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Liberdade não tem preço para o músico Lobão

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Cantor, compositor, escritor e multi-instrumentista de grande talento, Lobão (nome artístico de João Luiz Woerdenbag Filho), compôs sucessos como “Me Chama” e “Vida Louca Vida”, conhecida na voz de Cazuza. Apesar de ter surgido e conseguido sucesso no ambiente do rock brasileiro nos anos 80, Lobão vem dialogando com outros gêneros musicais ao longo de sua carreira. Em 1988, por exemplo, o disco “Cuidado!” contou com a participação da tradicional escola de samba Mangueira. Em 2010, lançou sua autobiografia “50 Anos a Mil” (com pesquisa do jornalista investigativo Claudio Tognolli), que relata desde suas histórias da juventude, até suas experiências como músico. Em abril de 2013, lançou o livro “Manifesto do Nada na Terra do Nunca”, que aborda em sua visão, o estado de paralisia em que se encontra o Brasil. Neste momento simultaneamente, Lobão escreve seu próximo livro e finaliza o seu novo álbum (“O Rigor e a Misericórdia”), além de percorrer o país com o seu show “Sem Filtro”. “Eu acho a Lei perversa desde que foi criada no Governo FHC. Seu arcabouço é mal constituído, pois, beneficia quem tem o edital com mais visibilidade e mais dinheiro e acaba desviando a grana para artistas consagrados. (…) O Rock morre a cada ano há décadas! Mas aqui no Brasil nem sequer nasceu. Se nasceu, já nasceu morto”, afirma o cantor, compositor, escritor e polemista.

Alguns leitores, seja de entrevistas que você concedeu, ou mesmo de seus livros, lhe consideram um pensador bem informado, honesto e livre de uma ideologia. Qual o preço de ser um livre-pensador no Brasil?

Olha, acredito que a minha liberdade não tem preço. Se tem gente que se incomoda, o problema é todo deles. Me sinto muito bem sendo do jeito que sou.

Você já disse que vivemos um momento riquíssimo na música brasileira, mas que essa música, não chega ao consumidor final, afinal as rádios tocam apenas aquilo que é mais fácil para “digerir”. Como os músicos de qualidade devem tomar as “rádios de assalto” para que o seu som chegue ao mainstream?

Falei isso no início dos anos 2000, mas desde que o Fora do Eixo “encampou” a música independente, o nível baixou muito. E em rádio, não existe mais a menor hipótese de você ouvir uma novidade com qualidade, infelizmente.

Em nossa pesquisa, vimos que duas perguntas são sempre ou quase sempre feitas pra você: se ainda usa drogas e o que acha de ser chamado de polêmico. Essas perguntas de alguma forma, tem lhe deixado cético com o jornalismo cultural, afinal, de 1991 para cá (quando usou drogas pela última vez) já realizou vários trabalhos…

Bem, quanto a primeira, te confesso que não ouço há muito tempo. Nem pensava que isso ainda estivesse em cogitação. Uma vez que anunciei que não uso drogas desde 1991. Quanto ao termo “polêmico”, geralmente é usado por quem quer, nas entrelinhas deixar bem claro que não concorda comigo.

O falecido cineasta Glauber Rocha, dizia que a função do artista é violentar e incomodar. Você não se sente de certa forma sozinho, ao ser um dos poucos artistas que não têm medo de dar opiniões?

Sou um agente provocador, a missão do artista ainda é criar coisas maravilhosas. Tenho o maior prazer em usufruir da minha liberdade e isso só me enriquece e fortalece.

Em uma certa ocasião, você disse que a Lei Rouanet é perversa. Acredita que a diretriz dessa Lei que beneficia quem não precisa, mudaria de alguma forma, se o senador Aécio Neves tivesse ganhado as eleições presidenciais do ano passado, ou considera ser impossível mexer nesse mecanismo atual?

Acho a Lei perversa desde que foi criada no Governo FHC. Seu arcabouço é mal constituído, pois, beneficia quem tem o edital com mais visibilidade e mais dinheiro e acaba desviando a grana para artistas consagrados. Seria melhor se não taxassem tantos produtos, equipamentos e instrumentos musicais e deixassem o showbiz seguir seu caminho natural.

O líder da banda Kiss Genne Simons, afirmou no final do ano passado que o rock morreu, não tendo espaço para roqueiros/compositores. E pra você, o rock’n’roll morreu, ou analisa o cenário de outra forma?

O rock morre a cada ano há décadas! Mas aqui no Brasil nem sequer nasceu. Se nasceu, já nasceu morto. O Brasil é um país muito relativo e “delicado” (apesar dos 60 mil assassinatos por ano) para fazer rock.

Como vê a mídia brasileira atual, já que teve experiências como editor e colunista, além de participar como convidado em rádios e TVs?

Acho que a mídia está cada vez mais bunda-mole, com raras exceções.

Críticos disseram que sua música está mais pop nos últimos tempos. Eles estão corretos nessa afirmação?

Isso é um grande absurdo. Se fosse assim estaria estourado nas rádios. O que é mais pop? “A Vida é Doce” ou “Me Chama?”.

Se puder, poderia falar o que o seu novo CD “O Rigor e a Misericórdia”, terá de diferente dos anteriores?

É todo feito, composto, arranjado, tocado, produzido e mixado por mim. Isso já é, em si o maior diferencial de todos. Fora o repertório que considero o mais bonito e intenso que já fiz.

O que as pessoas podem esperar da sua turnê intimista “Sem Filtro?”.

Não se pode esperar nada de algo imprevisível. A única coisa que garanto é que é intenso e emocional. Muito intenso, muito emocional.

Acredita que em algum momento, o seu ativismo político, ofuscou a sua carreira artística?

Nada poderia ofuscar a carreira de um artista que está focado em fazer um trabalho de pura excelência. Nada mesmo. Fora o fato que estou no meu amplo direito de exercer a minha cidadania. Não nasci pra ficar engolindo sapo.


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