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Monica de Bolle analisa graus de investimentos

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Macroeconomista e, desde 2007, sócia-diretora da Galanto Consultoria, Monica Baumgarten de Bolle é PhD em Economia pela London School of Economics (set/2001), tendo escrito sua tese de doutorado sobre crises financeiras. Chefiou a área de Pesquisa Macroeconômica Internacional do Banco BBM de 2005 a 2006. Trabalhou no Fundo Monetário Internacional em Washington, D.C. entre 2000 e 2005, tendo participado em missões para diversos países. Durante este período, teve participação direta e indireta na resolução de algumas das principais crises financeiras recentes, inclusive da crise da Argentina. Participou ativamente na renegociação da dívida externa do Uruguai em 2003, e foi colaboradora de diversas notas técnicas do FMI sobre crises financeiras e reestruturação de dívidas soberanas. É professora de macroeconomia na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) e Global Fellow do Woodrow Wilson Center em Washington, DC. É também ex-diretora do Instituto de Estudos de Política Econômica – Casa das Garças (IEPE/CdG), e pesquisadora do Peterson Institute for International Economics, em Washington. “Escrevi um paper recentemente sobre o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), está no site do Peterson Institute for International Economics. Nele, mostro que o BNDES não tem contribuído para aumentar a produtividade – talvez tenha até a prejudicado.”

Monica, 2016 é um ano perdido para a economia brasileira?

Certamente haverá de ser um ano muito difícil – como vimos após a divulgação do PIB (Produto Interno Bruto) do terceiro trimestre, a economia está longe de dar sinais de melhora, o que terá repercussões sobre os descaminhos do desemprego, sobre as pressões políticas e sociais.

O Brasil perdeu em setembro, o grau de investimento da agência Standard and Poor’s (S&P). Quais serão os principais efeitos dessa perda em um longo prazo?

O Brasil perdeu o selo pela S&P, porém, ainda o mantém pela Fitch e pela Moody’s. O país só perde de fato o grau de investimento quando outra agência seguir os passos da S&P – imagino que isso deva ocorrer em breve. Uma vez que ocorra, recuperar o grau de investimento demora. A experiência de outros países mostra que o caminho é árduo, pode durar uma década. Quando um país perde o selo de bom pagador, deixa de receber recursos externos: fundos de pensão estrangeiros, por exemplo, só podem alocar recursos em países que possuem essa classificação de risco. Portanto, as consequências são menos fluxos de recursos para o país, além de taxas de mercado mais altas para empréstimos do Governo e das empresas no mercado internacional.

A inflação é atualmente o principal problema econômico do país?

A inflação é o principal sintoma – aliás, a inflação e a recessão. O ano de 2015 haverá de fechar com uma inflação na faixa de 10% e uma recessão próxima de 4% – os números são espantosos, revelam o tamanho da desordem da economia brasileira.

Alguns economistas dizem que no curto prazo, é preciso deixar que o desemprego aumente e que os salários se desvalorizem em termos reais, pois, só assim deixará de haver pressão sobre a inflação de serviços. Como enxerga essa questão?

Não acredito que a inflação brasileira responda tanto ao mercado de trabalho quanto se imagina – afinal, o Brasil é o país da indexação. Fosse assim, já teríamos visto algum arrefecimento inflacionário, mas estamos a ver o oposto. Creio que a queda sustentada da inflação só vem quando tivermos um esforço sério de ajuste fiscal de médio prazo, acompanhado da redução do papel do BNDES nos mercados de crédito.

Além do Brasil, qual dos BRICS merecem uma atenção redobrada na atual conjuntura?

Se é que BRICS realmente existem (o banco Goldman Sachs que cunhou o termo o rechaçou recentemente) a Rússia, evidentemente, e a África do Sul. A desaceleração chinesa provoca muita ansiedade, mas creio que o país esteja no caminho certo das reformas – prova disso é que o RMB [sigla de Renminbi, a cotação da moeda chinesa] acaba de ser incluído na cesta de moedas no FMI (Fundo Monetário Internacional), o SDR (Direitos Especiais de Saque). É um ato simbólico, mas que estabelece a moeda como uma das principais moedas de reserva internacionais com o dólar, libra, iene e euro. A Índia tem feito um belo esforço macroeconômico, mas é um país repleto de contradições e contrastes, com um sistema político ainda mais fragmentado do que o nosso. Hoje, é a queridinha dos mercados. Amanhã pode não ser.

Em uma frase, você resumiu o Brasil de hoje: “Muito barulho com pouco conteúdo. E desse jeito a gente não vai a lugar nenhum”. O debate nesse momento sobre o cenário da economia brasileira, está raso em sua visão?

Tão raso que quem mergulhar nele corre o risco de quebrar o pescoço. O debate é raivoso e ideológico, tortura a lógica e o bom senso a favor das tais ideias que quando ficam bem velhinhas, se mudam para o Brasil. Quem em sã consciência pode defender a gastança e o endividamento público como “saídas para a crise” hoje vendo o ponto em que estamos? Mas, eles estão por aí, fazendo barulho.

Se tivéssemos um ambiente político menos turbulento, acredita que teríamos perdido o grau de investimento?

Sim. Perdemos o grau de investimento por incompetência na gestão macroeconômica.

Redução da burocracia, simplificação tributária e investimentos em infraestrutura, essas são as saídas para o país voltar a crescer?

A lista é bem maior do que essa. Inclui uma total revisão do papel e do tamanho do Estado brasileiro. País de renda média não pode querer implantar na marra um Estado de Bem Estar Social europeu – nem alguns países europeus, ricos, conseguiram fazê-lo com êxito.

Analistas acreditam que a atuação do BNDES deve ser revista urgentemente. Como vê a atuação do banco nesse sentido?

Escrevi um paper recentemente sobre o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), está no site do Peterson Institute for International Economics. Nele, mostro que o BNDES não tem contribuído para aumentar a produtividade – talvez tenha até a prejudicado. Além, é claro, de segmentar o mercado de crédito com taxas de empréstimo subsidiadas, prejudicando a política monetária e a política fiscal. Urge rever o papel do banco.

Qual a sua visão sobre a política cambial adota pelo Governo Dilma?

Que política cambial? Dizem que é flutuante, mas o BC (Banco Central) intervém através de swaps (contratos para troca de riscos) altamente custosos para os cofres públicos… Como em outras esferas, não há politica ou estratégia, apenas o nó de cada dia.

Estudiosos em finanças públicas, dizem que não há hipótese do Brasil crescer 5% ao ano nos próximos 30 anos. Concorda com essa afirmação?

Trinta anos é muito tempo. Não tenho a pretensão de conseguir enxergar tão longe.


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