Formado em 2003 pela FAAM/FMU – SP, Ivan Barasnevicius estudou com professores como Paulo Tiné, Zeli, Aida Machado, Marisa Ramirez, Orlando Mancini, Paola Picherzky e Abel Rocha. Na FAAM, desenvolveu o projeto de pesquisa “A improvisação no ensino da teoria musical elementar: uma proposta metodológica aplicada à guitarra elétrica”. Estudou também arranjo com Vittor Santos e baixo elétrico com Nilton Wood. Atualmente, é coordenador didático do Centro Musical Venegas Music, onde também leciona guitarra, baixo elétrico, harmonia e improvisação desde 1995. Em 2007, começou as atividades do seu grupo de música instrumental, o Ivan Barasnevicius Trio. Em 2009 lançou o livro “Jazz: Harmonia e Improvisação” pela editora Irmãos Vitale. Em 2012, lançou com o Ivan Barasnevicius Trio, o CD – “Síntese”, em que mescla, em seus arranjos e composições, todas as influências adquiridas ao longo da sua carreira, indo do jazz ao rock e passando pelos ritmos brasileiros, tudo com muita experimentação e improvisação. Já em 2014, lançou o CD “Continuum”, que segue a mesma linha estética. “Sobre criar uma consciência, penso que o problema muitas vezes reside em outro ponto: o fato de que muitos músicos jovens, estudantes de música, não têm por hábito prestigiar o trabalho de outros músicos que tocam música autoral ou instrumental, indo a shows, comprando CDs, apoiando a cena de modo geral.”
Ivan, em 2003 você se formou na FAAM/FMU – SP. Antes desta formação, qual era a sua visão sobre a sua arte?
Antes desse período de graduação, certamente eu já tinha uma abertura para outros estilos musicais além do metal pesado que eu tocava antes de entrar para a faculdade. Sempre ouvi diversos estilos, música brasileira, blues, entre outros. Na minha casa, durante a infância e adolescência, tive acesso a muitos discos que meus pais compravam, coisas do Chico Buarque, Caetano Veloso, Milton Nascimento, assim como Beatles e algumas coisas de música clássica. Mas durante o meu período na FAAM, tendo aulas com Paulo Tiné, Marcelo Gomes, Marisa Ramires e Abel Rocha, pude aprofundar meus estudos musicais, o que certamente foi essencial para a minha formação.
Depois desta formação, qual foi a principal mudança que ocorreu no modo de você enxergar o mundo musical?
Talvez o fato de passar a ter a consciência de que o assunto é muito, mas muito amplo. Certamente, uma vida inteira não é suficiente para estudar a questão em sua totalidade. Precisaríamos de umas seis vidas, [Risos]… Obviamente, tive também um contato intenso com as obras de Miles Davis, John Coltrane, Hermeto Pascoal, Guinga e Egberto Gismonti, entre muitos outros, e isso afetou e muito toda a minha perspectiva musical. Mas embora tenha mudado bastante a maneira de tocar nunca deixei de considerar válido o que tinha tocado até então.
Em um país desigual como o Brasil, um músico sempre é tentado e seduzido pelas formas mais fáceis para se obter sucesso. Como deve ser criada a consciência para que o sucesso instantâneo não se torne uma armadilha em um longo prazo?
Claro, é uma armadilha. Mas devemos lembrar sempre as condições financeiras ruins de grande parte dos músicos em um país que não valoriza nem um pouco a sua própria cultura. Imagina então os que resolvem tocar algo que não é comercial. A coisa pode ficar complicada quando se tem casa, família e filhos.
Sobre criar uma consciência, penso que o problema muitas vezes reside em outro ponto: o fato de que muitos músicos jovens, estudantes de música, não têm por hábito prestigiar o trabalho de outros músicos que tocam música autoral ou instrumental, indo a shows, comprando CDs, apoiando a cena de modo geral. Penso que muitos se esquecem de que eles é que estarão nos palcos daqui a alguns anos. Tenho a clara impressão que as gerações mais novas, pós-YouTube, de certa forma não têm um apreço pela performance, o que é uma inversão total de valores. Precisamos criar uma cultura entre nós, músicos, de que é muito relevante apoiarmos uns aos outros. Temos que acreditar no nosso trabalho, na nossa cena. Se a gente não fizer isso, ninguém vai fazer. Temos que procurar nos fortalecer.
Observamos algo com muita frequência e que você já disse em uma certa ocasião, de que a profundidade dos estudos é muito mais raro entre estudantes de música iniciantes. Por que acredita que isso ocorre?
É importante verificar qual o contexto dessa afirmação, pois, ela pode soar deslocada, estranha. Afinal, se eles são iniciantes, não têm como ter profundidade, mas certamente é mais difícil conseguir se concentrar em um mundo que todos têm tanta pressa e tantas coisas para se desviar a atenção. E, embora a gente tenha muita tecnologia em nossa volta, a parte principal do estudo do instrumento não muda muito: precisamos estudar os exercícios de técnica, leitura musical, percepção… então às vezes é muito difícil que o iniciante se concentre. E ainda pipocam por aí aqueles cursos mentirosos que prometem resolver tudo em poucos minutos, do tipo “5 dicas para tocar na velocidade da luz”; “resolva sua palhetada em apenas dois minutos”. São uma verdadeira farsa.
Onde você acredita que o músico deve encontrar estímulo quando as coisas não estão indo bem em sua carreira?
Todos passamos por momentos difíceis. Mas nunca devemos esquecer porque escolhemos essa forma de viver: porque amamos tocar, amamos estar envolvidos com a música, e em algum momento resolvemos assumir isso em nossas vidas. Então penso que a resposta já está na própria música e não nas coisas externas. Mas talvez seja importante ter um cuidado para não se esquecer disso nas horas ruins. Em momentos de desespero, muita gente acaba abandonando tudo e indo fazer outra coisa, então penso ser importante avaliar as coisas sempre com calma e de forma a observar o processo como um todo.
O músico Rodrigo Chenta, afirmou que o trabalho duo realizado com você soou orgânico e vivo. Como analisa este trabalho em especial?
Penso que para mim, é sempre um grande aprendizado fazer este trabalho, pois, estamos sempre experimentando novos elementos nas composições e como se trata de um duo de guitarras onde não se usa nenhum efeito além de um leve reverb, a exposição de cada instrumentista é enorme, o que certamente contribui muito para que busquemos sempre melhorar mais e mais no instrumento. Além de ser claramente muito divertido! Estamos em um ritmo de produção bem acelerado, fizemos o primeiro disco, “Novos Caminhos”, em 2015, o segundo, chamado “Antítese”, foi lançado no começo de 2016 e agora estamos ensaiando o repertório do terceiro disco, que deverá ser gravado até o final de 2016.
Qualidade musical e popularidade nem sempre andam juntas em nosso país. Quais medidas você acredita serem fundamentais para atenuar esta situação?
Investir de alguma forma na criação de novos ouvintes, facilitando o acesso para quem pode se interessar pela música artística. Esse é ponto principal. Talvez o caminho para isso seja que nossos governantes passem a ter uma preocupação real com a educação, valorizar os professores, entre outras coisas. Com certeza os benefícios para a sociedade seriam inúmeros.
Mas também devemos, dentro do nosso meio, criar a consciência de nos apoiar mutuamente, comprando materiais, indo nos shows, incentivando os músicos. Se nós mesmos não acreditarmos no nosso trabalho e no de nossos colegas, a coisa vai cada vez mais para este lado ruim. Precisamos entender de uma vez por todas que não somos exatamente concorrentes, e sim fazemos parte de um mesmo organismo.
Gostaria que falasse das principais alegrias e dos principais percalços de levar uma música com tamanha qualidade para o público com o seu Ivan Barasnevicius Trio.
A alegria maior certamente é quando realizamos uma apresentação em que tudo funciona perfeitamente, e as pessoas presentes prestam atenção na música que está sendo tocada. Isso pode acontecer com 5 ou 5000 pessoas assistindo. Pra gente dá na mesma. Ou então quando realizamos uma gravação que consegue expressar claramente o que queremos com determinada música. Esses são os nossos objetivos: fazer música artística, atemporal, sem preocupações puramente comerciais, e esse respeito por parte que quem assiste é de grande importância. Com relação aos percalços, certamente podemos citar algumas vezes onde não fomos bem tratados onde tocamos, e isso pode acontecer de diferentes formas: desde um contratante que não sabe fazer a sua parte e não divulga o evento e quer que as pessoas adivinhem que vamos tocar naquele espaço, até aquele cidadão que vai até o seu show pra ficar conversando na frente do palco, de costas pra você, em voz alta. No primeiro caso, trata-se de falta de profissionalismo, no segundo, falta de educação mesmo, ou seja, dois graves problemas que assolam o meio musical. Mas estas experiências ruins nos dão uma ideia clara de onde não devemos colocar os pés nunca mais, e onde devemos investir e tocar mais vezes.
Entre 2008 e 2012, você apresentou o programa “Venegas Music TV” onde tocou e entrevistou grandes nomes da música instrumental. Como foi esta experiência incomum no cenário musical brasileiro?
Sobre o programa, certamente foi uma experiência musical muito importante para mim, foi onde pude aprender muito pesquisando sobre a carreira dos entrevistados e também tocando com boa parte deles. Durante os 4 anos de programa, pude tocar com músicos de diferentes áreas como Heraldo do Monte, Arismar do Espírito Santo, Itamar Colaço, Andreas Kisser, Djalma Lima, Luciano Magno, Nuno Mindelis, Nelson Faria, Michel Leme, entre muitos outros. Neste ano, voltamos a fazer o programa, com algumas alterações no sentido de melhorar a qualidade, mas mantendo as características originais, ou seja, entrevista e jam session. Tanto as entrevistas mais recentes como o enorme acervo das entrevistas antigas pode ser acessado no YouTube. A nova temporada tem conseguido uma excelente divulgação e resposta do público.
Quais são as similaridades e diferenças que um público não tão auditivo musicalmente falando, encontrará nos discos digitais “Síntese” (2012) e “Continuum” (2014)?
As composições e arranjos dos dois trabalhos foram elaboradas mais ou menos na mesma época, então seguem de forma geral a mesma estética. Penso que a principal diferença está mais na execução, pois, três anos aproximadamente separam as gravações, e todos mudamos neste período, e também na qualidade do processo de gravação, mixagem e masterização.
A mudança mais radical provavelmente acontecerá no terceiro trabalho, já em fase de arranjo e ensaios. A princípio será muito mais livre, com muita improvisação e experimentalismos com materiais musicais que não tínhamos utilizados até então.
O poeta francês Paul Claudel, disse que a música é a alma da geometria. O que é a música pra você?
Para mim, a música é a atividade mais essencial de todas. É como se as outras só fizessem sentido quando atreladas a ela. É algo muito mais amplo do que simplesmente ter uma atividade que te sustente. Claro, trabalho com isso desde muito cedo, então é natural que a música tenha se tornado uma atividade profissional, mas é muito mais do que isso. Trata-se de algo sem o qual eu realmente não conseguiria passar sem estar envolvido de alguma forma, e isso sempre foi desta maneira na minha vida. Algo que só quem é realmente do ramo pode entender.
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