O samba é um dom natural de Lu Carvalho, aprimorado pela convivência privilegiada com sua tia Beth Carvalho, uma das referências no Brasil do samba de qualidade. Mas Lu Carvalho não fica na aba da tia consagrada neste seu primeiro CD, “O Samba Que Eu Sei”. A cantora e compositora carioca, teve a sabedoria de trilhar seu próprio caminho para escrever sua própria história, cruzando influências e vivências na busca do tom contemporâneo deste disco produzido por Misael da Hora, filho do maestro Rildo Hora. A linguagem é a dos tempos modernos, mas está enraizada nas tradições do samba. O convívio privilegiado com os bambas (mestres) cariocas garantiu a Lu, um repertório inédito digno de cantora já conhecida. “Eu sempre soube que um dia cantaria. Desde que comecei a trabalhar com minha tia, fazendo “backing vocal” de seus shows, pisando no palco e sentindo aquela magia que só quem sobe sabe o que é, vendo o povo cantando junto, feliz, esquecendo por algum tempo todos os problemas da vida e se entregando àquela alegria. (…) Posso dizer que tudo que aprendi, que vivi e que me fez me apaixonar pelo samba, foi minha tia quem me mostrou. Ela me levou desde pequena para as grandes rodas de samba, onde pude ver de perto Arlindo Cruz, Zeca Pagodinho, Almir Guineto, Jorge Aragão entre outros bambas, e entender o que aquilo tudo representava”, afirma a sambista.
Você é sobrinha de uma gigante da música brasileira que é a cantora Beth Carvalho. Em quais aspectos o trabalho dela mais lhe influenciou?
Posso dizer que tudo que aprendi, que vivi e que me fez me apaixonar pelo samba, foi minha tia quem me mostrou. Ela me levou desde pequena para as grandes rodas de samba, onde pude ver de perto Arlindo Cruz, Zeca Pagodinho, Almir Guineto, Jorge Aragão entre outros bambas, e entender o que aquilo tudo representava. Poetas, simples, muitos que nem estudo tinham, compondo verdadeiras obras-primas e vivendo a alegria de ser sambista, numa época em que não era “glamouroso ser”. Era muita alegria reunida.
Como fazer um samba que seja original, sem perder a essência trazida por grandes mestres do passado como Cartola e Nelson Sargento?
Acho que tudo que é feito com coração, traz uma essência verdadeira e é claro, a influência que tive desde pequena por causa disso tudo que acabei de falar, conta demais na hora de escolher o repertório, de montar o trabalho. “O Samba Que Eu Sei” mostra bem essa mistura de influência, com a minha vivência, com minha personalidade.
O samba já foi um ritmo marginalizado e perseguido pelo poder, atualmente ele atrai todo tipo de poder. Como um sambista deve agir para que sua mensagem não seja deturpada por esses poderes?
Hoje o samba já ocupa um lugar de respeito, não se precisa fazer ou deixar de fazer muita coisa para que o povo escute e receba a mensagem, basta que seja passada com emoção, com verdade. A luta que foi travada por esses grandes bambas que vai de Cartola e Nelson Cavaquinho a Zeca Pagodinho, Jorge Aragão, Beth Carvalho, Arlindo, etc… foi vencida com maestria. Como diz o Aragão em um de seus sambas: “Respeite quem pôde chegar onde a gente chegou”.
Quando sentiu que poderia alçar voo em uma carreira solo?
Eu sempre soube que um dia cantaria. Desde que comecei a trabalhar com minha tia, fazendo “backing vocal” de seus shows, pisando no palco e sentindo àquela magia que só quem sobe sabe o que é, vendo o povo cantando junto, feliz, esquecendo por algum tempo todos os problemas da vida e se entregando àquela alegria. Mas eu resolvi investir na minha carreira há uns 3 anos atrás quando fiz um show para comemorar meu aniversário e lotei o Bom Sujeito [casa de samba na Barra da Tijuca no Rio de Janeiro]. Depois desse show eu decidi que era a hora.
A crítica sempre compara os cantores atuais com àqueles que já fizeram história. Está preparada para comparações de seu trabalho com os trabalhos de Beth Carvalho e de outras grandes sambistas do passado?
Não sei se existe uma preparação para as críticas e comparações, o que eu acho é que quando acreditamos no trabalho, fazemos com certeza de que é isso que sabemos e gostamos, fica mais fácil enfrentar qualquer situação. Não me imagino sendo comparada a minha tia, porque ela é única, é uma diva. Mas é claro, tenho muita influência musical e até mesmo nos “trejeitos” pois a vida inteira a assisti. Então vamos esperar para ver.
A publicitária Lu Carvalho dá “pitacos” na hora de vender o trabalho da Lu Carvalho cantora?
Sim. Claro, toda experiência que tenho por ter trabalhado com publicidade e marketing acaba sendo importante na minha carreira no momento de pensar num projeto, de criar possibilidades..
Como você se sentiu naqueles minutos antes da estreia no dia 7 de maio no Teatro Rival?
Muito feliz, realizada, claro que um pouco nervosa mas com a sensação de “dever cumprido” sabe. Há 2 anos gravando, escolhendo repertório e ali estava, CD pronto, lançamento no Teatro Rival, casa tradicionalíssima de samba, lotada, muito bom.
Você sempre destaca os compositores assim como outros sambistas. Seriam os sambistas mais generosos com os seus parceiros musicais, do que outros músicos que atuam em estilos musicais diferentes?
Olha, não sei se isso é uma característica do samba mas sei com certeza que foi mais uma influência da minha tia na minha vida. Os grandes poetas ficam, na maioria das vezes, atrás dos bastidores, sem que ninguém saiba quem são. Muita gente canta sucessos e não tem nem ideia de quem compôs. Minha tia sempre valorizou e exaltou os compositores que são os verdadeiros responsáveis pelo artista estar no palco. Além disso, sou compositora também e é muito bacana ouvir sua obra e saber que o povo sabe que foi você que compôs. É o retorno do trabalho.
Como está sendo a recepção do seu álbum “O Samba Que Eu Sei?”.
Muito bacana, tenho recebido muitos elogios, as pessoas dizem que é um CD feliz. A minha intenção era essa mesmo, cantar alegria, o “Amor que dá certo”. Os arranjos estão muito lindos, cuidadosamente preparados por Misael da Hora, maestros Rildo Hora, Ivan Paulo e Bóris. É um CD que mistura a tradicionalidade com a modernidade. A raiz com as influências atuais. Acho que deu super certo.
Temos várias canções no seu disco, onde o samba de roda se faz presente. Parece que você se sente muito bem trabalhando com samba de roda não?
Gosto muito. Assim como gosto de todas as vertentes do samba. Como falei ao longo da entrevista, eu conheci o samba nas rodas. Ali o povo do samba se reúne e trocam suas experiências, sambas antigos, sambas modernos, partidos, sambas de roda, versos, não tem fim… É muita coisa boa que surge, os partideiros versando ali, na hora, os versos vêem como uma “luz divina” mesmo… é incrível.
Arlindo Cruz, Serginho Meriti, Nelson Rufino e tantos outros. Como foi reunir esses gigantes em torno do seu trabalho?
Foi muito prazeroso receber sambas desses compositores maravilhosos, eu recebi muita coisa boa, me senti honrada. Chegou uma hora que eu não sabia o que fazer, o CD tinha pelo menos 20 músicas maravilhosas. Assim que eu resolvi gravar liguei pessoalmente pra eles, ou mandava e-mail, e eles mandavam os sambas. O Meriti e o Arlindo me mandaram dois sambas e os dois entraram. A música ‘Ah! Se eu soubesse’ que o Arlindo canta comigo no CD, chegou aos 45 do segundo tempo. O CD fechado, Arlindo me liga e canta pelo telefone a música. Eu gostei tanto que acabei tirando uma e a incluindo no CD.
Você já foi inspiração para a canção “Cantiga Por Luciana” de Edmundo Souto e Paulinho dos Tapajós. Alguma coisa tem lhe inspirado para uma canção de sua autoria?
Eu me considero uma pessoa apaixonada pela vida, pelas pessoas… mas hoje a minha inspiração maior é o amor que sinto em cantar samba. Desde que resolvi voltar a cantar a inspiração me dominou. Cheguei a compor 5 músicas numa semana! Nesse tempo que eu iniciei o trabalho, de uns três anos pra cá, já fiz mais de vinte músicas.
Você é carismática, canta bem, tem uma vivência musical respeitável e está cercada por grandes mestres. Podemos dizer que estamos vendo surgir outra grande sambista no cenário nacional?
Isso eu vou esperar o povo me dizer, o que posso afirmar é que canto com a minha alma e com meu coração e que o samba, é a minha vida.
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