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Julio Mereb diz que o desequilíbrio permanece

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Julio de Alencastro Graça Mereb é mestre em Economia pela PUC-Rio com dissertação na área de política fiscal e ciclo econômico. Atualmente é consultor da área de Economia Aplicada do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV/IBRE). Nos últimos anos, trabalhou no mercado financeiro, cobrindo atividade e contas fiscais no Brasil. Com toda experiência vivenciada no setor, o requisitado economista afirma: “A incerteza política cedeu consideravelmente desde maio. Embora o ambiente para a aprovação de reformas fiscais estruturantes seja muito mais limitado agora, inclusive porque o calendário eleitoral encontra-se cada vez mais próximo, os riscos de interrupção da atual política econômica são pequenos pelo menos até o final de 2018. O maior risco para o cenário político, hoje, é a consolidação de algum candidato avesso às reformas fiscais no pleito eleitoral do ano que vem. De qualquer forma, o recuo da incerteza política, pelo menos no curto prazo, veio em conjunto com um ambiente externo extremamente benigno para o Brasil, com prêmios de risco e dólar relativamente comprimidos. Ao mesmo tempo, no âmbito doméstico, o recuo muito expressivo da inflação abriu espaço para um ciclo. (…) Tanto a indústria como os serviços foram duramente atingidos pela recessão dos últimos dois anos. Dentro da indústria, destaca-se negativamente a transformação e a construção civil”.

Julio, podemos sonhar com um 2018 um pouco melhor na esfera econômica?

Sim, há espaço em 2018 para uma reversão cíclica do crescimento. O IBRE projeta crescimento de 2,5% para o ano que vem. Não será um crescimento pujante como o de 2010, quando a economia brasileira cresceu 7,5% após a recessão de 2008/2009, mas o PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro deverá registrar a primeira taxa de crescimento expressiva desde 2013.

A economia se descolou da política ou isso é impossível?

A incerteza política cedeu consideravelmente desde maio. Embora o ambiente para a aprovação de reformas fiscais estruturantes seja muito mais limitado agora, inclusive porque o calendário eleitoral encontra-se cada vez mais próximo, os riscos de interrupção da atual política econômica são pequenos pelo menos até o final de 2018. O maior risco para o cenário político, hoje, é a consolidação de algum candidato avesso às reformas fiscais no pleito eleitoral do ano que vem. De qualquer forma, o recuo da incerteza política, pelo menos no curto prazo, veio em conjunto com um ambiente externo extremamente benigno para o Brasil, com prêmios de risco e dólar relativamente comprimidos. Ao mesmo tempo, no âmbito doméstico, o recuo muito expressivo da inflação abriu espaço para um ciclo.

Quais setores têm sofrido mais com o momento turbulento da nossa economia?

Tanto a indústria como os serviços foram duramente atingidos pela recessão dos últimos dois anos. Dentro da indústria, destaca-se negativamente a transformação e a construção civil. Nos serviços, aqueles intensivos em mão de obra, como outros serviços e comércio, também sofreram consideravelmente com reflexos muito negativos na taxa de desemprego. Parte das perdas verificadas nesses setores é permanente, e não apenas cíclica, devendo ser necessários alguns anos para que sejam revertidas.

E quais setores têm mostrado uma grande recuperação?

A recuperação dos setores têm sido ainda tímida, mas já observamos alguma retomada no comércio varejista, impulsionada em parte pela liberação dos recursos do FGTS para saque, bem como na indústria de transformação, mas esta última é ainda muito tímida. As atividades agrícolas é que têm se beneficiado de condições climáticas mais favoráveis para o plantio, bem como da maior produtividade das lavouras. Mas é um setor bastante volátil e com peso muito pequeno no PIB.

Existe desindustrialização em nosso país de fato?

A participação da indústria no PIB, de fato, tem diminuído na última década em virtude da transição do Brasil para uma economia de serviços, que é tipicamente intensiva em mão de obra. O desafio hoje é aumentar a produtividade do trabalho nesses setores, uma vez que dificilmente a perda de participação da indústria no PIB será revertida.

Como o varejo deve se comportar no final deste ano com datas importantes como Natal e Réveillon?

O comércio varejista foi um dos primeiros setores a mostrar sinais de recuperação. Como mencionado acima, o saldo do FGTS tem contribuído para essa recuperação, apesar de seu impacto ser pontual. Esgotados os recursos liberados para saque, serão necessários outros fatores – que, felizmente, estão presentes na atual conjuntura – para manter o desempenho benigno do varejo. Por exemplo, o recuo da inflação, principalmente nos grupos ligados à alimentação domiciliar, tem beneficiado o poder de compra das famílias e, consequentemente, o varejo, principalmente no setor supermercadista. Há outros sinais favoráveis também, como o crédito para pessoa física, que tem apresentado um desempenho muito mais benigno nos últimos meses, principalmente em comparação com o segmento voltado para pessoa jurídica.

Você afirmou que a recuperação da economia será lenta. Quando acredita que a “velocidade” voltará ao normal?

Provavelmente, a nova velocidade de crescimento será permanentemente menor do que a observada na última década, em parte porque o bônus demográfico da economia brasileira deverá se esgotar já no início da próxima década. Com isso, o cenário de crescimento para o Brasil será muito mais desafiador, já que dependeremos cada vez mais do ritmo de crescimento da produtividade para que o PIB tenha um desempenho robusto.

A economia nacional chegou ao seu fundo do poço ou vê algo ainda mais preocupante?

Em termos de atividade econômica, a economia já saiu do fundo do poço, mas o desequilíbrio fiscal permanece, e o quadro segue muito desafiador. O país deverá registrar superávits primários somente no início da próxima década, e a regra do teto de gastos, estabelecida na Emenda Constitucional (EC) 95, será cumprida com dificuldade já no Orçamento de 2018. Portanto, embora no curto prazo a economia brasileira possa experimentar um período de alívio, os desafios de longo prazo permanecem de certo modo inalterados: garantir a solvência do Setor Público, incluídos aí os governos regionais, e incentivar o aumento da produtividade da mão de obra, que no Brasil é ainda extremamente baixa.

Como avalia a equipe econômica do Governo Temer?

A política econômica sofreu uma drástica reversão positiva desde junho do ano passado. A equipe econômica tem contribuído muito positivamente para a recuperação da economia, tocando em temas e agendas de reformas cruciais para a melhora do ambiente macro e microeconômico do Brasil.

Investimentos em infraestrutura reaqueceriam a economia nacional?

O investimento em infraestrutura é fundamental para o aumento da produtividade da economia, tendo em vista os enormes gargalos existentes nos setores de energia e transportes, mas seus impactos são de longo prazo. No atual contexto de desequilíbrio estrutural das contas públicas, não é o aumento momentâneo do investimento público que irá garantir uma retomada acelerada da economia. A agenda de privatizações que o atual Governo vem adotando é a melhor saída para melhorar a infraestrutura no atual contexto de limitação do espaço fiscal.

Quem é o grande responsável pela crise: o modelo de crescimento explosivo dos gastos desde a redemocratização ou a chamada “nova matriz econômica?”.

Provavelmente uma combinação de ambos, mas a “nova matriz” combinou ao gradual inchamento do tamanho do Estado o processo de desequilíbrio estrutural das contas públicas ao incentivar, mediante, enormes volumes de crédito subsidiado, o investimento em setores que, de outro modo, não o teriam recebido. O custo da política econômica adotada a partir de 2009, e que foi intensificada a partir de 2012, custou muito caro ao país, basicamente mais uma década perdida.


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