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Kyvo tem como mola-mestre a sua inovação

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Hilton Menezes é cofundador e CEO da Kyvo, uma plataforma global de inovação, que deseja criar um futuro mais ágil, criativo e inovador para as empresas. Tem mais de 20 anos de experiência em Tecnologia da Informação e Negócios Digitais. Trabalha a inovação desde a cultura organizacional até a tecnologia, executando programas de Transformação Digital, Intraempreendedorismo e Inovação Aberta em parceria com centros de inovação do Vale do Silício, Israel, Londres, Espanha e Portugal. Cocriador do #movimentomoara, dedicado a fomentar a inovação para a sustentabilidade e regenerabilidade na Bacia Amazônica. É cofundador da Service Design Network Brazil, especialista em negócios pela FGV e em design estratégico pelo Instituto Europeo Di Design. “A Kyvo em sua essência busca entender o impacto das transformações, seja no mundo, no mercado ou dentro de uma empresa, tudo isso por meio do ponto de vista humano. Para nossos clientes, nosso trabalho é entregar instrumentos para entender e lidar com mundo incerto e volátil. Usamos a antropologia e o viés etnográfico para observar as dimensões da complexidade do comportamento e das relações humanas e ajudar as empresas a se entenderem nesse mundo veloz. Utilizamos o design de serviço para projetar serviços e negócios, sejam ele B2B ou B2C, que estejam alinhados com o momento de vida das pessoas”, afirma.

Hilton, como tem sido a sua jornada como empreendedor num dos momentos mais caóticos da nossa história?

O momento atual é excepcionalmente desafiador pelas características das incertezas desse “novo mundo” pós-pandemia. Entretanto, de certa forma nos sentimos preparados, pois, desde que começamos a Kyvo, aplicamos alguns aprendizados (lembrando que erros geram aprendizados… Risos) em experiências anteriores de ter fortes bases de gestão administrativa e financeira. Criamos a Kyvo em 2014, já no início de umas das maiores crises econômicas e políticas do Brasil. Tínhamos a confiança de que as empresas precisavam de novos métodos para criar seus produtos e serviços. A nossa consultoria de inovação oferecia exatamente isso, bastou estabelecermos um preço de entrada ajustado para época e uma boa estratégia de captação de leads. Não será diferente agora, temos a nossa reserva financeira para passar a turbulência econômica. Além disso, trouxemos excelentes talentos nos últimos anos, inclusive em abril deste ano contratamos um dos mais experientes profissionais de design para liderar a divisão de consultoria da empresa. Já estamos adaptados e lançando novos serviços para o mercado.

Quais mudanças deverão ser sentidas pelo mercado no pós-Covid-19?

Grandes mudanças de base comportamental serão sentidas sem sombra de dúvida. A McKinsey publicou em maio passado um artigo com os principais tópicos discutidos com líderes de negócios globais. Fala-se que não retornaremos aos bons e “velhos” tempos (leia-se hábitos), pois, a força do trabalho remoto distribuído se provou possível e eficaz; a adaptação ao mundo digital por pessoas de idade 60+ e pelas classes C e D se acelerou; as estruturas organizacionais fortemente hierárquicas darão lugar a estruturas mais autônomas e com uma leve camada de governança, permitindo mais flexibilidade e agilidade; as cadeias de suprimentos serão repensadas, saindo do formato linear com poucos silos de fornecedores para o formato de redes, com maior opção de fornecedores dos mesmos insumos, trazendo mais resiliência e velocidade em crises similares; a busca pela sustentabilidade dará lugar pela busca de um futuro melhor, com novas práticas ambientais, buscando regenerar o que foi danificado – será a busca pela regenerabilidade do planeta; as operações e comércio terão que se adaptar rapidamente à economia contact-free, o mercado de saúde é um bom exemplo de rápida adaptação, no varejo, quem já estava adaptado para vendas on-line ou logística de entrega domiciliar sofreu menor impacto comparado a quem não estava nem pensando nisso. Certamente daqui a três anos viveremos um mercado bem diferente do atual.

Qual a importância de empresas como a Kyvo nesse cenário?

De suma importância, explico. A Kyvo em sua essência busca entender o impacto das transformações, seja no mundo, no mercado ou dentro de uma empresa, tudo isso por meio do ponto de vista humano. Para nossos clientes, nosso trabalho é entregar instrumentos para entender e lidar com mundo incerto e volátil. Usamos a antropologia e o viés etnográfico para observar as dimensões da complexidade do comportamento e das relações humanas e ajudar as empresas a se entenderem nesse mundo veloz. Utilizamos o design de serviço para projetar serviços e negócios, sejam ele B2B ou B2C, que estejam alinhados com o momento de vida das pessoas. Criamos programas de inovação organizacional como programas de intraempreendedorismo e experiência do funcionário para deixar o modelo de trabalho das empresas mais ágil e eficaz. Desenvolvemos e implementamos programas de inovação aberta para acelerar a inovação de grandes empresas com a ajuda de startups. A importância de empresas como a nossa é tão valiosa hoje que grandes players globais como Accenture e Wipro fizeram aquisições de consultorias semelhantes à Kyvo.

A transformação digital nesse período, será mais acelerada?

Sem dúvida. Já percebemos que as empresas começam a acelerar a digitalização de seus processos, que é a fase mais básica de uma transformação digital. No entanto, para uma empresa ser digital é preciso mais que isso. Segundo John Rethans, VP de transformação digital do Google: “…é preciso criar uma estratégia que permita às empresas se conectarem com as novas demandas dos consumidores e serem verdadeiramente digitais, saindo do modelo de linhas de produção e indo para o modelo de plataforma; construindo um modelo de gestão em que os funcionários conversem entre si e a inovação possa ser uma soma do trabalho de várias áreas”. Toda transformação exige mudanças. Mudanças não são facilmente aceitas por uma estrutura acostumada em seu Status quo. Portanto, é natural que muitas companhias, após serem forçadas a agir diferente em um contexto pandêmico, busquem voltar ao conforto do que era antes. Assim, será necessário esforço intencional para reestruturar seus modelos organizacionais e operacionais, trabalhando em aspectos de cultura, que se dá através do aprendizado e aplicação sistêmica de novos modelos de trabalho, mais colaborativos, transdisciplinares, autônomos e orientados à análise de dados (quantitativos ou qualitativos), para além de um lab de inovação.

Isso pode tornar o processo dramático em que pontos?

Pode ser dramático porque mudança cultural não é trivial. Mudar exige que você saia da sua zona de conforto e vá para uma nova zona de novas experimentações, que naturalmente vão gerar novos aprendizados. É importante que seja um processo top-down, ou seja, a alta gestão da companhia precisa estar comprometida e liderar o processo. Gosto de citar o exemplo desse comprometimento de um de nossos clientes, a Visa do Brasil. Em 2016 a Visa iniciou seu processo de inovação, contratou o Fernando Teles, ex-CEO do Banco Original, para o lugar de Country Manager e Érico Fileno, um dos melhores designers do brasil, como diretor de inovação. Contaram com o apoio de executivos com mais de 20 anos de casa, como o VP de Produtos, Percival Jatobá. Criaram seu laboratório de inovação, chamado Innovation Studio. A Kyvo foi contratada no fim de 2016 para ajudá-los a criar e executar trabalhos de pesquisa com viés etnográfico, trabalhamos com equipes transdisciplinares aplicando ferramentas do design de serviço, desenvolvemos seu programa de inovação aberta e de capacitação dos funcionários. O sucesso das iniciativas foi tão grande e impactante que a companhia recebeu dois prêmios de inovação em 2018.

Qual o papel da inovação nesse sentido?

O papel da inovação é, como no exemplo da Visa, criar um ambiente para explorar o que já existe de bom dentro do contexto organizacional, melhorá-lo com novos métodos e replicá-lo. Todas as empresas que estão ativas já inovaram em algum momento de sua trajetória. Algumas inovaram em marketing, outras em vendas, outras ainda nos modelos financeiros e, nos últimos 30 anos, muitas inovaram pela tecnologia. Agora, uma vez que a tecnologia está sendo comoditizada e estratégia de marketing, vendas e finanças são amplamente difundidas, a pergunta que fica é: de onde deve vir a inovação que vai me diferenciar no mercado? Façamos o seguinte exercício mental. Imaginemos duas empresas com as mesmas características tecnológicas, mesma estratégia financeira, de vendas e marketing, o que dará vantagem competitiva de uma sobre a outra? A resposta está na capacidade e rapidez de entender as dimensões do comportamento do mercado e das relações humanas (análise de dados e pesquisa qualitativa), através de modelos de trabalhos mais ágeis (service design, lean agile, ux agile) com equipes multidisciplinares e gerar soluções com alto grau de satisfação pelo próprio mercado.

Como se deu a construção da marca Kyvo de 2017 para cá?

Para entender a partir de 2017, preciso falar rapidamente que de 2014 a 2016 estávamos focados em experimentar e melhorar nosso método de trabalho, já baseado nas disciplinas da antropologia, do design de serviço e design de interação para entregar resultados de negócios. Tenho orgulho de dizer que fomos eficientes e nosso método se comprovou eficaz para nossos clientes. A partir disso começamos a usar nossa metodologia para criar os nossos novos serviços. Já em 2017 criamos a divisão de Corporate Venture, responsável pela implementação de programas de inovação aberta (aceleração corporativa) e inovação organizacional. Em 2018 inauguramos a Kyvo Europa, com profissionais certificados pela Microsoft, Amazon e Google para desenvolvimento de projetos de transformação digital. Ainda neste ano criamos o Movimento Moara dedicado a fomentar a inovação para a sustentabilidade e regenerabilidade na região amazônica, gosto de chamar isso de Nature-Centered Innovation (inovação centrada na natureza). Por fim, em 2019 criamos a divisão de RP (relações públicas e reputação), responsável por fazer a gestão de comunicação, posicionamento e reputação das marcas de nossos clientes com foco em inovação e também a revista The Funnel Brasil, com conteúdo próprio e curadoria de cases, tendências e dados da inovação corporativa do Brasil e do mundo. O que será de 2020 em diante ainda não sabemos com clareza, estamos coletando os dados quantitativos e qualitativos para mapear os cenários, mas será no caminho de design sistêmico.

Que pilares são fundamentais na construção de uma marca que tem o seu DNA baseado na inovação?

Em termos metodológicos diria que o foco deve ser inovação guiada pelo Design como processo de construção (Design-Driven) e pelos Dados como elementos para tomada de decisão (Data-Driven), aliado a uma forte cultura de experimentação com equipe multidisciplinar e talentosa, sem esquecer dos fundamentos de um bom modelo financeiro.

Evangelizar o mercado de atuação da Kyvo, foi uma tarefa árdua?

Foi e continua sendo. Muitas empresas ainda acham que inovação é feita da noite pro dia, como se num passe de mágica ou somente pela digitalização de processos, a cultura organizacional irá se transformar; ledo engano. Isso abre espaço para um monte de consultorias aventureiras, vendendo a palavra-da-moda.

O que não pode faltar nessa evangelização?

Produção de conteúdo que mostre a competência de nossos especialistas. A grande maioria dos nossos profissionais estão evangelizando por meio de palestras, participação e desenvolvimento de eventos e dando aulas em cursos de pós-graduação. Além disso, apostamos na realização de muitos, mas muitos workshops para que os executivos possam experimentar um pouco do método de trabalho que a Kyvo propõe.

Como enxerga o futuro da empresa e o que fará a diferença no seu relacionamento com colaboradores e respectivos clientes?

Já saímos do conceito de consultoria ou de aceleradora faz tempo. Hoje nos posicionamos como uma plataforma de inovação, com capacidade de conduzir nossos clientes a navegar habilmente em ecossistemas complexos e incertos (o famoso V.U.C.A.), entregando soluções de ponta-a-ponta em qualquer contexto que seja necessário, junto a nossa rede de parceiros distribuída no Vale do Silício, Israel, Londres, Espanha e Portugal. Nossos profissionais gostam do nosso modelo de gestão flexível e com participação nos resultados, o que nos permite reter bons talentos.

Como acreditamos que um dos fatores do sucesso é a transmutação deste DNA inovativo, estamos cada vez mais evoluindo nossos conhecimentos em diversos campos: metadesign, ciência de dados, antropologia, neurociências, psicologia organizacional, ciências políticas e assim por diante. Continuaremos diversificando e criando divisões ou negócios que nos permitam desenhar um futuro mais ágil, criativo e conectado para nossos clientes, em um relacionamento próximo e duradouro. Apostamos no conceito que chamamos de Ecosystem-Centered Innovation, em que não apenas valorizamos o lado humano, mas identificamos quais são as necessidades de cada parte e ponto de contato do ecossistema, seja ele social, ambiental, tecnológico ou político.


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