Neta de imigrantes japoneses, a escritora baiana Luciana Nagao procura preservar traços e influências positivas dessa mistura oriental e rural brasileira. “Raízes – A Força da Minha Origem” busca expressar os vínculos familiares e regionais a partir de uma narrativa direcionada especialmente àqueles com pouco acesso aos livros. A linguagem simples vem apoiada de recursos que tornam a leitura ainda mais leve e prazerosa, como frases curtas e letras maiores. Antes da introdução, a autora anuncia que o leitor encontrará palavras que talvez não conheça. Por isso, elas estão destacadas em negrito com um asterisco, complementado com a devida explicação. Arrendado, pinguela, embornal e matutei são algumas palavras que compõem o dicionário. O cunho regional de muitas expressões é explicado pela ambientação da obra, a Bahia, no final da década de 1970. É nela que o romance avança pelos anos ao narrar a história de um rapaz que viveu a infância e adolescência no meio rural sem poder ir para a escola. A perseverança do protagonista torna a trajetória um exemplo para quem, com amor e bons princípios, encara as mais duras lutas. Em páginas intercaladas ou entre capítulos, a autora propõe uma conversa com o leitor para que responda questões relacionadas ao enredo como um exercício prático de fixação e troca. Além da escrita, a interação também acontece por meio de desenhos e pinturas.
Lu, como as observações externas moldam a sua escrita?
Ao perceber a necessidade de incentivar o gosto pela leitura entre o público que está afastado dos livros, optei por utilizar uma linguagem mais simples para facilitar a compreensão. Além disso, a interatividade, presente no cotidiano de muitas pessoas (como no caso das redes sociais), foi outro ponto importante que observei e que incluí no meu estilo de escrever.
O que você encontrou nessas observações e que foram cruciais para “Raízes – A Força da Minha Origem”, o seu mais recente livro?
Sabia que havia um público que poderia retomar o gosto pela leitura. Percebi que precisava oferecer uma proposta diferente, então desenvolvi uma história intercalada com várias atividades e reflexões. Acredito que consegui unir elementos que tornaram o livro um passatempo agradável e envolvente.
Quais os principais vínculos culturais de Japão e Brasil e que você acredita ter colocado em sua obra?
Por ser neta de imigrantes japoneses e brasileira nascida na Bahia, tenho as duas culturas presentes na minha origem. Tanto meus avós quanto meus pais tiveram experiências no meio rural e por isso trago essa influência no livro, principalmente no início da história.
Qual a importância desses vínculos em sua visão?
Os vínculos são importantes para o resgate às raízes, uma das propostas do livro. Cada um de nós possui uma história que vem de várias gerações e muitas vezes desconhecemos. Fazer esse resgate pode ser enriquecedor, pois, o objetivo é focar nas boas memórias do passado.
Por que as reflexões são o grande norte desse livro?
A maioria das pessoas vive apressada, sem tempo para refletir sobre assuntos relevantes. A pandemia nos mostrou que precisávamos de uma pausa urgente, para repensarmos sobre nossos hábitos e nossa vida de maneira geral. Quando ofereço convites para reflexão, na verdade, são pequenos instantes de atenção e presença, com o objetivo de ajudar o leitor a melhorar suas escolhas e atitudes.
Como essas reflexões foram de encontro com a democratização que você trouxe para essa leitura?
São reflexões a respeito de coisas bem simples do dia a dia, por isso a democratização. Os temas abordados a princípio podem parecer óbvios, mas muitos não praticam. Não importa a fase da vida em que o leitor se encontra ou sua classe social, basta estar atento aos aprendizados.
Em que momento a democratização da leitura se tornou fundamental para você?
A partir do momento que entendi que cada um de nós pode contribuir de alguma maneira para termos uma sociedade com menos desigualdades. Precisamos ajudar aqueles que necessitam de oportunidades e incentivo. De nada adianta ficarmos reclamando, culpando os governantes ou achando que não tem solução. Sei que minha contribuição é pouca, mas meu livro tem feito diferença na vida de muitos leitores.
Por onde passa essa democratização?
Tenho vários projetos para levar o livro “Raízes – A Força da Minha Origem” para diferentes grupos que considero “esquecidos”. Por exemplo: lares de longa permanência, EJA (Educação para Jovens e Adultos), clínicas de reabilitação (dependentes químicos, problemas emocionais ou físicos). Se olharmos para essas pessoas com respeito e oferecermos algo, que seja um livro, para promover resgates importantes, ensinamentos, motivação e força, acredito que seja uma democratização com fins de inclusão. Um futuro melhor, com menos desigualdades, depende da união de todos.
Facilitar a assimilação dos leitores do conteúdo que se quer passar, seria a principal forma dessa democratização?
Sim, pois, não adianta escrever um livro interessante e o leitor não entender. Esse é o primeiro motivo que o leva a desistir dos livros, ficando com várias impressões negativas: “Ler é chato”, “Não consigo/sei ler”, “Não gosto de ler”. O processo de escrita desse livro demandou a escolha de palavras com grafia mais simples, justamente para ajudar na compreensão e dar fluidez na leitura. Conseguir ler e entender é uma vitória para muitas pessoas e um passo importante para o interesse por outros livros.
Como tem sido o feedback dos leitores?
Tem sido surpreendente. Quando lancei o livro em outubro de 2020 não tinha noção de como seria a aceitação, já que era algo novo em minha vida. O resultado foi tão positivo que em fevereiro de 2021 publiquei a 2ª edição. Recebo vários depoimentos que me incentivam a continuar a escrever nesse mesmo estilo e sinto que estou no caminho certo.
O que você deixaria como atrativo para quem ainda não leu “Raízes – A Força da Minha Origem” e que está com curiosidade de conhecer a obra?
Para quem deseja conhecer ou relembrar um pouco sobre a vivência no campo, na roça, o livro possui um conteúdo que se aproxima da experiência de muitos trabalhadores rurais. Por ser interativo, a participação do leitor é fundamental, com espaço para escrever, desenhar, pintar e refletir. É um livro para ser lido em vários estágios da vida, já que estamos em constante transformação.
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