Jorge Jatobá é economista pela UFPE e mestre/doutor em Economia pela Universidade de Vanderbilt (EUA). Foi secretário de Política de Emprego e Salário do Ministério do Trabalho e secretário da Fazenda de Pernambuco. Foi professor e pesquisador visitante nas Universidades de Yale e Brown (EUA). É sócio da Ceplan Consultoria Econômica e Planejamento e professor titular aposentado da UFPE. A Ceplan Consultoria Econômica e Planejamento é formada por um experiente grupo de economistas e desde o início vem se destacando pela produção de análises de conjuntura regional, planejamento estratégico para empresas e instituições, avaliação de políticas públicas, análises setoriais e de economias estaduais/regionais. “O custo mensal foi de cerca de 53 bihões de reais. A suspensão do contrato de trabalho e a redução proporcional de jornada e salários também foram necessárias e beneficiaram cerca de 8 milhões de pessoas. O grande fracasso foi a política de crédito que deveria prover capital de giro para as empresas, especialmente as micro, pequenas e médias. A dificuldade origina-se nos bancos, conservadores por natureza e avessos ao risco. O Governo deveria dar crédito direto na veia e não deixar essa intermediação nas mãos de um sistema bancário oligopolizado e com evidente má vontade, inclusive os bancos públicos, entre os quais destaco o inoperante Banco do Nordeste”, afirma.
Jorge, a retomada dos empregos perdidos na pandemia será lenta. Quais setores devem ser os mais prejudicados?
Sim, será lenta porque essa não será uma saída “normal” de uma recessão. Essa queda no nível de atividade foi induzida por uma pandemia. Há retorno gradual de parte da oferta (negócios) e muita cautela de parte da demanda (consumidores). No mercado de trabalho, voltam primeiro os que foram afastados pelo isolamento social (suspensão de contrato e redução proporcional de jornada e salários), depois os que foram demitidos, mas que têm experiência nos seus antigos postos de trabalho para os quais foram treinados, depois retornam os que estão ativamente buscando trabalho (desocupados) e depois aqueles que, antes desalentados, voltam ao mercado superando medo do contágio e buscando aproveitar as vagas que lentamente se abrirão.
Existe algo que o Governo possa fazer para amenizar esse cenário que se mostra cada vez mais real?
As transferências para pessoas e famílias foram políticas corretas que agora foram estendidas por mais dois meses. Isso permitiu que a economia conservasse alguns sinais vitais. O custo mensal foi de cerca de 53 bilhões de reais. A suspensão do contrato de trabalho e a redução proporcional de jornada e salários também foram necessárias e beneficiaram cerca de 8 milhões de pessoas. O grande fracasso foi a política de crédito que deveria prover capital de giro para as empresas, especialmente as micro, pequenas e médias. A dificuldade origina-se nos bancos, conservadores por natureza e avessos ao risco. O Governo deveria dar crédito direto na veia e não deixar essa intermediação nas mãos de um sistema bancário oligopolizado e com evidente má vontade, inclusive os bancos públicos, entre os quais destaco o inoperante Banco do Nordeste.
Como analisa o trabalho da equipe econômica nessa crise?
Fora a política de crédito, os instrumentos foram adequados. A perna liberal do Governo foi temporariamente decepada. A situação fiscal se agravou com o déficit primário apontando para 12% do PIB ao final do ano e a relação Dívida/PIB se aproximando de 100%. A política econômica do presidente Bolsonaro na crise considero como boa apesar de algumas demoras e hesitações. O que foi ruim, contribuindo para agravar a pandemia e, por consequência, a crise econômica, foram as atitudes e palavras do presidente em desobediência ao isolamento social horizontal.
Existirá um novo contrato social no mundo pós-Covid?
Haverá um novo código de conduta, de produção, de trabalho, de relacionamento social. O mundo mudou e a economia também, consolidando mudanças que já vinham em curso tais como a transformação digital e as novas formas de comunicação.
Os Estados se tornarão mais fortes?
Os Estados Nacionais sairão mais fortes porque só eles detêm os instrumentos para enfrentar uma recessão dessa magnitude, induzida por uma pandemia. A pandemia deixou nuas as profundas desigualdades deste país. Só o Estado detém os instrumentos para combatê-la com sucesso. O Estado não tem que ser pequeno ou grande. Ele tem que ser eficiente.
Várias empresas foram salvas pelo Estado na crise de 2008. Isso deve acontecer novamente?
Sim, sobretudo nos países desenvolvidos. Uma política monetária com atribuições fiscais está em curso, igual a de 2008 que conduziu os Bancos Centrais ao Quantitative Easing, ou seja, compra de títulos públicos e privados por essas instituições e até mesmo transferências massivas de dinheiro para salvar grandes empresas.
Teremos um forte aumento de gastos em sua visão?
Sim, o orçamento de guerra permitiu que os gastos saíssem das amarras da LRF e da lei do teto de 2016. O déficit primário deve subir para cerca de 900 bilhões mais de oito vezes do que estava previsto no orçamento de 2020.
O maior desafio que teremos no futuro é a estabilização da dívida?
Esse era e continua sendo o principal desafio fiscal, agora tornado ainda mais difícil de ser alcançado. A aprovação das reformas, em ambiente politico conturbado, poderá ajudar, mas não é o único fator favorável. Precisamos melhorar a coordenação entre entes e entre poderes para ajustar as contas públicas.
Viabilizar PPPs e concessões, pode ser um caminho?
É um dos caminhos, mas precisa de bom ambiente politico e de negócios bem como de garantias jurídicas para ser levado à frente com vigor e chances de sucesso, sobretudo na área de infraestrutura…
Como a tríade infraestrutura, emprego e educação poderá fazer a diferença nos anos vindouros?
Investimentos em infraestrutura puxam o emprego e a educação melhora a produtividade do trabalho. Investimento em capital físico e em capital humano são dois eixos estratégicos e essenciais para retomar o processo de desenvolvimento econômico de forma sustentável.
O senhor está otimista em relação ao futuro e suas nuances como a acelerada digitalização?
A transformação digital acelerou e veio para ficar. O mundo sempre encontrou nas crises boas oportunidades para se reinventar e inovar, abrindo novos caminhos e desbravando horizontes antes desconhecidos. A criatividade humana, especialmente no contexto do capitalismo com todas as suas nuances politicas e ideológicas, vão encontrar saídas.
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