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Jorge Bispo vai além do famoso Apartamento 302

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Considerado por muitos como um dos retratistas mais importantes do Brasil, o carioca Jorge Bispo já fotografou incontáveis personalidades do cenário cultural tanto do Brasil como do exterior. Entre os nomes famosos que já passaram pelas suas lentes, podemos citar o cineasta norte-americano Spike Lee, o cantor e compositor capixaba Roberto Carlos, o ator José de Abreu, além do compositor e guitarrista inglês Andy Summers, célebre pelos trabalhos com os grupos The Police e Eric Burdon & The Animals. Bispo (como gosta de ser chamado) é formado em Artes Plásticas pela Escola de Belas Artes na UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro). Produziu além dos retratos, ensaios e fotografias de moda para publicações como –Vogue Brasil, Playboy Brasil, Trip, TPM, Vip, Homem Vogue, Sexy, e assinou diversas campanhas publicitárias. “Queria ser ator e de certa maneira isso é estar do outro lado. Mas desde que me dedico a fotografia evito totalmente estar do outro lado. Sou muito tímido. Engraçado é que de certa forma quando você é reconhecido pelo seu trabalho, as pessoas tentam te levar para o outro lado, como essa entrevista, por exemplo! [Risos.] Além de convites pra outras entrevistas, matérias, talk shows e reality shows. Mas sinceramente essa parte do prestígio não me interessa. (…) Quando o jogo é duro você tem que jogar melhor que o oponente”, afirma o fotógrafo. 

Você era um adolescente que gostava muito de futebol e teatro. Em que época começou a se interessar por fotografia?

No meio da adolescência. Por conta do teatro, comprei uma câmera pra registrar os ensaios, as viagens e os amigos do teatro.

Muitos fotógrafos (e você se inclui entre eles), dizem que a bagagem visual é fundamental na carreira de um fotógrafo. Fale mais sobre isso.

É o que realmente importa. A técnica sem uma bagagem visual, sem referências não adianta de nada. Fundamental é ver a fotografia, o cinema, o teatro, as artes plásticas e criar uma espécie de banco visual.

Qual a maior liberdade que um retratista pode ter em seu trabalho?

Eu trabalho com total liberdade. Não me prendo imaginando que estou “fugindo” do retratado ou criando um personagem. Ser humano é muito complexo pra acreditarmos que uma foto pode ilustrar exatamente a personalidade de uma pessoa. Ninguém é um só!

Em uma certa ocasião, você disse que o retrato de certa maneira lhe remete a um jogo. Como ter controle desse “jogo” quando se fotografa pessoas que são difíceis para jogar?

Quando o jogo é duro você tem que jogar melhor que o oponente. Mas eu vejo mais esse jogo como um jogo em dupla. Eu e o retratado estamos na mesma equipe. É mais uma disputa por qual estratégia vamos usar para que nosso time vença. [Risos.] No fundo, queremos o mesmo. Eu quero um bom retrato e ele também. E o jogo aparece quando tenho que seduzir o retratado e fazê-lo apoiar as minhas ideias.

Voltando ao teatro, você sempre afirma que o seu trabalho é influenciado por ele. Alguma vez, ou mesmo quando cursava Artes Plásticas pela Escola de Belas Artes da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), já teve o despertar de querer estar do outro lado, ou seja, ao lado dos seus fotografados?

Antes de conhecer a fotografia, sim. Queria ser ator e de certa maneira isso é estar do outro lado. Mas desde que me dedico a fotografia evito totalmente estar do outro lado. Sou muito tímido. Engraçado é que de certa forma quando você é reconhecido pelo seu trabalho, as pessoas tentam te levar para o outro lado, como essa entrevista, por exemplo! [Risos.] Além de convites pra outras entrevistas, matérias, talk shows e reality shows. Mas sinceramente essa parte do prestígio não me interessa. Evito ao máximo. Sou muito na minha. Não acredito nesse hype (promoção extrema de uma pessoa, ideia ou produto). Eu só quero fazer meus retratos e ficar em casa.

Uma palavra muito usada em seu trabalho ‘Apartamento 302’ é instigante. Você também o considera instigante?

Instigante? Acho que de certa maneira, sim. Se as pessoas são instigadas por ele fico feliz. Todo mundo quer fazer algo que mexa com as pessoas.

Você burilou por muito tempo o seu estilo para que as pessoas pudessem ver que ele é único?

Eu trabalho todo dia querendo chegar nesse ponto. Ser reconhecido por um estilo. Isso é o mais importante. Quando sua obra passa a ter uma cara sua. Tô trabalhando pra isso têm mais de 15 anos.

“Tenho devoção pelas mulheres”; “A mulher é coisa mais importante da vida”, foram frases que você já disse. Como consegue essa conexão para que o feminino possa aparecer com toda a sua força nas suas fotografias?

Isso é natural em mim. Eu acho mulher a coisa mais fantástica e bela que existe. Acho que acontece naturalmente e reflete no meu trabalho.

Por que você acredita que o retrato é uma briga entre forças?

Voltando ao jogo da pergunta acima, eu quero algo de um retratado e ele provavelmente tem ideias de como quer sua imagem representada. Daí rola essa “briga” que, na verdade, é um jogo. E meu trabalho é convencer ele que estamos no mesmo time.

Suas fotos em preto e branco lembram muito as fotos do norte-americano Man Ray. Teve alguma influência dele ou de outro artista para esses trabalhos?

Eu amo o trabalho do Man Ray [pintor, fotógrafo e anarquista norte-americano 1890 – 1976]. Mas, sinceramente não vejo conexão entre o meu trabalho e o dele. Ele é um mestre. Eu tô aqui fazendo meus retratos. Mas tudo que gosto tem alguma influência, maior ou menor. Eu sou muito ligado em Richard Avedon [fotógrafo estadunidense 1923 – 2004] e Arnold Newman [fotógrafo americano conhecido por seus “retratos ambientais” de artistas e políticos 1918 – 2006].

Qual o principal erro que as pessoas cometem quando falam de Jorge Bispo?

Se for um paulista é falar o Bispo com s. Sou carioca, é Bispo com x [risos].


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