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Luisa Strina fala sobre liberdade artística

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A história da Galeria Luisa Strina, a mais antiga galeria de arte contemporânea de São Paulo, se mistura com a trajetória profissional de Luisa Strina. Em 1970, começou como marchand dos amigos e artistas Wesley Duke Lee, Fajardo, Baravelli, José Resende e Babinski. Em 1974, abre a Galeria Luisa Strina no antigo estúdio de Baravelli, quase que em mutirão, mas já com uma linha de trabalho definida: mostrar a produção de artistas nacionais e estrangeiros, num movimento de mão dupla, dentro e fora do país. Assim, no mesmo ano, trouxe pela primeira vez ao Brasil obras dos artistas pop americanos Roy Lichstenstein, James Rosenquist, Jim Dine e Andy Warhol. Luisa Strina lançou diversos expoentes da nova geração no mercado, como Leonilson, Cildo Meireles, Tunga, Antonio Dias e Edgard de Souza. Em 1992 foi a primeira galeria latino-americana convidada a participar da seleta Feira de Arte de Basel. Atualmente, a Galeria Luisa Strina representa uma mistura de artistas consagrados e artistas emergentes, sempre mostrando o que há de melhor na arte contemporânea nacional e internacional. “Galeristas fomentam a produção, divulgam a obra dos artistas, fazem a mediação institucional para que a produção dos artistas circule no Brasil e internacionalmente, além de fomentar igualmente a cultura de aquisição de obras de arte”, afirma a renomada e mais influente galerista brasileira.

Luisa, como enxerga o mundo das artes em nosso país se compararmos com outras nações desenvolvidas?

A arte contemporânea brasileira está entre as mais relevantes produções artísticas da atualidade, com reconhecimento constantemente reafirmado por exposições nos museus mais importantes do mundo. O mundo das artes, entretanto, não se restringe à arte propriamente dita, mas engloba toda a economia das artes.

Neste ano, tivemos um retrocesso tremendo quando os aeroportos passaram a cobrar pelo valor de mercado, e não mais pelo peso, as taxas de armazenagem sobre a entrada temporária de obras de arte no Brasil, processo que afetou a programação dos museus, galerias e até da Bienal de São Paulo, a segunda mais antiga e tradicional do planeta!

Felizmente, uma resolução recente do Conselho de Aviação Civil revogou a cobrança abusiva. Mas este é apenas um exemplo de descaso com o meio de arte que precisa mudar muito, em comparação ao respeito e ao entendimento da arte em outros países.

Qual o papel do galerista neste cenário?

Galeristas fomentam a produção, divulgam a obra dos artistas, fazem a mediação institucional para que a produção dos artistas circule no Brasil e internacionalmente, além de fomentar igualmente a cultura de aquisição de obras de arte. Uma galeria não vende apenas para grandes coleções, sejam públicas ou privadas, mas também para o comprador ocasional ou os jovens que começam a sentir a importância de estar cercado por objetos que provocam a imaginação, que afetam o cotidiano, fazem pensar, fazem bem à alma.

O galerista pode ser considerado um educador ou a sua visão sobre esse tema é diferente?

Sim, tanto pelo papel de formação de um novo público quanto pelo aspecto, muito comum no Brasil, de organizar exposições que poderiam perfeitamente estar num museu; ou seja, porque as instituições brasileiras ainda não estão definitivamente consolidadas (com frequentes problemas de verba ou gestão, etc.), cabe muitas vezes ao galerista a função de museu: mostrar o pensamento de ponta da arte contemporânea.

Você representa vários artistas da América Latina. Como a América Latina está inserida no contexto global do mundo das artes?

A arte latino-americana, em geral, tem a mesma presença da arte brasileira em particular no mundo. Ela gera interesse, ela altera as narrativas sobre a história da arte (Alejandro Otero, venezuelano, e Lygia Pape, por exemplo, hoje não ficam de fora de qualquer manual de arte geométrica e construtivista; assim como Cildo Meireles e a colombiana Doris Salcedo têm suas obras discutidas em qualquer livro didático sobre arte conceitual no mundo, e assim por diante).

Que palavras fizeram parte do seu norte para o seu triunfar como galerista?

Curiosidade, audácia, trabalho, trabalho e trabalho.

O que não pode faltar em uma exposição idealizada por você?

O Impacto.

A arte deve ter algum papel social?

Não obrigatoriamente. A grande função da arte é não ter função, por isso mesmo ela é tão importante, porque o resto é pautado, atualmente, pela utilidade, a competência, rendimento, eficiência. O papel social da arte é determinado pelo discurso de cada artista; alguns se dedicam a projetos voltados à integração entre arte e vida, outros preferem discutir a própria natureza da arte. O artista é livre para produzir arte sobre qualquer tema, social ou não.

Existe uma curadoria perfeita em sua visão?

Boas curadorias são aquelas que auxiliam na compreensão das obras, que jogam luz sobre aspectos inexplorados na pesquisa de algum artista ou grupo de artistas. A curadoria bem realizada é aquela que faz uma boa mediação entre a arte e o público, que ensina a ver o mundo (ou o mundo da arte) de uma maneira nova.

Em que momento de sua trajetória acredita ter chegando a essa perfeição?

Não sou curadora. Nem muito menos perfeita. A perfeição é algo que se persegue e não algo a que se chega algum dia.

Gostaria que falasse um pouco das exposições atuais da Galeria Luisa Strina.

No momento estou mostrando dois jovens artistas, Clarissa Tossin e Pedro Motta, duas apostas minhas, que em alguns anos estarão entre os nomes mais importantes da arte atual.

O que irá direcionar o futuro de sua galeria?

A arte, sempre.


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