Julio Costantini é formado em direção de fotografia na EICTV (Escola Internacional de Cinema e Televisão), localizada em Cuba. Com o passar dos anos, começou a trabalhar profissionalmente como diretor de fotografia para séries de TV e cinema, além de ser um cinéfilo que busca fazer pesquisas de referência fora do eixo comercial, procurando imagens menos convencionais e outras formas de ver o mundo. Esteve à frente de “Imagens da Turquia – o Cinema de Nuri Bilge Ceylan”, mostra que apresentou uma retrospectiva do premiado cineasta turco, propiciando ao público carioca a possibilidade de conhecer na íntegra a obra do diretor ainda pouco conhecido no Brasil. A programação incluiu todos os sete longas-metragens da carreira de Ceylan – a maioria inédita no circuito nacional – um curta-metragem e a distribuição de um catálogo contendo dados biográficos, textos, fotos e entrevistas com o homenageado, além de um debate com o próprio Julio. O curador deve em uma próxima mostra (que ainda é segredo) falar sobre um diretor do Caribe. “Sinto que a função precisa de bastante atenção com os detalhes envolvidos, mas também intuição para escolher o artista que você quer apresentar ao público e a forma de fazer isso. A ordem dos filmes, a seleção dos profissionais envolvidos na mostra, quem vai cuidar do material gráfico, textos do catálogo, etc”, afirma o diretor de fotografia.
Julio, antes de mais nada, gostaria que falasse um pouco da sua carreira até chegarmos nos dias atuais.
Me formei em direção de fotografia na EICTV (Escola Internacional de Cinema e Televisão), localizada em Cuba. Com o passar dos anos, comecei a trabalhar profissionalmente como diretor de fotografia para séries de TV e cinema. Mas também sou cinéfilo e busco fazer minhas pesquisas de referência fora do eixo comercial, procurando imagens menos convencionais e outras formas de ver o mundo.
O que você acredita ser uma curadoria perfeita ou quase perfeita?
Difícil afirmar, também porque essa é minha primeira curadoria. Sinto que a função precisa de bastante atenção com os detalhes envolvidos, mas também intuição para escolher o artista que você quer apresentar ao público e a forma de fazer isso. A ordem dos filmes, a seleção dos profissionais envolvidos na mostra, quem vai cuidar do material gráfico, textos do catálogo, etc.
Qual o peso de um curador para que uma mostra ou retrospectiva trilhe o caminho esperado?
O curador é como um diretor de cinema: seu sucesso está baseado também nas escolhas que faz. Desde o pessoal da produção, que irá organizar as cópias, a parte financeira com o patrocinador, o contato com o cineasta, no caso, e também a seleção dos profissionais envolvidos na parte técnica e editorial da mostra.
Pelo seu feeling e experiência, como tem sentido a apreciação do público brasileiro, por obras de cineastas não americanos?
Tem crescido cada vez mais o interesse por cinematografias fora do “eixo” ou fora do convencional e extremamente comercial. As pessoas estão buscando olhares diferentes, mais sensíveis, outras paisagens exteriores e interiores. Claro que ainda há um longo caminho, pois, a hegemonia do cinema comercial, especialmente o norte-americano, ainda é bastante grande. A força do capital e das “majors” ainda ocupa grande parte das salas. Não acho que a gente deva enfrentar isso como se fosse um problema, mas buscar alternativas de projeção, batalhar por mais salas que tenham interesse no circuito dito “alternativo” e por outro tipo de cinema. Querendo, pode haver espaço para todos.
Quais as reflexões que quis trazer com a retrospectiva do cineasta turco Nuri Bilge Ceylan?
O cinema do Ceylan é bastante delicado e introspectivo, mas não por isso menos narrativo e “acessível”. São histórias comuns, de homens e mulheres comuns, que vivem algum momento de crise pessoal, moral, não importa. Há algo fora de lugar e é isso que vamos acompanhar. Muitas vezes, Ceylan prefere ser pessimista, deixar cair as máscaras de seus personagens para que vejamos o que há por trás. Sempre achei interessante esse tipo de cinema, que não se acomoda nos modelos sociais, mas os questiona.
Antes dessa retrospectiva, você já era um entusiasta do cineasta turco, ou foi se “apaixonando” no processo de idealização e realização desse projeto?
Ganhei interesse com o passar dos anos pelo cinema turco, mas foi Ceylan o principal responsável por me cativar nesse meio.
O que mais lhe chama a atenção na obra do diretor?
O uso dos recursos, mesmo no início de sua carreira, quando eram poucos. Sua fotografia, a forma como explora o som no cinema. A mostra nos permite ver os filmes do início de sua carreira, quando eram muito pequenos e também os últimos, que já contam com mais recursos. Ainda assim, a simplicidade é uma marca registrada e justamente por ser simples é que ele atinge lugares muito delicados na obra.
Algum filme do diretor, fez com que você refletisse e olhasse algo da sua vida de uma outra forma?
“Distante” é um filme de que gosto muito. Colocando dois personagens em conflito silencioso e direto, ele nos faz questionar sobre nossos sonhos e frustrações da vida. Como ambas as direções podem conviver lado a lado sem se notarem. Mas todos estamos sujeito a esse tipo de crise, sem saber para onde vamos ou como vamos. O apoio dos que estão próximos pode ser o nosso único refúgio.
Como sentiu a reação do público que viu e reviu os filmes do diretor?
O público recebeu muito bem os filmes. O mais interessante é ver como eles provocam debate e reflexão nos que saem da sala de cinema.
Qual a importância de apoiadores como a Caixa Cultural quando se está num projeto como este?
É fundamental o apoio de instituições como a Caixa. Eles fazem com que seja possível viabilizar projetos de mostra como essa, permitindo que o público acesse a obra de diretores muitas vezes desconhecidos. Tudo isso porque o patrocínio nos permite criar também um material publicado de alta qualidade – o catálogo – e cobrar ingressos a preço popular, praticamente simbólico.
Existem outros projetos que está envolvido ou que realizará num futuro próximo, que seja nos moldes de “Imagens da Turquia – o cinema de Nuri Bilge Ceylan?”.
A próxima mostra que tenho em mente é de um cineasta que gosto muito. Ainda não posso revelar detalhes, mas já posso dizer que dessa vez será de um país mais próximo geograficamente de nós, mais precisamente no Caribe.
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