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“Lado B Lado A”: obra atemporal de O Rappa

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A música, ao longo das décadas, tem sido uma poderosa forma de expressão cultural, política e pessoal. Algumas obras conseguem transcender gerações, consolidando-se como referências atemporais. “Lado B Lado A”, álbum de rap lançado pelo grupo brasileiro O Rappa em 1999, é um desses exemplos. Com seu conteúdo multifacetado, essa obra soube captar as inquietações sociais e políticas do final dos anos 90, mas também oferece temas universais e permanentes, que continuam a ressoar nos ouvidos de novas gerações. Este álbum marcou profundamente o cenário musical brasileiro e será o foco deste artigo, que busca entender como ele permanece relevante, décadas após seu lançamento.

O contexto cultural do Brasil no final dos anos 90

Para compreender a profundidade de “Lado B Lado A”, é essencial olhar para o Brasil do final dos anos 90. O país passava por profundas transformações sociais e econômicas. A estabilidade econômica trazida pelo Plano Real contrastava com o aumento das disparidades sociais. A violência urbana nas grandes cidades, o crescimento das favelas e o surgimento de uma nova classe média formavam um cenário de tensões e contrastes, que foi amplamente abordado nas produções culturais da época.

O Rappa, desde seu surgimento, demonstrou um forte compromisso com questões sociais. A banda misturava elementos de reggae, rock, rap e música popular brasileira, construindo um som único que se tornaria a marca registrada do grupo. Quando “Lado B Lado A” foi lançado, a crítica e o público logo perceberam que a banda havia alcançado um novo patamar artístico, ao conseguir traduzir o caos e a complexidade do Brasil em um trabalho coeso e impactante.

Temas de resistência e conflito social

O álbum “Lado B Lado A” é marcado por suas letras contundentes, que abordam temas de resistência, desigualdade social, violência e marginalização. A faixa “Minha Alma (A Paz Que Eu Não Quero)” é uma das mais emblemáticas, com uma crítica aberta à violência policial e às desigualdades sociais. O clipe dessa música, dirigido por Kátia Lund, destacou ainda mais a mensagem ao mostrar cenas de uma favela em guerra, com crianças sendo vítimas da brutalidade policial. Esse retrato da vida nas periferias urbanas ressoou em muitos brasileiros, fazendo da música um hino contra as injustiças.

O Rappa conseguiu, com maestria, dar voz aos marginalizados. As letras falavam sobre personagens que viviam à margem da sociedade, como jovens negros, pobres, moradores de favelas e periferias. No Brasil do final dos anos 90, poucos artistas tratavam essas questões de maneira tão direta e realista. Assim, “Lado B Lado A” conseguiu capturar o espírito de uma geração que vivia em meio a uma crescente sensação de desespero, mas também de resistência.

O som e a produção musical de “Lado B Lado A”

Musicalmente, “Lado B Lado A” também foi um marco. O Rappa sempre se destacou pela sua mistura de ritmos e influências, e neste álbum, a banda expandiu ainda mais seu espectro sonoro. Produzido por Chico Neves, o disco combinava elementos de rock, reggae, rap, dub e música eletrônica. Essa fusão de estilos refletia a própria diversidade do Brasil e sua rica herança cultural, mas também a realidade urbana de um país cada vez mais globalizado.

As batidas pesadas e a percussão típica de estilos jamaicanos eram contrastadas com guitarras distorcidas e vocais carregados de emoção. A musicalidade do álbum, porém, não se resumia apenas a essa combinação de estilos. A banda também incorporava sons e instrumentos tradicionais, criando uma atmosfera que dialogava tanto com a modernidade quanto com as raízes culturais brasileiras. Esse hibridismo foi essencial para a construção da identidade sonora de “Lado B Lado A”.

A letra como ferramenta de reflexão

O poder de “Lado B Lado A” também reside em suas letras. Marcelo Yuka, que foi o principal letrista da banda até sua saída em 2001, era conhecido por seu lirismo provocativo e político. Ele conseguia combinar poesia e crítica social de maneira singular, construindo narrativas que capturavam a complexidade das questões abordadas. Yuka foi um dos grandes responsáveis por transformar O Rappa em uma banda que ia além do entretenimento, propondo reflexões profundas sobre a realidade brasileira.

Faixas como “O Que Sobrou do Céu” e “Lado B Lado A” exploram a tensão entre esperança e desilusão. O álbum não oferece respostas fáceis, mas convida o ouvinte a refletir sobre as dificuldades e contradições da vida urbana no Brasil. As letras de Yuka tocam em feridas abertas da sociedade, mas também falam sobre a resiliência e a capacidade de resistência das populações marginalizadas. Essa dualidade entre dor e esperança é uma característica central da obra.

O impacto e legado de “Lado B Lado A”

O impacto de “Lado B Lado A” foi imediato. O álbum foi amplamente elogiado pela crítica, e faixas como “Minha Alma” e “O Que Sobrou do Céu” se tornaram grandes sucessos nas rádios. No entanto, o legado do álbum vai muito além de seu sucesso comercial. O Rappa conseguiu, com este trabalho, influenciar uma nova geração de músicos e artistas que também estavam comprometidos com questões sociais e políticas.

Além disso, o álbum continua a ser relevante até hoje, principalmente devido à persistência das questões que ele aborda. As desigualdades sociais, a violência urbana e o racismo continuam a ser problemas graves no Brasil contemporâneo. “Lado B Lado A” é, portanto, uma obra que transcende seu tempo, conseguindo se manter atual e urgente mesmo décadas após seu lançamento.

A relação entre arte e política no Brasil

A música brasileira sempre teve uma forte relação com a política e as questões sociais. Desde os tempos da Bossa Nova e da Tropicália, artistas brasileiros usaram suas plataformas para criticar regimes autoritários e desigualdades sociais. O Rappa, com “Lado B Lado A”, insere-se nessa tradição de resistência cultural, usando a música como uma forma de dar voz aos silenciados e marginalizados.

No Brasil contemporâneo, essa relação entre arte e política permanece fundamental. Artistas continuam a desempenhar um papel importante na denúncia de injustiças e na construção de novas formas de pensar e agir no mundo. “Lado B Lado A”, nesse sentido, é uma obra que não apenas retrata a realidade, mas também propõe uma visão crítica e transformadora dela. É uma obra que inspira ação, reflexão e, acima de tudo, mudança.

A relevância de “Lado B Lado A” para novas gerações

A longevidade de “Lado B Lado A” pode ser explicada, em parte, pela sua capacidade de ressoar com diferentes gerações. Apesar de ter sido lançado em um contexto específico, as questões abordadas no álbum continuam a ser pertinentes. A violência policial, a desigualdade social e a marginalização das periferias ainda são problemas que afetam milhões de brasileiros. Por isso, novas gerações de ouvintes encontram em “Lado B Lado A” um retrato fiel de suas realidades e uma inspiração para suas próprias lutas.

Além disso, o álbum também é uma referência musical. A fusão de gêneros e a produção inovadora de “Lado B Lado A” servem de inspiração para artistas que buscam criar músicas que dialoguem com diferentes estilos e culturas. O Rappa, ao misturar reggae, rap, rock e música brasileira, abriu um caminho para uma nova geração de músicos que também desejam explorar essas interseções sonoras.


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