Leila Pinheiro iniciou-se no estudo de piano aos dez anos, no Instituto de Iniciação Musical. Em 1974, Leila desiste das aulas teóricas de música e passa a estudar piano com um conterrâneo, Guilherme Coutinho, músico de talento e presença importante no cenário musical de Belém (cidade onde a cantora nasceu). Em 1981, muda-se para o Rio de Janeiro onde gravou o primeiro LP, o independente “Leila Pinheiro”, produzido por Raimundo Bittencourt. Excursionou com o Zimbo Trio em 1984, realizando uma série de espetáculos pelo exterior, mas o sucesso veio, na verdade, quando ganhou o prêmio de cantora-revelação no Festival dos Festivais (TV Globo, 1985), onde interpretou a canção “Verde”, que foi classificada em terceiro lugar consecutivo e é o primeiro sucesso radiofônico. Em 2001 lançou o CD “Mais Coisas do Brasil”, o primeiro ao vivo da carreira, que também rendeu o primeiro DVD. O repertório trouxe regravações dos antigos sucessos entre outras canções consagradas. Transferiu-se para a independente Biscoito Fino em 2004, onde gravou o CD “Nos Horizontes do Mundo” (2005), cujo título provisório era “Hoje” – que deu título ao álbum lançado por Gal Costa. O sucesso do álbum acabou por gerar o espetáculo homônimo. “Estou envolvida em muitos projetos diferentes… Tenho CD pronto aguardando a hora de ser lançado e em 2018 gravarei 2 CDs”, afirma a singular cantora.
Leila, você desistiu da Faculdade de Medicina para trilhar seus caminhos pelo mundo da música. Em que momento já sentiu que a sua música poderia curar as dores da alma de alguém?
A música ajuda a encarar as dores de amor. Ajuda sim. Digo que quem sofre de amor, nos meus shows sofre um pouquinho mais porque sempre carrego a mão nas canções mais lentas, que fazem chorar mesmo, pensar e sofrer. Isso ajuda a dor a passar. Se estão apaixonados, vão ficar mais ainda. Gosto dessa ideia e meu público parece que gosta também. Desisti da Medicina porque não era mesmo o meu caminho. Nasci numa família muito musical e quero morrer cantando!
A música deve ter um papel social ou isso não deve ser uma obrigação?
A música modifica a vida das pessoas. Ela te põe pra dançar, pra cantar, ela reúne as pessoas, te leva pro fundo, te alegra, ajuda a pensar. Tem quem aprende a ler e a falar outro idioma cantando. Acho isso lindo! Ela educa com facilidade desde sempre e é uma ferramenta poderosa de educação. Pena que o Brasil desperdiça e rouba essa vocação.
É difícil levar a Bossa Nova para os ouvidos que estão acostumados com o jabá entre outros vícios da indústria musical nacional?
Tenho um público fidelíssimo que fui conquistando com os discos que gravei, as minhas músicas tocando nas rádios do Brasil, os shows que faço sem parar. Vivemos um tempo difícil, de mudanças radicais, mas eu acho que os humanos estão indo para um lugar melhor. Não há como retroceder e há de haver um sentido e um porquê pra tudo o que temos vivido. Assim, a música também vem seguindo seu curso. Ela vem se transformando, se adaptando, e hoje um MP3 banal, opera em nós, maravilhas. A indústria é parte do jogo e o jabá é a moeda de troca.
Seria muita pretensão dizer que a Bossa Nova ainda é a música mais conhecida fora do país, ou melhor, aquela que tem um maior reconhecimento internacional?
A Bossa Nova é adorada no Brasil, é muito gravada e cantada aqui e também no Japão, na China, na Coreia do Sul, na Europa, nos Estados Unidos e certamente mundo afora. É a matriz da moderna música brasileira, da música eterna, livre de modismos, riquíssima em harmonia, melodia e farta em letristas e poetas. A Bossa Nova fará 60 anos em 2018 com o mesmo frescor dos anos 60. Segue linda, tocada por Andy Summers, guitarrista do grupo inglês The Police, cantada por uma sul coreana super jovem, num português delicioso. Tudo pode virar Bossa Nova. Roberto Menescal, meu amigo querido, sabe disso. Ano que vem, eu, ele e Rodrigo Santos, baixista que foi do Barão Vermelho, um artista talentosíssimo, gravaremos juntos, o CD “Faz Parte do Meu Show” todo com as parcerias do Cazuza com Frejat em ritmo de bossa. Viva a sexagenária Bossa Nova!
Você afirma que as conquistas no mundo da música são diárias. Os artistas de modo geral, dão conta disso ou esperam sempre o grande momento que às vezes pode não acontecer?
Posso falar por mim. Nada caiu no meu colo e se eu cochilar perco a hora. Vou atrás do que eu quero e sempre foi assim. A música é 90% de trabalho e 10% de glamour, de prazer lúdico.
O que pode limitar um músico que está tanto tempo em uma carreira?
A falta de dinheiro, a falta de visibilidade e de trabalho. Tenho visto com tristeza, muitos colegas em situações bem difíceis.
Como chegou em sua vida a canção “Quando o Amor Acontece”, uma das mais belas do seu repertório?
Ouvi a gravação original de João Bosco. Nunca mais me separei dessa música linda, parceria do João com Abel Silva.
Em 2010 você realizou o trabalho que originou no CD “Meu Segredo Mais Sincero”, que foi um tributo ao músico Renato Russo. Quais as lembranças mais doces desse álbum em especial?
Este é um dos meus discos preferidos. Batalhei muito pra ele existir, trabalhei que nem louca pra me inserir na música pop e densa do Renato, mantendo a minha cara, o meu jeito e acho que consegui. Quis que as pessoas ouvissem com calma a poesia do Renato, ralentei as músicas mais rock and roll e a letra realçava, brilhava inteira. Foi um tremendo desafio. Apesar de ter vendido mais de 20 mil cópias (uma marca alta ainda hoje), não tive muito espaço para apresentar este show. Uma pena!
O que lhe move para estar no palco depois de tantos anos?
Sou uma artista. Preciso estar no palco, cantando, tocando, gravando, buscando o que me desafie, me estimula. A música me chama pra vida todos os dias e o tempo passando tem me trazido a certeza do acerto do meu caminho e das minhas escolhas. Fiz só 57 anos na semana passada. Tenho muito o que viver e muito o que cantar por aí.
No que trabalha atualmente?
Estou envolvida em muitos projetos diferentes… Tenho CD pronto aguardando a hora de ser lançado e em 2018 gravarei 2 CDs. Um só com músicas de Roberto Menescal, amigo querido e grandioso compositor que fez 80 anos este ano. E mais o CD “Faz Parte do Meu Show” – com parcerias do Cazuza com Frejat. Paralelo a isso, participo de shows e discos diversos, gravo em discos de artistas em início de carreira enfim…Vida corrida e muito produtiva.
Leila Pinheiro é a cantora que canta o Brasil como dizem alguns críticos do seu trabalho?
Canto o Brasil, seus compositores e a música brasileira eterna. Tom Jobim é o mestre absoluto e encabeça a lista dos meus grandes mestres. Ele, que cantou e exaltou tanto a beleza, a natureza brasileira.
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