Convidado para representar o Brasil no prestigiado Festival Internacional de Avingnon, na França, o ator João Paulo Lorenzon desenvolve desde 2008, um trabalho de transposições literárias para a cena teatral. Nos últimos 7 anos, realizou 7 espetáculos todos de caráter poético e experimental. Seus espetáculos são: “Memória do Mundo” (2008), inspirado no poeta argentino cego Jorge Luis Borges, “O Funâmbulo” (2009), de Jean Genet sobre a vida do equilibrista de circo, “De Verdade” (2010), de Sandor Márai, sobre os fracassos amorosos, “Água” (2011), realizado dentro de um aquário humano com 3 toneladas de água, “Eu Vi o Sol Brilhar em Toda a Sua Glória” (2012), e “Holher Mumem”, sobre a fusão amorosa, num cenário de 2 toneladas de terra. Nesse mês de julho ele leva o espetáculo “Nijinsky – Minha Loucura é o Amor da Humanidade” para o Theatre du Roi Rene. São 23 apresentações para uma plateia de 200 lugares, onde estarão presentes, curadores e espectadores do mundo todo. “Na arte creio que não haja melhor ou pior, como no esporte. Creio apenas que a vida abriu este espaço para mim, de poder me exercitar numa série de trabalhos solos, sem nunca saber que existira o próximo. (…) O teatro é a vida, a transformação. Somos todos os homens e o teatro nos lembra disso. Voltar aos nossos traumas, enfrentá-los e depois até mesmo amá-los, dá novo sentido à vida”, afirma o ator.
João Paulo, gostaríamos que falasse como foi o começo de sua carreira até chegar nos dias atuais.
Em primeiro lugar, um prazer poder compartilhar e dividir experiências. Sempre uma grande oportunidade poder trocar, tocar e ser tocado. Vamos lá:
Fiz direito na PUC (Pontifícia Universidade Católica) e, ao mesmo tempo, uma série de formações profissionais em teatro. Mas foi quando entrei para o Núcleo de Teatro Experimental do SESI, coordenado, na época, pela inesquecível Isabel Setti, que comecei a compreender o meu caminho e o sentido que essa escolha refletiria em minha vida. Impulsionado por ela, conheci uma série de mestres e diretores a partir deste momento. No fundo, cada espetáculo se for vivido com o coração, acaba sendo uma escola inteira. Deste instante até aqui sempre tive a mão afetuosa de Isabel e também do diretor teatral Antônio Januzelli (Janô), outro grande mestre que me acompanha na jornada da vida.
Por que você acredita que é considerado o melhor ator de monólogos do Brasil?
Na arte creio que não haja melhor ou pior, como no esporte. Creio apenas que a vida abriu este espaço para mim, de poder me exercitar numa série de trabalhos solos, sem nunca saber que existira o próximo. Fui sempre buscando me aperfeiçoar e estar cada vez mais vivo, mais íntimo, humano e permeável. Vou repetir o que entendi do que Isabel me disse: “Não se trata de se apresentar para os outros, mas para estarmos juntos com os outros. O monólogo é quase um estado de oração, de contar um segredo, uma confidência…”. Amo os monólogos, pois, para mim, trata-se de uma íntima e profunda conversa com o outro. Um grande encontro.
Como é para uma pessoa que se afogou na infância, fazer um monólogo desafiador como foi “Água?”.
O teatro é a vida, a transformação. Somos todos os homens e o teatro nos lembra disso. Voltar aos nossos traumas, enfrentá-los e depois até mesmo amá-los, dá novo sentido à vida.
Falando ainda do espetáculo “Água”, você diz que a água funcionava como um personagem. Fale mais sobre essa sua visão particular.
A água retrata, entre muitas coisas, o feminino. Um homem envolvido neste corpo líquido, transbordante. Neste espetáculo, o trabalho do ator resultava das reações físicas provocadas pela água, como outra personagem, que te afoga, te abraça, te acaricia, te envolve, te faz flutuar…
Muitos críticos, consideram o seu monólogo “Memória do Mundo”, inspirado no universo do escritor argentino Jorge Luis Borges, como o mais difícil e complexo dos seus trabalhos. Tem essa mesma visão?
Foi o primeiro solo e foi ele que abriu todos os espaços e convites para os outros que vieram na sequência. Não é o melhor para mim nem o pior, mas é aquele que fez com minha vida mudasse. Foi um divisor de águas artístico e humano. Um portal. Existia o João antes e depois da “Memória do Mundo”.
Algumas pessoas que assistiram o seu espetáculo “Nijinsky – Minha Loucura é o Amor da Humanidade”, afirmam ter visto um dos mais completos espetáculos de teatro dos últimos tempos. Como foi entrar nesse mundo intenso de paixão e loucura do coreógrafo e bailarino russo?
Nijinsky é uma fera indomável. Quando a gente se confronta com figuras assim, não se pode sair ileso. Há questionamentos sobre a vida que não te deixam mais em paz depois de encontros assim. A grande força do espetáculo, para além do trabalho dos atores, está na imagem de uma cama elástica que materializa as quedas gigantes de um gênio louco e os voos sobre-humanos de alguém que nunca desistiu de sonhar.
Gostaria que falasse um pouco sobre as atividades da Escola de Teatro João Paulo Lorenzon.
A vida nos tempos de hoje nos convida a endurecer e a acelerar. O Espaço Mágico – Escola de Teatro João Paulo Lorenzon se propõe a trafegar na direção contrária. Através de encontros semanais, nos quais nossos anjos e demônios são postos para fora, busco fazer com que cada pessoa reacenda sua essência. Gostaria de reacender a chama de cada um. Enquanto outras escolas de modo geral buscam resultados, vou além da técnica. Minha intenção é a transformação interna. Acredito que nosso dever é salvar nosso sonho.
Como você sente a recepção de pessoas de outros países, com espetáculos dirigidos e encenados por brasileiros, afinal você foi convidado para representar o Brasil no mais importante evento do teatro mundial, o Festival Internacional de Avingnon na França?
Representar o Brasil no Festival mais importante do mundo, poder apresentar Nijinsky por 23 dias seguidos, num exercício generoso de descoberta e apuração, só pode ser mesmo um sonho. Esse espaço de troca, de encontro, essa chance de ouvir árabes, russos, tailandeses, alemães, argentinos é como estar dentro de si e viajar para todas as partes do mundo ao mesmo tempo.
Qual foi o principal aprendizado que obteve em sua vida, realizando peças no teatro experimental?
Em minha trajetória, busquei um caminho autoral, artesanal, experimental. Apostei nos riscos, em me debruçar sobre o desconhecido. Teatro é vida, é a possibilidade da transformação, de sonhar e me tornar sonho em outras cabeças.
“O voo é o destino de quem não desistiu de sonhar”; frase de Nijinsky. Transpondo para sua carreira, existe algum voo que pretende dar para a realização de algum sonho ainda não realizado?
O voo de estar sempre em busca de mim e, ao mesmo tempo, em encontro com o outro. Como diz o mestre Janô: “Não há nada mais belo do que estarmos juntos”.
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