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Kanton fala sobre os plim-plins da poderosa Globo

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O paulistano Kanton é um dos principais desenhistas, animadores, ilustradores e cartunistas do país. Em 1976, venceu um concurso de desenho para menores da TV Cultura, quando ganhou um troféu e um estágio em um dos estúdios de desenhos animados mais relevantes do Brasil. Kanton também trabalhou por 20 anos no estúdio de Mauricio de Sousa, onde dirigiu várias produções como a Turma da Mônica. Produziu o gibi de “O Menino Maluquinho”, do renomado Ziraldo para a Editora Globo. Criou também alguns “plim-plins” para a TV Globo. Ao longo de sua carreira dirigiu e animou séries de TV, para a Rede Globo e Cartoon Network. Na ilustração editorial com fins didáticos, trabalha há mais de 25 anos para grandes editoras de livros do país, sendo elas: Saraiva, Atual, Moderna, Richmond, FTD, SM, Siciliano, Scipione, Ática, Harbra, Kumon, Mackenzie, Fisk, entre outras. “Quando estamos envolvidos com uma grande massa de jovens espectadores em formação, que são as crianças do planeta, nossa atenção é voltada a uma linguagem universal, onde as culturas não interfiram na compreensão desse público. Algumas coisas que fazíamos para um público regional, nacional, hoje já temos um cuidado especial no comportamento das nossas historinhas. Os roteiros que indicam esse comportamento e a animação segue esse roteiro dando o molho lúdico”, afirma o cartunista.

Para começar a entrevista, conte como foi o começo da sua carreira.

Eu iniciei minha carreira de desenhista, em um estúdio de desenho animado renomado na época, a Briquet Filmes. Como eu nunca havia frequentado escola ou curso de desenho, aprendi a arte da animação no dia a dia, na prática. Sempre orientado pelo mestre. Adquiri os conceitos básicos da animação de forma intuitiva e através de experimentações que me mostravam os acertos e os erros. Não haviam literaturas a respeito acessíveis. Estudava os movimentos, as poses através de filminhos Super-8, quadro a quadro. Os desenhos eram feitos em acetatos e filmados um a um em uma traquitana chamada Tabletop. Éramos muito criativos, porque não tínhamos a tecnologia à nossa disposição. Era tudo na unha, como diziam.

O senhor está nesse mercado de ilustrações há mais de 30 anos. Quais foram as principais mudanças técnicas e até mesmo nos negócios desse setor e que ocorreram nesse tempo?

Eu trabalho com desenho animado, ilustrações, HQs e criação de personagens e cada uma dessas atividades sofreram mudanças, algumas drásticas, outras nem tanto, mas todas afetadas pela tecnologia massificada. Desde que as artes pintadas com tinta, tiveram que ser escaneadas e digitalizadas para poderem ser editadas em um computador de uma editora ou gráfica, a técnica da pintura a mão teve um declínio extremamente acelerado, sendo substituída pela pintura digital que se tornara mais viável para o mercado, não que tenha acabado. No desenho animado, a velha Tabletop se aposentou e os softwares de animação 3D e 2D dominaram o mercado. Quem animava no papel, teve que se readequar, trabalhando hoje, apenas com um computador potente para rodar os sofisticados programas que fazem o trabalho de uma grande equipe de profissionais dos primórdios. Hoje temos acesso a qualquer tecnologia a custos possíveis e com poucos recursos é possível realizar grandes produções. Muita coisa mudou na área criativa. Hoje, não podemos dizer que somos criativos. Com tantas referências nos sites de buscas, fica difícil não sermos influenciados, mas o criativo sempre será criativo. Está realmente havendo transformações, mas, na verdade, são evoluções, pois, com certeza, tudo ficou bem mais fácil.

Em uma de suas entrevistas, você disse que um ilustrador pode influenciar as crianças de um modo ruim ou de um modo bom. Qual o cuidado que o profissional deve ter nas suas criações para que a influência ruim não venha acontecer?

Eu trabalho com o lúdico e nessa situação, tudo é possível. Não acho que tenho que ser politicamente correto, mas tenho que ter bom senso e ser ético. Quando crio, construo a obra e para isso faço sempre um planejamento. Tudo é pensado. Muitas cabeças vão ter o contato com minha obra. Na maioria, crianças. Sou também um formador de opinião.

Um dos seus inspiradores, o animador Chuck Jones, dizia que fazer humor é rir das nossas fraquezas. Concorda que fazer humor é rir das nossas fraquezas, ou colocaria mais alguma coisa nessa frase?

O riso é uma reação espontânea, despertado por algo inusitado. Um tombo, um escorregão, uma palavra explícita, uma desgraça alheia que não ocorra em graves riscos. No lúdico, posso fazer essas situações com um sentido bem-humorado, palhaço e pastelão. O riso é, com certeza, a hora que estamos desconectados da realidade.

O que um desenho feito para uma empresa ou mesmo voltado para um público infantil, precisa ter essencialmente para que o seu objetivo seja alcançado?

Deve haver empatia. O personagem é o esteriótipo da ideia, da marca, do projeto e para eu atingir o objetivo de modo direto ou subliminar, faço estudos sobre a sua personalidade, seu biorritmo, suas peculiaridades que estão estreitamente ligados à ideia, a marca ou ao projeto. Fisicamente o personagem deve estar inserido no contexto e com elementos corpóreos que irão reforçar sua personalidade. As cores também são elementos essenciais para criar essa empatia.

Muito provavelmente, você viveu grandes momentos nos 20 anos que trabalhou no estúdio de Mauricio de Sousa, mas sempre existe um momento que é inesquecível, qual foi esse momento?

Eu iniciei minha carreira na MSP como animador, mas oito anos antes de eu trabalhar com o Mauricio, eu já animava vários comerciais famosos da época. Rapidamente me tornei planejador e eu tive a oportunidade de encabeçar uma equipe de animadores pela primeira vez, dirigindo o episódio “O Vampiro”. Isso foi marcante, pois, pude sentir a sensação de um maestro regendo uma orquestra. O mais bacana é que o filme é um sucesso até hoje, sendo o carro chefe dos vídeos. A criançada adora e ri muito, mas a consagração veio depois, quando fui convidado a coordenar a equipe completa de artistas da MSP, por onde fiquei por vários anos, aprendi muito.

Você foi criador de alguns “plim-plins” da TV Globo. Como foi o processo de criação?

Os “plim-plins” são vinhetas temáticas. A Rede Globo propõe um tema anual e o tempo de duração da vinheta que é curtíssima (não passa de 10 segundos). A criação é limitada a uma boa ideia animável para pouco tempo de duração. É uma charge animada. É feito um storyboard (organização gráfica) que é aprovado por uma equipe da Rede Globo. Em seguida a animação é feita em estúdios contratados pela emissora.

Quais foram as diferenças e as igualdades culturais e artísticas que notou ao dirigir e animar séries para a Rede Globo e para o Cartoon Network?

Quando estamos envolvidos com uma grande massa de jovens espectadores em formação, que são as crianças do planeta, nossa atenção é voltada a uma linguagem universal, onde as culturas não interfiram na compreensão desse público. Algumas coisas que fazíamos para um público regional, nacional, hoje já temos um cuidado especial no comportamento das nossas historinhas. Os roteiros que indicam esse comportamento e a animação segue esse roteiro dando o molho lúdico. Nossa obra tem que falar a língua do planeta para termos um maior alcance e aceitação.

Ser multimídia hoje, é um dever de todo ilustrador?

Acima de tudo, o desenhista tem que ser criativo e por causa disso, pelo ritmo acelerado da tecnologia, dos resultados rápidos, não poderia ser diferente com o ilustrador. A imagem foi muito explorada nas artes gráficas. Com o advento esmagador do computador, a necessidade de adequação faz o profissional se especializar, aprender novas técnicas e tecnologias dando essa conotação de multimídia, já que hoje as mídias são várias. São várias frentes de trabalho para o desenhista.

Quando criou o personagem Leme (que é um garoto cadeirante), estava pensando também no papel social que arte deve ter, ou ele foi feito com outra perspectiva?

Eu criei o Leme por convite de um amigo jornalista que se tornara cadeirante, o Roberto Rios. Eu entendi bem a vida e as limitações de um portador de necessidades especiais e com ele criamos um garotinho, porque todos têm uma criança dentro de si, e, porque criança gera situações de roteiro mais interessantes. Queríamos desmistificar a ideia de que o cadeirante é um coitado que deve ficar em casa escondido, mas que também temos que dar a ele acessibilidade. Por fatalidade, qualquer um pode se tornar uma pessoa especial de uma hora para outra e resolvemos fazer disso uma bandeira. Temos a expectativa de patrocínio para tornar realmente o Leme um interlocutor dessa causa.

Qual o tema que ainda não trabalhou, mas que gostaria de explorar em futuros trabalhos?

Eu tenho um personagem, o Kamisinha. Ele é muito carismático e fundamental para o esclarecimento sobre o uso do preservativo. Ainda é o meio mais seguro de evitar vários transtornos numa relação. Estou em busca de apoiadores para esse projeto de desenho animado, vinhetas, HQs, cartilhas e banners. É um projeto bem legal e divertido pelo carisma do personagem.


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