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Marcio Kogan enxerga seu ofício com pluralismo

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Marcio Kogan está no rol dos grandes arquitetos do país. Ele é formado pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie em 1976. Também é filho do engenheiro Aron Kogan, que se tornou conhecido nos anos 50 e 60 por projetar e construir grandes edifícios em São Paulo, como os edifícios São Vito e Mirante do Vale (maior arranha-céu do Brasil, com 170 metros). Durante os primeiros anos de carreira, Marcio dividiu a atividade de arquitetura com a do cinema, em parceria com Isay Weinfeld (seu colega de faculdade). Desde 2001, o escritório de Marcio Kogan passou a se chamar Studio mk27, começando a ganhar maior projeção internacional. Atualmente, além da produção no Brasil, têm projetos em países como Uruguai, Chile, Peru, Estados Unidos, Canadá, Espanha, Portugal, Suíça, Índia, Israel e Indonésia. Os trabalhos de Kogan se caracterizam pelo detalhamento arquitetônico, simplicidade formal, forte relação entre espaço interno e externo, grande conforto climático sobretudo através de sustentabilidade passiva, uso de volumes puros, aplicação de elementos tradicionais da arquitetura brasileira como os muxarabis e pelo desenho de plantas internas funcionais. “Tenho uma ligação forte com o cinema desde os meus estudos na universidade. Na escola, minhas influências vinham do cinema, da arte, da literatura, do triste momento político por qual passávamos e nunca da arquitetura.”

Marcio, o seu pai, o engenheiro-arquiteto Aron Kogan, foi um dos responsáveis pela construção de vários edifícios na cidade de São Paulo. Ele é a sua maior influência?

Ia com meu pai às obras dele até os oito anos quando ele faleceu. Uma das minhas mais antigas lembranças era eu com ele de mãos dadas numa laje em construção, num andar qualquer de um prédio qualquer. Desde este momento já era um arquiteto. Morei numa casa que ele projetou e era exatamente igual à Villa Arpel do filme “Meu Tio”. Como no filme, a minha casa era moderna e repleta de tecnologia que nunca funcionava.

O que mais se fala sobre o seu trabalho, é que ele tem uma simplicidade formal, uma forte relação entre espaço interno e externo, além do detalhamento arquitetônico. Quando você sentiu que tinha encontrado todos esses aspectos, que é o seu diferencial?

Quando começamos a desenhar uma planta ela tem 2.000 linhas que no final serão 200. Sofro de TOC (Transtorno Obsessivo Compulsivo) o que faz com que trabalhemos ad aeternum [expressão latina que quer dizer “até o infinito”] em cada projeto e em cada cantinho do projeto, obviamente estourando todo o nosso orçamento. A Mariana Simas, que cuida da administração do escritório, está prestes a me demitir.

Você diz que sua formação dentro da arquitetura era cinematográfica. Como foi isso?

Tenho uma ligação forte com o cinema desde os meus estudos na universidade. Na escola, minhas influências vinham do cinema, da arte, da literatura, do triste momento político por qual passávamos e nunca da arquitetura. Quando me formei não sabia nada de arquitetura. Durante esse tempo fiz 13 curtas e finalmente um longa-metragem em 1988. Isto criou espontaneamente um processo de trabalho para mim.

O seu processo de criação como arquiteto se assemelha em algum ponto com o processo de criação de um cineasta?

Sou bastante cinematográfico nos primeiros momentos de um projeto: Sempre crio um personagem que vai viver ou utilizar o espaço em questão. Ele tem uma história de vida. Movimenta-se constantemente pelo projeto. Sente as proporções, diminui a altura do teto, empurra paredes, olha pela janela ou simplesmente tira a janela daquele lugar. Não gosta de portas. Sobe e desce pelas escadas e vai experimentando várias alternativas. Vai ao jardim que ainda não existe, olha a fachada, resolve modificar tudo outra vez. Planta uma bela árvore e volta para dentro. No fim está razoavelmente contente com o que criou e vai dormir na enorme cama que empurrou um pouquinho para a direita.

Por que você acredita que no Brasil, ainda temos pouca discussão sobre arquitetura, afinal ela também é uma forma de arte tão viva como é a pintura e a literatura?

A arquitetura é de suma importância para as pessoas. Ela pode fazer um mundo melhor. O Brasil foi um exemplo dos anos 40 aos anos 60 produzindo uma arquitetura modernista de excelência. Walter Gropius, fundador da Bauhaus fala que enquanto a Europa, cheia de ódio, se destruía, o Brasil construía a Paz, referindo-se ao Ministério da Educação e Saúde, obra icônica modernista construída durante a Segunda Guerra Mundial. A partir daí uma sucessão de obras que culminam com a construção de Brasília, fazem do Brasil uma referência mundial. Com a ascensão do Regime Militar a arquitetura brasileira, feita basicamente por arquitetos esquerdistas, é jogada no lixo. Até hoje perdura uma arquitetura pública de baixíssimo nível, ligada a um sistema corrupto cujo resultado pode ser visto nas nossas grandes cidades carentes de planejamento urbano. Todos estes fatos transformaram, no Brasil, a arquitetura e o urbanismo num assunto sem importância. Participei das duas últimas Bienais de Veneza e vi que todos os outros pavilhões tinham a presença de reis, rainhas, presidentes e ministros nas cerimônias de abertura. Arquitetura é coisa séria.

Uma grande parte de seus trabalhos são realizados em coautoria com outros profissionais, e em outros como o Edifício Ijis em São Paulo, você é o único autor. Quais são as principais diferenças no quesito planejamento entre esses dois modos de trabalho, além é claro da óbvia colaboração quando se é coautor?

Todos os trabalhos do Studio mk27 têm coautores. São arquitetos que colaboraram intensamente com o projeto e têm que ter reconhecimento. Pensamos assim. O Edifício Ijis foi a minha primeira obra quando ainda era um bebê-arquiteto. O Studio prega o trabalho em equipe e sou apenas uma peça da engrenagem. Tenho prazer em dividir os méritos. A arquitetura como o cinema é um trabalho coletivo.

Por que você acredita que é pouco provável que um arquiteto realize um grande trabalho antes dos 40 anos?

É um trabalho de formiguinha, é construção, um grãozinho depois do outro, um constante aprendizado. Uma corrida de longa duração. Adoro isto!

Arquitetos de modo geral dizem que as obras devem emocionar acima de tudo. Em qual de suas obras logo após serem finalizadas, essa emoção se fez mais forte e presente?

Na realidade, quando vejo uma obra pronta minha reação é sempre crítica. Fico olhando para cada canto e pensando que poderia fazer melhor. Nunca julgo que está demais. Meu sentimento sempre é que poderia ficar melhor. Odeio este meu lado que abdica de um momento de prazer.

Goethe dizia que “arquitetura é música petrificada”. E para você, o que é a arquitetura?

Tinha esquecido esta frase genial. Vou adotá-la!

Poderia nos dizer em quais projetos trabalha atualmente?

O escritório espontaneamente se internacionalizou bastante nos últimos anos, o que nos salvou um pouco desta barbaridade que assola o nosso querido país. Estamos desenhando casas em vários lugares, desde Tel Aviv até uma nas montanhas nevadas do Canadá. Alguns hotéis, em Bali e um de 6 quartos em Santa Tereza, o centro de produção do teatro Municipal do Rio de Janeiro (uma obra que temos muito carinho) e uma loja em São Paulo para um querido cliente-amigo, Houssein Jaruche.

Você diria que a arquitetura atual, tem iluminado e enriquecido a experiência humana?

Enormemente. Ela tem o poder de transformar nossas vidas para melhor e tem provado isso pelo mundo afora, desde o exemplo das cidades colombianas que sofreram intervenções arquitetônicas que ajudaram em todos os índices de qualidade de vida; projetos maravilhosos de escolas na África até situações mais óbvias nos sofisticados países desenvolvidos.


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