Leandro Martins de Almeida é CEO da Matrix Intercom. O empresário trabalhou por muitos anos com o pai em uma empresa que vendia couro. Após essa experiência em vendas ao lado pai, ele decidiu abrir uma empresa de couros ao lado do irmão e começou atuar no segmento de importação/exportação e de construção. A Matrix Intercom é uma empresa de importação de produtos da China e Paraguai. Os produtos são roupas de cama, mesa, banho e lingerie. A Matrix existe desde 2010 e nos últimos anos a empresa registrou crescimento de 35%. As vendas da empresa são por atacado e o volume é maior no Grande Rio, Nordeste e São Paulo. “As importações sofreram um grande impacto no início da pandemia. Não só por conta de problemas no país fornecedor (China), que por conta do lockdown ficou um tempo sem entregar os pedidos, mas também porque algumas mercadorias ficaram retidas quando chegaram ao Rio. Soma-se a isso que a demanda caiu muito em março e abril, por conta do comércio fechado e um e-commerce ainda muito tímido no país, o que gerou um grande impacto negativo no setor, no primeiro semestre. Mas os auxílios do Governo injetaram dinheiro no mercado e, com a reabertura do comércio, o setor vem se recuperando rapidamente. Quem conseguiu sobreviver, cortar gastos e segurar os primeiros dois meses, vai acabar saindo fortalecido, porque a concorrência de certa forma diminuiu”, afirma o empresário.
Leandro, como a experiência de trabalhar com o seu pai influiu em sua vida profissional?
Eu e meu irmão (gêmeos) começamos a trabalhar muito cedo com o meu pai, que tinha um curtume, em Nilópolis, e uma loja de couro, na Penha, no Rio de Janeiro. Desde muito pequeno, eu estava sempre com ele nas lojas, nos negócios. Aos 12 anos, já comecei a ajudar. Acordava cedo, ia para as lojas e fazia tudo quanto é tipo de serviço: ia ao banco, atendia cliente. Quando fiz 17 anos, montei uma loja ao lado do negócio dele e passei a vender produtos derivados do couro: cola, botão, e artigos para confecção de roupas, botas, luvas e móveis. Trabalhei com couro até os 22 anos, foi quando passei a atuar com tecidos e a investir no negócio de importação e exportação para a China.
Meu pai sempre me ensinou o valor do trabalho e de alcançar minhas próprias conquistas. Tudo o que eu pedia, ele dizia que eu tinha que trabalhar para conseguir. Mesmo tendo condições de me dar, ele fazia a gente correr atrás. Isso me motivou muito a lutar pelo que eu queria. Esse foi o ensinamento mais importante que ele me passou: ninguém vai me dar nada de mão beijada. Tenho que conquistar!
Quando surge o mercado de importação em sua vida?
Foi por acaso, em 2004, quando enviei um container de couro para a China e o cliente não me pagou. Eu precisava receber, então, comecei a negociar e acabei aceitando o pagamento em cadeiras para escritório que revendi aqui no Brasil. Ali, eu vi uma oportunidade de negócio e, assim, tudo começou. Ao longo dos anos, já trouxe mais de 5.000 containers de diferentes produtos da China. Já trabalhei com tecido, mochila, bolsa, maquinário, cama, mesa e banho, roupas. Estou sempre analisando o mercado e procurando o melhor segmento.
Nessa época, o mercado de couro não estava indo bem e a gente precisava buscar novos caminhos. E esse é o segredo do sucesso para qualquer empreendedor: se reinventar sempre, estar sempre atento ao mercado e mudar a rota sempre que for preciso. O momento atual, por exemplo, pede exatamente essa capacidade de adaptação.
Em que momento a criação da Matrix Intercom se tornou real?
Consolidamos a abertura da empresa em 2007 e por muito tempo fomos líderes nesse mercado de importação da China. Com o tempo, a concorrência cresceu muito e o mercado sofreu com a oscilação do câmbio, então começamos a procurar outro país fornecedor. Hoje também temos um grande volume de importação do Paraguai.
Quais os principais pilares da empresa?
Preço e gerar mercadoria em grande escala. Vendemos para o Brasil inteiro. O Nordeste, por exemplo, é um grande cliente. Enviamos mensalmente fardos com milhares de peças de roupas.
Como o mercado de atuação da Matrix está passando por esse momento?
As importações sofreram um grande impacto no início da pandemia. Não só por conta de problemas no país fornecedor (China), que por conta do lockdown ficou um tempo sem entregar os pedidos, mas também porque algumas mercadorias ficaram retidas quando chegaram ao Rio. Soma-se a isso que a demanda caiu muito em março e abril, por conta do comércio fechado e um e-commerce ainda muito tímido no país, o que gerou um grande impacto negativo no setor, no primeiro semestre. Mas os auxílios do Governo injetaram dinheiro no mercado e, com a reabertura do comércio, o setor vem se recuperando rapidamente. Quem conseguiu sobreviver, cortar gastos e segurar os primeiros dois meses, vai acabar saindo fortalecido, porque a concorrência de certa forma diminuiu. Muita gente desistiu de atuar no segmento de importação e exportação de roupas.
E como a Matrix tem operado durante a pandemia?
Muita negociação. Diminuímos o movimento de vendas e focamos na negociação do que já tínhamos. Pouco antes da pandemia, chegamos a montar um setor de moda para a Matrix desenvolver coleções próprias. E esse projeto tivemos que interromper. Não temos um alto custo fixo operacional, portanto, não registramos prejuízos, mas tivemos que lidar com a inadimplência. Muitos clientes ficaram impedidos de vender em lojas físicas e acabaram atrasando os pagamentos. Então, facilitamos, com prazos maiores e descontos. Com a reabertura do comércio, o mercado vem se recuperando. O crescimento do e-commerce também ajudou um pouco, mas no setor de roupas ainda é tímido.
Como acredita que a empresa estará no pós-Covid?
Voltamos a receber pedidos e pensamos em investir num e-commerce próprio. O mercado está reaquecendo até mais rápido do que eu esperava, mas acredito que voltar ao que era antes só quando tivermos uma vacina e as pessoas estiverem seguras em sair para fazer compras. Porque, por mais que o e-commerce dê vazão à necessidade de consumo, o mercado de moda tem boa parcela de compras por impulso. O que é mais comum de ocorrer em lojas físicas, com vitrines.
A empresa tem registrado um crescimento de 35%. Qual era a expectativa para o ano de 2020?
A expectativa era que o crescimento chegasse a 40%, mas com a pandemia, devemos manter um crescimento de 30%, igual ao ano passado. Como diminuiu o número de importadores, quem ficar vai crescer bem.
Voltar ou ultrapassar esse patamar levará tempo em sua visão?
Pelo menos um ano, contando com a vacina. Sem a vacina, as pessoas ainda estão muito receosas. Estão contendo gastos, não estão saindo. Mas o brasileiro se recupera rápido, é um povo acostumado a lidar com crises, com escassez, com dificuldades. Somos sobreviventes!
Os países com os quais a Matrix faz negócio, estão tendo alguma restrição para operar no seu mercado?
Não. Na China, já praticamente tudo normal!
O que é fundamental para um empresário em momentos como esse?
Manter a serenidade é fundamental no momento de crise. Num primeiro momento, é preciso ter calma para observar o mercado e tentar entender como ele vai reagir, como o Governo vai reagir, como o consumidor vai reagir. O desespero leva ao erro e à falta de clareza para raciocinar e buscar outros caminhos. O segundo passo é criar soluções para os problemas da empresa. Como falei, muitas vezes, será preciso se reinventar. E ninguém faz isso de forma consistente sem ter tranquilidade para avaliar bem o cenário do momento e as previsões de médio e longo prazo. De tempos em tempos, tudo se transforma. Então, quem quer ser empresário precisa estar sempre aberto às mudanças.
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