O avanço das milícias no Rio de Janeiro não é apenas uma questão de aumento numérico nas menções midiáticas, mas sim uma ascensão meteórica que transformou esses grupos em uma das principais referências de poder no cenário do crime organizado na cidade. Uma análise aprofundada dos dados da mídia revela uma trajetória impressionante, marcada por um rápido crescimento e uma superexposição a partir de 2019. O ano da chegada à Presidência da República de Jair Bolsonaro, que possui um histórico controverso em relação às milícias, parece ter desencadeado um estirão significativo no protagonismo desses grupos.
O período entre 2011 e 2018 testemunhou um aumento gradual nas menções às milícias, mas foi a partir de 2019 que os indicadores explodiram. O total de referências a grupos milicianos no Rio saltou de 3.317 em 2018 para impressionantes 52.546 em 2019, um aumento de 15 vezes em apenas um ano. Esse fenômeno desafia a mera casualidade, sugerindo uma possível correlação com a mudança no cenário político nacional. O ano de 2020 consolidou essa tendência, com 83.834 citações, e em 2023, atingiu-se a marca alarmante de 135.122 registros, representando um aumento extraordinário de 3.900% em apenas cinco anos. Essa explosão midiática não apenas reflete a ascensão das milícias, mas também sinaliza o dramático aumento de sua participação no crime organizado carioca.
A chegada de Jair Bolsonaro à Presidência em 2019 pode não ser apenas uma coincidência nesse contexto. O histórico do presidente em relação às milícias é marcado por suspeições e acusações de proximidade. Essa conexão potencial entre a ascensão das milícias e a ascensão política de Bolsonaro lança luz sobre uma possível influência do cenário político na dinâmica do crime organizado no Rio de Janeiro. A partir desse ponto, os indicadores dispararam, apontando para uma correlação intrigante entre a esfera política e o aumento da exposição das milícias na mídia.
Uma comparação com outros grupos criminosos no Rio de Janeiro revela não apenas a ascensão das milícias, mas também sua crescente predominância nas narrativas midiáticas. Em 2010, as menções aos principais grupos criminosos do estado totalizaram 17.280 registros, sendo apenas 2,8% referentes às milícias. Contudo, a partir de 2019, esse cenário mudou drasticamente. As citações à milícia e seus líderes passaram a representar uma fatia significativa, correspondendo a 43% de todas as referências a facções do Rio. Em 2023, esse índice ultrapassou os 52%, indicando que a milícia se tornou o ponto focal das discussões sobre o crime organizado na cidade.
Ao longo dos anos, as milícias não apenas aumentaram em número, mas também deslocaram o foco midiático de outros grupos criminosos no Rio de Janeiro. Em 2010, a expressão “milícia” representava menos de 6% das menções às três maiores facções do tráfico: Comando Vermelho, Terceiro Comando e Amigos dos Amigos. Contrastando essa realidade, em 2023, os registros sobre a milícia ultrapassaram em mais do que o dobro todas as citações às três quadrilhas mencionadas. Esse deslocamento na mídia é um reflexo direto do que ocorre nas ruas e comunidades do estado, principalmente na Região Metropolitana do Rio.
A trajetória das milícias no Rio de Janeiro, evidenciada pela explosão midiática e deslocamento na cobertura da imprensa, aponta para uma realidade em que esses grupos se tornaram protagonistas indiscutíveis do crime organizado na cidade. A influência política, especialmente ligada à figura do presidente Jair Bolsonaro, parece ter contribuído para esse aumento significativo de visibilidade. A sociedade carioca, as autoridades e a mídia agora enfrentam o desafio de compreender e lidar com uma milícia que não apenas domina o mercado do crime, mas também as manchetes e narrativas que moldam a percepção pública desse fenômeno complexo e perigoso.
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