Categories: Sociedade

Merval Pereira analisa os furos no impresso

Compartilhe este conteúdo com seus amigos. Desde já obrigado!

Tendo ocupado diversos cargos no Grupo Globo (anteriormente conhecido como Organizações Globo) ao longo da carreira, Merval Pereira é colunista do jornal O Globo bem como comentarista político da rádio CBN e do canal a cabo Globo News. É conselheiro do Centro de Estudos da América da Universidade Candido Mendes e membro do Board of Visitors do John S. Knight Fellowships da Universidade Stanford. Em 2009 recebeu o prêmio Maria Moors Cabot da Universidade Columbia, concedido todos os anos pela escola de Jornalismo da Universidade de Columbia às coberturas informativas na América Latina e no Caribe. Foi eleito membro da Academia Brasileira de Letras (ABL) em 2 de junho de 2011 para a cadeira 31, a qual assumiu em 23 de setembro do mesmo ano. À época, sua eleição reacendeu as discussões sobre quem merece entrar na ABL e quais seriam os requisitos para o ingresso. O crítico literário Fábio Lucas, membro das academias Paulista e Mineira de Letras e candidato derrotado à ABL em 2008, afirmou: “as academias [a ABL e as estaduais] estão reunindo mais notáveis de outras áreas do que da literatura. É justo que aspiremos um maior número de escritores”. Merval tinha até então apenas dois livros publicados (um deles é uma reunião de artigos seus; o outro é uma série de reportagens, em coautoria). “As redações estão muito reduzidas”, afirma.

Merval, como enxerga o jornalismo brasileiro de modo geral?

O jornalismo brasileiro sempre teve uma qualidade muito alta, e mantém essa característica, mas de tempos para cá, juntando a crise econômica crônica com o surgimento dos novos meios digitais de comunicação, o jornal impresso vem perdendo sua capacidade de gerar recursos para investimentos em pesquisas e reportagens que exijam mais tempo de apuração.

E as redações?

As redações estão muito reduzidas. Com isso, a qualidade vem caindo. Fazer jornalismo custa caro e exige tempo. Há um limite para os cortes, além dele o jornalismo, seja em que plataforma for, fica prejudicado. Ainda não estamos nessa situação limite, mas próximos dela, o que é preocupante.

Qual deve ser a tônica do jornalismo impresso nos próximos anos?

O jornalismo impresso deve buscar mais do que nunca interpretar os fatos, comentar as notícias que estão sendo dadas durante todo o dia na internet, nas televisões 24 horas e no rádio.

Ainda teremos furos nos impressos?

Dificilmente hoje temos um grande furo de reportagem no jornal impresso, e nem é recomendável que se guarde uma notícia por 24 horas, que é o ciclo do jornal impresso.

Como é atuar no jornalismo impresso, na internet, no rádio e na televisão mantendo o mesmo tom?

São veículos complementares, cada um com sua linguagem própria, e com seu público.

Qual dessas plataformas mais lhe fascina?

Acho que todas as plataformas de notícias têm suas peculiaridades e sua importância. O que é importante é o bom jornalismo, e para isso é preciso investimento.

Vê mudanças em algum sentido neste mercado?

Se o jornal impresso recuperar sua capacidade econômica, e isso é viável porque a internet e seus derivativos – Facebook, Twitter, Instagram, WhatsApp – estão passando por um momento de mudança, após dominarem o mercado de notícias.

A internet facilita ou dificulta na hora publicar uma notícia exclusiva?

O fenômeno das Fake news, a possibilidade de usar esses meios para fazer montagens de imagem e voz, tudo contribui para valorizar o jornalismo profissional e desconstruir esses novos meios, que mudaram a maneira de as pessoas se comunicarem, mas não substituem a informação de qualidade de uma redação profissional.

Como distinguir notícias realmente factuais de verdadeiros engodos na rede?

O leitor está aprendendo rapidamente a lidar com as Fake news. E as agências de checagem têm papel importante nesse esclarecimento.

As agências de checagem são um caminho?

Só de ter surgido essa necessidade de checar as informações da rede mostra a vulnerabilidade desses novos meios.

Nota: O jornalista Merval Pereira, não concorda com Fábio Lucas e diz que a ABL tem um reconhecimento histórico da linguagem jornalística como literária. Desse modo, enxerga que sua entrada na ABL foi aceita por ele [Merval] ter méritos próprios e não por sua notoriedade nos veículos do Grupo Globo, como fica implícito na fala do crítico literário e que está descrita na introdução desta entrevista.


Compartilhe este conteúdo com seus amigos. Desde já obrigado!
Espaço Publicitário:

Recent Posts

Quem derrubou Bashar al-Assad de verdade?

A queda de Bashar al-Assad marca um dos eventos mais significativos da história contemporânea do…

5 horas ago

Relatório de Transformação Digital do Agronegócio Brasileiro: O Papel da Criptomoeda na Modernização das Finanças Rurais

O setor agrícola do Brasil está passando por mudanças significativas à medida que o dinheiro…

5 horas ago

A Guerra do Contestado contada em detalhes

A Guerra do Contestado (1912–1916) é um dos episódios mais significativos e complexos da história…

17 horas ago

Marta Kauffman: raio-x da autora de Friends

Poucos criadores na história da televisão podem reivindicar um impacto cultural tão duradouro quanto Marta…

1 dia ago

O infortúnio de alguns fundadores da FIESP

A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP) é um marco na história…

2 dias ago

Histórias inspiradoras de mulheres na política

A presença feminina na política sempre foi marcada por desafios históricos, sociais e culturais. Durante…

2 dias ago