas ainda é muito inflamado. Elas interpretam o que é dito de acordo com o modelo mental delas (muitas vezes aquilo nem foi dito). Temos um senso raivoso de inclusão que não acho construtivo para nenhuma inclusão, já que quando ela é imposta não é natural, não vem de dentro. Penso que a liderança está muito ruim e o trabalho em rede requer uma liderança remodelada, uma liderança firme e, ao mesmo tempo, generosa e multifacetada. Essas são as três coisas que talvez aponto. O trabalho em rede pode ser um grande caos se ele não tiver organização, se ele não tiver uma certa ordem e se ele não tiver um bom-tom de liderança”, afirma.
Jaqueline, teremos uma sociedade mais espiritualizada no pós-Covid?
O termo espiritualidade se confunde muito com religião e, na verdade, ele se traduz como a busca do sentido da vida, o senso de propósito, de pertencimento, a vontade de realização de algo maior do que nós mesmos e esse senso talvez de: Por que estamos aqui? Pra aonde vamos? Qual é a nossa grande missão coletiva? Julgo que estamos vivendo sim uma era de bastante despertar de consciência, fazendo com que as pessoas questionem tudo que existe no mundo. Vejo que isso vem numa crescente nos últimos 20 anos e que se intensificou muito agora com o Covid-19. Penso que ele [Covid] nos trouxe um momento de recolhimento, de reflexão, de questionamento ainda mais forte (eu não penso que esse movimento começou no Covid, mas penso que ele acelerou e intensificou). Talvez tenhamos sim num futuro mais imediato, num momento pós-Covid, uma sociedade mais consciente a caminho de um desenvolvimento espiritual um pouco maior, onde talvez as coisas daqui a algumas décadas não tangíveis sejam mais importantes do que essa materialidade que construiu uma sociedade que não é saudável.
Você já falou sobre uma nova espécie humana. Quais as características mais destacáveis dessa nova espécie?
Eu me refiro aqui ao Neohumanismo, o humanismo que se define como a colocação do ser humano no centro das discussões. Acredito em futuros humanos. Trabalho por futuros humanos não robóticos e nem tecnológicos, sabendo que a tecnologia e a robótica vão fazer parte, mas penso que o grande protagonista do planeta assim como o maior predador é o ser humano. Quando me refiro a uma nova espécie, julgo que a partir de 2050 ou até antes, vamos ter um novo tipo de ser humano habitando o planeta, como humanos aumentados pela tecnologia, humanos sim mais espiritualizados (mais livres), talvez com características físicas diferentes, uma vez que vamos poder muita coisa com a tecnologia. Penso que vindo de dentro para fora, essa “nova espécie” é uma espécie que olha o mundo de uma forma mais igual.
O Neohumanismo de Sarkar, diz que enquanto ficarmos dividindo as pessoas por cor, raça, status social ou geografia, não conseguimos pensar o bem para todos e que a sociedade só anda para frente se pensarmos no que é bom para todo mundo. A principal característica interna dessa nova espécie (que chamo assim) é mais consciência, mais colaboração, mais senso de responsabilidade, mais noção que tudo afeta todo mundo e menos egoísmo talvez. Indo mais para fora, vejo trabalhadores livres, cidadãos planetários (que pensam no planeta e agem localmente), pessoas que fazem grande uso da tecnologia e que vão romper barreiras desde vencer doenças graves como Aids e Câncer até paralisia… temos uma tecnologia vindo que nos permite imprimir órgãos humanos. Então, penso que a biotecnologia vai mudar (muito) nosso jeito biológico de ser.
Quais as principais falhas que o mundo em rede terá que rever?
Trabalhar em rede é muito bom. Muito construtivo, muito democrático, mas tem que ser de verdade. Penso que o ego das pessoas ainda é muito inflamado. Elas interpretam o que é dito de acordo com o modelo mental delas e muitas vezes aquilo nem foi dito. Temos um senso raivoso de inclusão que não acho construtivo para nenhuma inclusão, já que quando ela imposta não é natural, não vem de dentro. Penso que a liderança está muito ruim e o trabalho em rede requer uma liderança remodelada, uma liderança firme e, ao mesmo tempo, generosa e multifacetada. Essas são as três coisas que talvez aponto. O trabalho em rede pode ser um grande caos se ele não tiver organização, se ele não tiver uma certa ordem e se ele não tiver um bom-tom de liderança.
O que virá depois da Era Digital em sua visão?
Eu já falo do pós-moderno, do pós-digital, do pós-gestão desde setembro de 2018. A Era Digital é a primeira era de 20 anos de mudança. Este ano entrei falando de automação e de mobilização sem termos Covid. Ser digital agora é uma premissa. Negócios que não forem digitais, profissionais que não forem digitais (e isso tem a ver com modelo, estrutura e mindset), não terão muito espaço daqui para frente. Penso que estamos entrando agora na pós-gestão, no pós-moderno, nesse mundo onde a experiência do cliente vale, onde os investidores olham o compromisso das empresas com o meio ambiente, com a governança e com a parte social. Acredito que 2020 é um ano de digitalização acelerada e depois começamos o mundo num novo tom. Muita gente está dizendo que não voltará no que era antes, porque não acha nem interessante.
A transformação digital (acelerada pelo novo coronavírus) está indo para a direção que imaginava?
Penso que sim. Quem estuda sinais de mudanças sabe que essa transformação está atrasada (especialmente no Brasil). As empresas que ainda não olharam para isso com afinco vão ter perdas significativas (quando não extinção) e tudo que é feito de um jeito acelerado acaba tendo um impacto mais negativo do que realmente precisaria. Defendo sempre o pensamento antecipatório e a ação antecipatória. Por isso que estudamos futuros. Estudamos futuros plurais, estudamos sinais de mudança para que você possa considerar várias hipóteses e criar uma estratégia de longo prazo que permita ações de curto prazo mais estruturadas. Quem faz isso, já está com a transformação digital em dia e talvez tenha menos problemas agora. Muitas empresas ainda não entenderam o que é a transformação digital.
Ela não é inserção de tecnologia em processos que existem… ela é um novo negócio dentro do negócio: mais enxuto, mais inteligente, mais plugado em tecnologia, com menos pessoas, com mais otimização e poder de escala. Vejo que as pessoas não compreendem ainda que a transformação digital começa pela revisão do modelo de negócio. Pela criação de uma ambição de impacto social. Por abraçar um desafio global, criar um propósito, se colocar a serviço da sociedade e depois revisar a estrutura do negócio, revisar o modelo financeiro e começar um novo negócio dentro do negócio que existe. Os dois são diferentes. Acho difícil uma empresa linear transformar numa digital, já que normalmente ela começa a incubar o modelo digital e dá um salto depois e no novo modelo ela trabalha de um jeito completamente diferente.
Como os líderes serão forjados nesse novo cenário?
Acabamos de lançar inclusive um ebook com um estudo chamado “O Reset da Liderança”. Estamos falando da transformação da liderança há pelo menos 15 anos… se não mais. Aquele líder autoritário, com comando-controle, que tinha que ser exemplo, que sabia tudo, que a empresa dependia dele, que tinha a equipe trabalhando para ele e que trabalhava para o acionista… esse líder não existe mais. Existem pessoas insistindo nisso ainda porque o pessoal não gosta muito de abraçar o novo. Há muitos anos estamos ensinando líderes a fazer mais perguntas do que dar respostas; a trabalhar mais perto dos liderados e não com essa distância; a engajar pessoas e não a dar ordens… Nesses últimos anos falamos da liderança digital, falamos da liderança exponencial e penso que agora temos um reset.
Quem não entendeu nada ainda, dificilmente vai se dar bem numa posição de liderança daqui para frente, porque o novo líder é transversal, híbrido, tendo vários modelos dentro de um modelo só. Ele tem um padrão de funcionamento completamente diferente. Ele não trabalha para acionistas e sim para uma causa. Ele monetiza por causa disso. Ele engaja pessoas. Ele trabalha com mini líderes. Ele trabalha na frente, do lado, atrás e aonde precisar para aquele projeto acontecer. Julgo que ele tem características muito diferentes do que conhecíamos de liderança até agora. Quem já tem esse modelo, já está aí ocupando posições. As pessoas que estão em transformação precisam acelerar… mais aquele velho modelo definitivamente agora ficará para trás!
O tangível e o não tangível terão novos valores?
Creio que sim. Estamos vivendo isso há um bom tempo. Muitos anos atrás não falávamos de emoções no ambiente corporativo e hoje falamos de inteligência emocional, capacidade cognitiva, soft skills… e nessa nova década a capacidade cognitiva, a inteligência emocional, a intuição, o senso de comunidade, está tendo muito mais valor do que qualquer conhecimento que hoje está aí nas mãos de qualquer um. O tangível é a forma do não-tangível se manifestar. Quando não temos resultado é porque uma série de coisas invisíveis não estão acontecendo e aquilo ali não traz o resultado que queremos. O mundo precisa das duas coisas. Nem o abstrato apenas e, nem só essa materialidade que posso medir, pegar… A régua do novo mundo não é a produtividade. Não é o quanto de coisas você tem; quantos metros você tem; quantos empregados você tem; não é mais essa. A nova régua do mundo tem a ver em qual é o seu papel como empresa ou como cidadão no conserto desse novo planeta. Se você mandar muito bem por consequência vai monetizar, ter sucesso, ter reconhecimento, ter engajamento, enfim…
A autoeducação será um novo caminho?
Já é. Fico vendo muitas vezes RHs que ainda lutam muito por esse modelo patriarcado e penso que tudo isso precisa mudar. Cada adulto precisa ser responsável pela sua vida, pela sua carreira, pelo seu desenvolvimento. Os pais nos acompanham até um certo período, depois a bola está conosco. Tem muita criança disfarçada de adulta e que fica esperando a empresa, o Governo, o pai, o tio, o chefe… isso está totalmente fora! As crianças já estão se alto-educando. Então, nós adultos precisamos assumir a nossa responsabilidade. O resultado é proporcional a dedicação que você tem no seu alto-desenvolvimento.
A educação tradicional ainda terá espaço?
Acredito que não. Agora em setembro quando as escolas reabrirem será um choque porque aquela escola que está na pauta há anos, teria que ter mudado (vimos o quanto os professores foram criativos, mas o quanto o sistema ainda ruim). As crianças já não aguentam mais essa coisa que não responde ao que elas vivem na realidade. Então, penso que a educação tradicional já era! Assim como penso que universidades não capacitam mais para esse mundo que está aí. Vejo um futuro completamente diferente para educação. Mais disruptiva… Não penso que mais tecnológica. Acredito que mais holística e mais humana. É nisso que acredito!
O futuro requer uma mudança no hoje. Que pilar é fundamental para a construção desse futuro?
Sim. Começamos a construir os nossos próximos dez anos agora. Você desenvolve o pensamento orientado para o futuro. O que faço como disciplina acadêmica se chama Foresight, que é experimentar coisas no presente sem medo e sem garantias, estando sempre de olho nos sinais que estão sendo emitidos pelo futuro e das mudanças que estão se formando. Alguns são fortes, alguns são fracos, mas a maioria das pessoas são treinadas para manter o passado e dar uma “melhoradinha” no presente. Penso que o grande pilar daqui para frente é a gente saber… É a gente ter o nosso modelo mental voltado para o futuro para que no presente posamos fazer coisas antecipatórias.
O futuro não é um mais um acaso. A pandemia não é uma surpresa para quem estuda sinais de futuro. É para a maioria da população porque a maioria da população vive distraída e não quer olhar para o que está se anunciando. Não quer fazer mudanças e não quer abraçar o desconhecido. Abraçar a incerteza agora é o único caminho que temos. 87% das pessoas não querem olhar e nem falar do futuro, mas agora isso será básico, essencial e mandatório. Então, como pilar essencial a mudança está no nosso modelo mental. Não é o que nós sabemos. Não é o que nós fazemos. Está na forma de pensar e na forma de enxergar o mundo para mudarmos a forma como agimos.
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