Jorge Arbache é economista. Tem experiência nas áreas governamental, setor privado, organizações internacionais e academia. Tem se dedicado às agendas de crescimento econômico e de políticas setoriais, incluindo competitividade, produtividade, inovação, tecnologia, educação, comércio internacional, investimentos e competição. É professor de economia da Universidade de Brasília. Foi assessor econômico da presidência do BNDES entre 2010 e 2014. Antes de se juntar ao BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), era economista sênior do Banco Mundial em Washington, DC, onde, dentre outras funções, dirigiu várias edições do relatório anual do Banco Mundial para a África. É colunista do jornal Valor Econômico. O economista falou sobre as diversas questões que provocam impactos de curto e médio prazos ao crescimento econômico sustentável do Brasil, como a economia do conhecimento, a inflação, os problemas com o setor de serviços (que ao seu ver, foi inflado durante o período de aumento de renda), a recente perda do grau de investimento do nosso país, entre outros assuntos relevantes para o cenário nacional. “Uma legislação trabalhista é mais ou menos custosa em relação ao valor adicionado dos trabalhadores e da competitividade da economia. Algumas economias africanas têm legislação trabalhista muito flexível e nem por isto elas se desenvolveram”, afirma o economista.
Se as leis trabalhistas fossem flexibilizadas nesse momento em nosso país, haveria um ganho real para a economia nacional nesse sentido em quanto tempo?
Uma legislação trabalhista é mais ou menos custosa em relação ao valor adicionado dos trabalhadores e da competitividade da economia. Algumas economias africanas têm legislação trabalhista muito flexível e nem por isto elas se desenvolveram. A Alemanha tem uma legislação mais complexa e favorável aos trabalhadores e nem por isto a economia padece de baixo crescimento. É preciso pensar a nossa legislação dentro de um contexto maior de transformação produtiva e de capital humano. E é preciso ajustá-la para a realidade tecnológica e de competição global que caracteriza o século XXI.
Está havendo desindustrialização ou a indústria está perdendo dinamismo como alguns economistas dizem?
No nosso caso, está havendo desindustrialização, infelizmente. E, ao mesmo tempo, a indústria está perdendo o dinamismo. A razão básica é que a densidade industrial não esteve no foco das nossas políticas públicas e privadas. Mas a economia brasileira ainda oferece muitas oportunidades para o desenvolvimento industrial. É preciso mirar na tecnologia, produtividade, competitividade, agregação de valor e na participação nos mercados globais.
A atuação do BNDES deve ser revista?
Acredito que o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), instrumento essencial para o desenvolvimento do país, deveria focar em tecnologia, inovação, eficiência, produtividade, exportação, energia e meio ambiente.
O senhor sempre fala em suas entrevistas e artigos, sobre uma inovação institucional. Poderia nos explicar de uma forma didática, o que seria essa inovação institucional?
Inovações tecnológicas são transformadoras – vide o que é o século XXI. Mas as inovações institucionais são ainda mais rompedoras, em especial para países que estão na armadilha da renda média e que enfrentam muitas grandes dificuldades para crescer, como é o nosso caso. As inovações institucionais buscam soluções regulatórias novas, mais criativas e adaptadas para a realidade, muitas vezes baseadas em incentivos e no comportamento das pessoas e dos sistemas, tais como eles são. Não se tratam, necessariamente, de grandes modificações legais/regulatórias, mas, muitas vezes, de medidas pontuais, inteligentes, pragmáticas e que são capazes de desobstruir gargalos. Um exemplo muito simples, bastante específico, mas revelador aconteceu em Uganda: depois que passaram a colocar diariamente nos portões das escolas os nomes dos professores presentes, o absenteísmo entre docentes caiu para menos da metade e o desempenho dos alunos aumentou.
Temos uma população sedenta por consumo (como bem disse em 2014). Esse consumismo tem atrapalhado a nossa economia em quais sentidos ao longo do tempo?
O consumo reprimido é elevado em parte em razão do perfil de renda baixa de boa parte da população. De moradias a roupas, remédios e alimentos, muitos querem melhor padrão de vida. Mas o consumo é relativamente elevado de forma geral, o que nos leva a ter uma relativamente baixa taxa de poupança privada quando comparada com outros países emergentes. O grande ponto é como criar incentivos inteligentes para que as pessoas poupem mais de tal forma a que o consumo de amanhã possa ser maior que o de hoje. Há muito a se fazer nesta área, incluindo o desenvolvimento dos mercados de capitais e de previdência privada, instrumentos financeiros simples e inteligentes para as classes mais baixas e mudanças tributárias e regulatórias.
Acredita que perdemos o grau de investimento por questões macroeconômicas ou políticas?
Perdemos o grau de investimento porque as perspectivas de crescimento se alteraram. E as razões são múltiplas, incluindo as condições da economia mundial, a crise política, a nossa baixa produtividade, competitividade e as condições macroeconômicas.
A inflação é o principal problema, ou o principal sintoma da crise no Brasil?
Se olharmos pela lente da história, digamos, desde o pós-guerra, o Brasil viveu praticamente todo o tempo sob pressão de crise de balança de pagamentos e/ou inflacionária. Temos problemas crônicos de oferta, de poupança, de produtividade, de competitividade e de mercado financeiro que ajudam a explicar essa condição. Por isto, é preciso atacar de forma sistêmica e coordenada esses problemas.
2016 é um ano perdido para a economia nacional?
Acredito que o ano de 2016 será de rearrumação da casa para que a economia possa voltar a crescer daí em diante.
Por que o Brasil não se aplica um pouco mais em desenvolvimento, pesquisa e inovação?
O longo período de fechamento da economia e de dependência de commodities nos condenou a depender menos de tecnologia, produtividade e competitividade.
E o setor de serviços, como deve passar pela crise?
O setor inflou durante o período de aumento da renda — lojas, vendedores de rua, pequenos negócios de serviços de todo tipo prosperaram por toda parte. Mas, com a condição atual da economia, o setor deve passar por ajustes. A produtividade e a eficiência baixas de grande parte dos negócios de serviços os condenam a viver no fio da navalha.
Qual o papel da economia do conhecimento para a alavancagem do Brasil para voos mais altos?
O século XXI é o século do conhecimento. Custos de produção baixos, trabalho abundante, subsídios e incentivos fiscais já não são suficientes para garantir a competitividade das nações. A esta altura, a alternativa para o Brasil romper com a armadilha da renda média e adentrar pela “porta da frente” na economia mundial passa por abraçar atividades econômicas de mais alto valor agregado, de maior conteúdo de conhecimento.
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