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Jean Boghici: o marchand foi um desbravador

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Jean Eugene Constantin Boghici foi mais do que um simples colecionador e marchand; ele foi um desbravador do cenário artístico brasileiro. Nascido na Romênia, Boghici trouxe consigo uma paixão pela arte quando se mudou para o Brasil, tornando-se um pioneiro no mercado da arte no país.

No início da década de 1960, Boghici começou a adquirir obras de arte, construindo um acervo que abrigava algumas das peças mais importantes de artistas brasileiros. Seu caminho até o Brasil foi marcado por uma jornada improvável. Após estudar engenharia na Romênia, aos dezenove anos, ele decidiu mudar-se para Paris, onde viveu sem documentos, compartilhando um quarto de hotel com figuras notáveis como o escritor James Baldwin e o antropólogo Henri H. Stahl.

A vida de Boghici no Brasil começou de maneira desafiadora. Sem dinheiro e documentos, ele passou algumas noites na praia de Copacabana antes de se estabelecer em Belo Horizonte. Inicialmente, trabalhou como eletricista na Casa Isnard, onde teve a oportunidade de conhecer o renomado artista Alberto da Veiga Guignard. Sua jornada o levou até Governador Valadares, em Minas Gerais, onde seu olhar artístico foi influenciado pelas condições locais de miséria. Foi nesse período que desenvolveu um gosto pela arte, inspirado por uma exposição de Vincent van Gogh que havia visto em Paris em 1948.

Retornando ao Rio de Janeiro, Boghici iniciou uma nova fase de sua vida, montando uma oficina de conserto de televisões e trabalhando como vitrinista. Seu envolvimento com as artes cresceu quando se tornou sócio da Petite Galerie, onde teve sua primeira experiência como galerista, organizando exposições de artistas como Pedro Paulo Leal.

Em 1961, após uma breve passagem pela televisão, onde participou do programa “O céu é o limite”, Boghici inaugurou a Galeria Relevo. Esta galeria tornou-se um marco importante no cenário artístico carioca. Seus sócios, incluindo Jonas Prochovnic e Eryma Carneiro, estavam conectados por relações que transcendiam o profissionalismo. A galeria prosperou, vendendo obras de artistas consagrados e apostando também em talentos emergentes, como Antônio Dias, Rubens Gerchman e Wanda Pimentel.

A década de 1960 foi marcada por eventos significativos na carreira de Boghici. A exposição Opinião 65, organizada por ele e pela marchand Ceres Franco, trouxe visibilidade para jovens artistas brasileiros e estrangeiros, consolidando-se como um marco na história da arte contemporânea no Brasil. O marchand também enfrentou desafios, como a exposição de Antônio Dias em 1964 que não teve sucesso, levando-o a exportar as obras para Paris, onde foram vendidas com êxito.

No entanto, o cenário político e a dificuldade em renovar contratos levaram ao declínio da Galeria Relevo por volta de 1967. Boghici fechou a galeria em 1969 e embarcou em uma jornada de viagens ao redor do mundo. Viveu em Paris, estagiou na Escola do Louvre e trabalhou na galeria Krugier, em Genebra. Suas jornadas incluíram Nova Iorque, Moscou, Bélgica e Romênia, onde adquiriu obras de artistas brasileiros e de Joaquín Torres-García.

De volta ao Brasil em 1979, Boghici inaugurou a Galeria Jean Boghici. Ao longo dos anos, a galeria apresentou exposições notáveis, homenageando artistas como Joaquín Torres-García e Mário Pedrosa. Sua paixão pela arte também o levou a organizar eventos fora da galeria, abrangendo temas desde o realismo poético do Rio de Janeiro até exposições sobre a natureza.

Em 1 de junho de 2015, Boghici morreu no Hospital Samaritano, em Botafogo, na Zona Sul do Rio de Janeiro. Aos 87 anos, ele foi vítima de uma embolia pulmonar. Deixou viúva Geneviève Rose Marie Coll Boghici e duas filhas, Sabine Coll Boghici, falecida este ano em circunstâncias estranhas (em 2022 ela foi acusada de ter roubado quadros de sua mãe), e Muriel Coll Boghici. Foi sepultado no jazigo perpétuo da família no cemitério de São João Batista, onde já repousava anteriormente sua sogra Geneviéve Rosa Ágathe Roux Coll, falecida aos 104 anos em 2012. Jean Eugene Constantin Boghici deixou para trás um legado, sendo lembrado não apenas como um marchand, mas como um visionário que contribuiu significativamente para a cena artística brasileira. Sua ousadia em promover artistas inovadores e sua busca incansável pela expressão artística continuam a inspirar gerações subsequentes de artistas e amantes da arte.


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