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Marina Lima analisa a música popular brasileira

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A cantora e compositora Marina Lima iniciou a sua carreira em 1977, quando teve uma canção gravada por Gal Costa, “Meu Doce Amor”. Decidiu musicar um dos poemas do irmão mais velho, Antonio Cicero e obteve reconhecimento. De volta ao Rio de Janeiro, assina um contrato e lança o primeiro LP, “Simples Como Fogo” em 1979. No começo dos anos 1990, assina como Marina Lima, e não apenas Marina. Marina Lima participou do especial Mulher 80 (Rede Globo). O programa exibiu uma série de entrevistas e musicais cujo tema era a mulher e a discussão do papel feminino na sociedade de então, abordando esta temática no contexto da música nacional e da inegável preponderância das vozes femininas, com Maria Bethânia, Fafá de Belém, Zezé Motta, Marina Lima, Simone, Elis Regina, Joanna, Gal Costa, Rita Lee e as participações especiais das atrizes Regina Duarte e Narjara Turetta, que protagonizaram o seriado Malu Mulher. Em 2000, retorna aos palcos com “Síssi na Sua”, um espetáculo com influência teatral. Em 2003, grava o acústico MTV. Em 2009 Marina planejava lançar o registro em DVD do show “Primórdios” e o CD de inéditas que veio preparando desde o início daquele ano, contando com a produção de Edu Martins, que ficou para 2011. O principal letrista parceiro de Marina é o irmão Antonio Cicero, também musicado por outros grandes nomes da MPB. Neste mês Marina lança “Novas Famílias”, o seu vigésimo primeiro álbum.

Marina, como analisa o cenário musical do país atualmente?

O Brasil é um país muito rico ritmicamente. Veja, por exemplo, guitarrada, guarânia, tecnobrega, axé, funk, samba, sertanejo. Há uma variedade enorme, eu gosto disso, pois, me estimulam a mexer, a criar, a compor… Existe um problema nas letras, muitas são repetitivas, bobas, preconceituosas, mal feitas… Mas no meio desse joio todo, há trigo. Podemos encontrar pérolas mesmo.

Esperava ver as pessoas se tornarem cada vez mais conservadoras “nessa altura do campeonato?”.

Acho que isso é cíclico, não só no Brasil como no mundo todo. Penso que a direita sempre é mais organizada. Então, quando a esquerda ou libertários, conseguem avanços, costumam comemorar e abrir a retaguarda, o que dá chance da direita se reorganizar e atacar de novo. Seria bom se os partidos de esquerda e pessoas que prezam sua liberdade individual, fossem mais organizados também. Isso dificultaria mais a direita que volta e meia reaparece forte e assola o mundo.

Quando você acredita que a arte deve ter um papel mais social?

Bom, pela formulação da pergunta você já sabe que eu não penso que a arte tenha que ter esse papel fundamentalmente. Mas é muito bom quando uma canção, uma música, um tema, vira um hino pra vida de alguém, ou seja, fortalece, encoraja, revigora, faz o indivíduo reagir à qualquer sentimento de repressão. Por exemplo, “Pra Começar”, do Cicero [no caso o compositor, poeta, crítico literário, filósofo, escritor e imortal da ABL, Antonio Cicero] e minha, “Imagine” do John Lennon, o álbum “American Life” da Madonna, várias canções do Legião Urbana… Chico Buarque é mestre nisso também, Caetano com “É Proibido Proibir”, Criolo, Karol Conka e por aí vai.

O risco é o combustível de uma artista que tem uma obra tão vasta como sua?

Com certeza. Não dá gosto ficar se auto-plagiando. É bom arriscar caminhos novos.

Em que momento de sua carreira esse risco falou mais alto?

Em alguns momentos cruciais, por exemplo, “Próxima Parada”, “Pierrot do Brasil”, “O Chamado”, “Abrigo”, “Clímax”. O risco faz parte da minha personalidade.

A sensação quando lançou o seu primeiro álbum “Simples Como Fogo” foi de risco, libertação ou de inquietude?

Inquietude, você disse bem. Eu tinha 19 anos, já me sentia bem livre pra fazer o que quisesse, ainda mais acompanhada do meu irmão. Era uma inquietação e uma vontade de mudar o que se fazia no Brasil na época.

Sua música é considerada sofisticada. Em que momento você acredita que encontrou essa sofisticação?

Olha, eu aprendi música desde cedo, com diversos professores. Isso foi depurando a minha percepção musical. Quando eu assinei o contrato com a Warner, aos 17 anos, eu já havia convivido com músicas de diversas partes do mundo, música americana, inglesa, latino-americana e principalmente música brasileira. E o fato de ter morado fora dos 5 aos 12 anos, me deu ainda mais esse conhecimento. Desde cedo eu venho passando esses estilos musicais pelo meu liquidificador próprio, e creio que seja muito daí que surja o meu estilo musical. Dessas misturas todas.

Você já disse em uma certa ocasião, que não gosta de derramamentos. Em qual dos seus álbuns você acredita que encontrou uma certa concisão?

Olha, sem modéstia, na maioria. São poucos que eu implico, justamente por esses motivos, como “Desta Vida, Desta Arte” e “Todas” de estúdio. “Olhos Felizes” e praticamente todos os restantes que são acho 18 ou 19, eu gosto.

Por que a música eletrônica tem lhe atraído tanto?

Pelos timbres! O resto todo já foi inventado na música. O que a música eletrônica trouxe foram os timbres novos e uma facilidade em se criar rascunhos, composições, arranjos tudo em programas de computador que simulam qualquer som. Por exemplo, eu posso criar no logic, um programa de computador, um arranjo com cello, cordas, clarinete, mesmo que depois eu substitua pelo instrumento original.

Como está a preparação do seu novo álbum que fala sobre questões políticas do país e do mundo?

Está ótimo. O disco está pronto, é um disco de inéditas. Dia 23 de fevereiro saiu o primeiro single, “Só os Coxinhas”, de autoria minha com meu irmão Cicero e dia 16 de março sai o disco mesmo, “Novas Famílias”. Estou bem animada.

Quais os principais erros que as pessoas cometem ao falar sobre você?

Eu não sei, falam tanta coisa… Desde me acharem antipática, climática, eu nem sei, porque as coisas que não batem ou não me interessam eu nem gravo.


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