Mariciane Pierin Gemin é sócia-fundadora da S7 Consulting e membro do Comitê de Governança e Compliance do IBEF-PR. O Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças do Paraná (IBEF-PR) é uma instituição sem fins lucrativos, que congrega executivos de finanças dos vários segmentos da atividade econômica do Paraná: executivos das áreas de indústria, comércio, consultorias, empresas de serviços, auditorias, instituições financeiras (bancárias e não-bancárias) e instituições governamentais. Através de seus comitês de Finanças, Compliance e Riscos, Tributário e Empresarial, Inovação e Desenvolvimento de Executivos, o IBEF-PR realiza vários eventos, discussões e compartilha conhecimento para contribuir com o desenvolvimento dos profissionais de finanças do Paraná. “Quando o corporativismo ou a cultura de que as coisas “sempre foram assim” impedem que o sistema evolua. Em resumo, toda organização que tem um programa de Compliance para gestão de riscos, precisa contar com os gestores para que ele seja vivo e constantemente aplicado. Quando a gestão de riscos é abraçada pela liderança, todos são embaixadores da integridade no dia a dia. E é assim que deve ser, são as pessoas que agem em nome da organização, acessam stakeholders externos e representam a cultura e o que é aceitável ou não”, afirma a membro do Comitê de Governança e Compliance do IBEF-PR.
Mariciane, liderança e ética devem andar juntas nas organizações sempre?
Em qualquer segmento de atuação, liderar é também garantir ética nas organizações. Depois de tudo o que vimos acontecer com a reputação de negócios nos últimos anos, isso não é um diferencial, é pré-requisito. As companhias precisam de líderes que sejam exemplos. Isso mesmo, que internalizem as legislações, saibam o que o consumidor valoriza, e que trabalhem e engajem todos os dias, em tudo que fazem.
O líder é o grande responsável pela ética nas organizações?
O líder não é o único responsável, mas deve ser um exemplo de conduta ética a ser seguido.
Quais os pilares de uma empresa que está sob a égide da ética?
Em geral, as empresas que estão preocupadas em garantir ética aos negócios trabalham com uma governança de Compliance, estruturada por sistemas de controles formais, códigos de ética, capacitações, ouvidorias e canais de denúncia. Mas tê-los não é o suficiente, é preciso que tenham o foco certo, funcionem e que as pessoas saibam como operar. Afinal, são elas que tomam decisões, fazem a gestão de times e preveem cenários diante de um mundo que se prova, a cada dia, ser volátil, incerto, complexo e ambíguo.
Em que momento o corporativismo pode prejudicar a ética de uma empresa?
Quando o corporativismo ou a cultura de que as coisas “sempre foram assim” impedem que o sistema evolua. Em resumo, toda organização que tem um programa de Compliance para gestão de riscos, precisa contar com os gestores para que ele seja vivo e constantemente aplicado. Quando a gestão de riscos é abraçada pela liderança, todos são embaixadores da integridade no dia a dia. E é assim que deve ser, são as pessoas que agem em nome da organização, acessam stakeholders externos e representam a cultura e o que é aceitável ou não.
Quais os grandes prejuízos que um discurso desalinhado com a prática pode trazer para uma organização?
Um discurso desalinhado com a prática traz prejuízos a curto prazo, principalmente no clima da companhia e no aumento do turnover e nos passivos trabalhistas. Ética e Reputação são fatores cruciais para retenção ou perda de talentos de alta performance.
É possível reverter esses prejuízos?
Sim, há diversos exemplos de companhias que perceberam que precisavam evoluir em seus posicionamentos, cultura, controles e sistemas de gestão para garantir que erros do passado pudessem ser corrigidos. Essas companhias, em geral, adotaram mais transparência em suas atuações para garantir ética aos negócios.
A era do líder que trazia resultados (e que era antiético) acabou?
Cada vez mais essa postura tem sido desestimulada, porque ela traz riscos e custos a curto prazo para a organização.
Qual o papel do Compliance para o “trilho não descarrilhar?”.
Um sistema de Compliance robusto e amplamente divulgado dá ciência a todos do que é ético e o que está desalinhado com os comportamentos aceitáveis pela organização. Além disso, dá ferramentas para que os colaboradores, clientes e parceiros possam reportar condutas antiéticas, protegendo o denunciante. Somado a isso, o sistema de Compliance efetivo é rápido, eficiente e evolui e aprende a cada situação nova que precisa ser apurada.
Uma organização ética tem mais oportunidades de sobressair no mercado?
As organizações éticas tendem a sobressair-se no mercado. Recentemente, a BlackRock, a maior gestora de ativos do mundo, publicou uma carta aos CEOs incentivando que invistam em fatores ambientais, sociais e de governança – os chamados investimentos ESG. De acordo com um estudo da gestora de investimentos, no ano passado, as empresas com investimentos ESG foram mais resilientes. Além disso, elas tendem a se envolver menos em casos de corrupção e fraudes.
A retenção de talentos também passa por esse quesito?
Com certeza. Ninguém se sente motivado para trabalhar para uma liderança que não tem uma conduta ética e coloca os subordinados em situações de assédio. Além disso, os colaboradores querem ter orgulho de participar de processos seletivos e de trabalhar em empresas que são admiradas. Ninguém quer ter sua carreira atrelada a marcas e companhias que são malvistas pelo mercado ou pelo consumidor.
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