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Bianca Barbato traduz o seu trabalho original

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Bianca Barbato é uma designer de um talento seminal. Suas obras são originais, de formas nostálgicas, acolhedoras e inspiradas nos símbolos da cultura brasileira. Cabaça, Sagu e RENDA são nomes de suas coleções. Minuciosa e perfeccionista, a designer se lança em estudos para melhor compreender os diferentes tipos de matérias-primas e a manipulação de tecnologias, do corte à laser à marchetaria. Acrílico, madeira, espelho, resina e azulejo são alguns de seus materiais favoritos. Amante profunda da geometria modernista e da face orgânica das construções, Bianca busca criar peças que deixem o espaço mais confortável e pessoal e claro, colocando a tradução de si mesma nas criações. “As minhas peças são lúdicas, muitas delas inspiradas em brinquedos, dobraduras de papel como o Aviãozinho e o Cata-Vento em metal, ou as mesas Tramas, que tem o tampo marchetado intercalando acabamentos como um quebra-cabeças. Crio também peças que possibilitam a interação como a série Argolas em que os aros são customizáveis e podem mudar de configuração. (…) Meus projetos têm fabricação minuciosa e cheia de detalhes e às vezes beiram quase o limite do que os fabricantes são capazes de fazer, persistir é fundamental. Já aconteceu de fornecedor me dizer que não seria possível fazer tal peça e pela insistência consegui arrumar uma maneira de viabilizar”, afirma a designer autodidata.

Bianca, qual outro atributo que o design deve ter além de forma e função?

O design tem o poder de influenciar a vida das pessoas para melhor ou pior, é fundamental ter critério de qualidade e isso não pode ser exclusivo de quem tem poder aquisitivo. O objeto tem que ser bonito, autêntico, durável e atender as necessidades a que se propõe, mas muitas vezes deixam de lado atributos importantes em termos de funcionalidade ou seguem copiando uma padronização estética que já está bem saturada, por isso inovar e ter uma linguagem própria é fundamental também.

Quais os maiores obstáculos e as grandes aberturas que encontrou por ser uma designer autodidata?

Não chega a ser um obstáculo, mas é sempre um desafio aprender com a prática e é justamente isso o que me instiga. Executar os protótipos é a melhor forma de entender como o material se comporta entre as possibilidades e limitações que surgem no caminho. Costumo centralizar parte da produção porque gosto, me inspiro e aprendo com isso.

Em algum momento já reaproveitou em trabalhos inéditos algo que tenha criado em trabalhos anteriores?

A linha de pensamento evolui de forma espontânea e está presente na estética de outras peças porque dialogam entre si.

Por que móveis e luminárias foram o seu foco de interesse?

A ideia inicial é sempre experimentar materiais, técnicas, explorar efeitos tridimensionais, geometrias, texturas, sombras, reflexo ou translucidez dos materiais em relação à luz… Os objetos são só a ponte para eu brincar de explorar essas sensações, as peças saem do lugar-comum para além do que pode ser um objeto utilitário.

Encontrar uma forma autoral (que se encaixava naquilo que queria) foi um processo que levou quanto tempo?

Fundei meu estúdio em 2007 e meu trabalho sempre foi autoral. Ao longo desses anos, além de aperfeiçoar o olhar, adquiri também experiência por trabalhar com diversas matérias-primas, comercializar e administrar a coisa como um todo que é um atributo tão importante quanto desenhar uma peça bonita.

Você desenha objetos que remexem em algumas memórias afetivas. Em que objetos essas memórias afetivas foram mais pessoais e não de uma coletividade externa?

Meu trabalho parte sempre de uma perspectiva mais pessoal e as pessoas se identificam e se familiarizam com isso.

A série Sagu, uma das primeiras que fiz, são mesas em acrílico translúcido que tem bolas como adereço interno, as mesmas utilizadas em “piscinas de bolinhas”, e é também um resgate sensorial da sobremesa que a minha avó fazia.

As minhas peças são lúdicas, muitas delas inspiradas em brinquedos, dobraduras de papel como o Aviãozinho e o Cata-Vento em metal, ou as mesas Tramas, que tem o tampo marchetado intercalando acabamentos como um quebra-cabeças. Crio também peças que possibilitam a interação como a série Argolas em que os aros são customizáveis e podem mudar de configuração.

Em uma certa ocasião, você afirmou que suas criações se fazem de acertos e erros. Qual foi o erro que foi o embrião de um grande acerto?

Às vezes o objeto dá certo logo no primeiro protótipo e às vezes não. As adequações fazem parte e não considero um erro ter que mudar algum detalhe na peça e lido com o processo de forma flexível, aprimorando com ele. O erro é uma forma de acerto.

Suas peças são elaboradas com complexidade. Nessa complexidade, já vislumbra a simplicidade quando ela [peça] estiver pronta?

Meus projetos têm fabricação minuciosa e cheia de detalhes e às vezes beiram quase o limite do que os fabricantes são capazes de fazer, persistir é fundamental. Já aconteceu de fornecedor me dizer que não seria possível fazer tal peça e pela insistência consegui arrumar uma maneira de viabilizar.

No caso do Barquinho em metal, por exemplo, inspirado nas dobraduras de papel que tem uma simplicidade visual, mas solucionar essa releitura da dobradura do papel para em metal foi um processo complexo. Precisei otimizar a produção pra simplificar a mão de obra e desmembrei as faces do objeto em várias camadas para cortar no laser. Utilizo alguns métodos industriais como suporte, mas eles são só a ponte para simplificar a minha produção junto ao artesão.

A linha RENDA pode ser classificada nessa complexidade que se tornou simplicidade?

A linha RENDA de “aço rendado” é a mais industrial delas, inspirada nas rendas bilro e ponto-cruz, feita em material extremamente rígido, utilizei a indústria, que hoje em dia corta e dobra o metal como se fosse papel. Os desenhos são complexos e o material, apesar de rígido, transmite a leveza, simplicidade e a delicadeza dos bordados em tecido.

As pessoas já entendem que o seu trabalho não é uma indústria?

Sim, elas sentem empatia pelo meu trabalho ser justamente como ele é.

Qual a melhor definição que já deram as suas peças e que você acredita ser aquilo que buscava desde o começo de sua carreira?

Não consigo dizer qual a melhor definição, mas me sinto realizada pelo reconhecimento, pelo espaço que conquistei fazendo peças tão singulares e o meu trabalho é uma tradução de mim mesma. Gosto quando percebem que as peças dialogam em si pelo mesmo propósito poético.

Última atualização da matéria foi há 2 anos


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