O produtor musical e empresário Daniel Figueiredo, já participou de inúmeros trabalhos com grandes nomes nacionais como Beth Carvalho, Edu Lobo, Ivete Sangalo, Jerry Adriani, Gilberto Gil, Daniela Mercury, Maria Bethânia, Caetano Veloso, Sérgio Reis, Zeca Pagodinho e artistas internacionais como John Pollard e David Cohen. Participou de diversos álbuns indicados ao Latin Grammy. Em 2004, “Fruto de amor” da cantora Aline Barros foi eleito o Melhor Álbum de Música Cristã e em 2012 “Nosso Samba Tá Na Rua” de Beth Carvalho, venceu na categoria Melhor Álbum de Samba/Pagode. Daniel assina a produção musical de várias novelas e seriados da Rede Record, entre os quais se destacam “Os Mutantes”, “Vidas Opostas”, “A Lei e o Crime”, “José do Egito” e os “Dez Mandamentos”. No cinema, o produtor criou a trilha de vários filmes. Entre eles podemos destacar o “The Heartbreaker” primeiro filme da atriz Giovanna Antonelli para o mercado norte-americano; “Transmigration” do diretor Sheldon Schiffer e “Tubarões de Copacabana” da premiada autora e diretora argentina Rosario Boyer. Atualmente é o administrador-sócio da empresa UP-RIGHTS (administração de direitos autorais) e endorser das marcas: Blueberry (Canadá), CME (China), Wire Conex (Brasil) e Studio One (EUA). “Acho que o principal erro é o produtor achar que o produto é um disco dele. O produto é do artista, diretor e/ou de quem te contratou, portanto, eles decidem”, afirma.
Daniel, você é um nome reconhecido no mundo fonográfico, mas gostaríamos que falasse um pouco do começo da sua carreira para quem ainda não lhe conhece.
Comecei profissionalmente na música tocando em bandas de bailes na minha cidade Cataguases, em Minas Gerais, mas desde sempre eu tive fascinação por estúdio de gravação. Então só toquei em bandas de baile até eu conseguir montar meu primeiro estúdio e começar a ganhar dinheiro produzindo jingles. Depois comecei a produzir discos. Através de um amigo em comum conheci 2 grandes compositores do Rio de Janeiro: Claudio Damatta e Alvaro Socci. Eles precisavam de uma pessoa para fazer arranjos para as músicas deles, e como eu já não aguentava mais as limitações de uma cidade pequena, resolvi mudar para o Rio e fazer uma sociedade com eles e me libertar do medo absurdo que eu tinha da falta de segurança daqui. Esta sociedade durou uns 3 ou 4 anos, depois tive um estúdio em sociedade com o lendário compositor Carlos Colla. A sociedade com o Colla só não deu mais certo porque o estúdio era em Laranjeiras, muito longe de onde eu gostava de morar e eu tinha a maior clientela na Barra da Tijuca. Em 2005 entrei na Record para ser produtor da primeira novela produzida no novo complexo de novelas RECNOV, “Prova de Amor”. De lá pra cá eu já assinei a produção musical de 8 novelas e 2 minisséries e fiz várias aberturas e músicas que tocam durante toda a programação da emissora.
Como você vê o momento atual da produção musical no país?
Estamos num momento de muita autoprodução musical, pois, a maioria dos artistas tem estúdios. Mas eu sempre acho que um disco que é autoproduzido não teve produtor, pois, o produtor é justamente aquela pessoa que vai ter o olhar “de fora” e vai ajudar o artista a expandir seus limites e passar melhor sua mensagem. Não é à-toa que muitas bandas consideram o produtor musical como mais um membro.
Certa vez, você afirmou que odeia que seu trabalho pareça sempre igual. Como fazer sempre um trabalho único que não pareça com outro anterior?
É uma luta constante: pesquisa de novos timbres, instrumentos, experiências com ritmos, mas sempre procuro não assustar o ouvinte. Quero ir expandindo os limites, mas sempre respeitando a música. Não quero fazer música de malabarismo onde só a quantidade de notas e a dificuldade de executar é o que vale.
Qual o principal erro que um produtor musical não pode cometer jamais?
Acho que o principal erro é o produtor achar que o produto é um disco dele. O produto é do artista, diretor e/ou de quem te contratou, portanto, eles decidem o que é melhor para o produto. Nos cabe apenas sugerir e tentar traduzir o melhor possível o que eles querem.
O que passou na sua cabeça quando ganhou o Grammy Latino, o mais prestigioso prêmio da indústria musical?
O primeiro disco que participei e que ganhou o Latin Grammy foi o da Aline Barros, uma artista que sempre admirei muito, assim como admiro os produtores do disco Cleberson Horsth e Ricardo Feghali do Roupa Nova. O mais importante do Latin Grammy é que a gente passa a fazer parte de um grupo seleto se destacando na multidão. A segunda vez que um disco que participei concorreu ao Latin Grammy aconteceu algo surreal: o prêmio foi anunciado no Brasil tendo como disco vencedor o que participei: “Beth Carvalho Canta o Samba da Bahia”, mas nos EUA anunciaram outro disco. No ano seguinte fizeram uma homenagem, que já merecia, obviamente, à Beth, mas meio que para compensar o gigantesco erro. O próximo disco que participei que ganhou foi da Beth também: “Nosso Samba Tá Na Rua”. Além das várias indicações de outros discos.
Existiu alguma chave em sua carreira, que você destacaria, para ter chegado a esse estágio de ser um dos principais produtores do Brasil?
Não me sinto um dos principais produtores do Brasil, mas se cheguei hoje no patamar que estou e que sempre sonhei foi através de muita dedicação, trabalho, ouvido aberto e sempre atento para aprender com tudo e com todos. Ainda bem que a minha saúde resistiu à todas as noites sem dormir e a todas às vezes que deixei de comer por que tinha que honrar um compromisso de trabalho. Hoje sei que valeu muito o investimento e faria tudo novamente.
Fale um pouco da sua empresa UP-RIGHTS, pioneira na administração de direitos autorais.
Sempre tive curiosidade sobre direitos autorais/ECAD… Uma época eu decidi ir a fundo e de uma vez por todas saber se o que eu recebia era mesmo o que eu deveria receber. Foi então que contratei pessoas para me ajudar a pesquisar todo o processo e pudemos ver que no mercado faltava uma empresa que fizesse uma interface entre os artistas e as editoras, gravadoras, associações do ECAD, etc. Quando eu tive isso, a minha arrecadação com direitos autorais aumentou absurdamente. Então decidi criar a UP-RIGHTS para poder ajudar outros artistas a receberem corretamente seus direitos autorais. A empresa é praticamente filantrópica porque tudo o que ganho com ela é reinvestido. É uma coisa que fiz para ajudar a classe mesmo, que sempre foi tão enganada. Hoje temos artistas que depois de 40 anos de carreira dizem com alívio “hoje eu recebo todos os meus direitos autorais”. Por isso tenho muito orgulho desta empresa.
O ECAD em 2013, foi condenado em 40 milhões de reais por formação de cartel. Muitos utilizam uma expressão forte, chamando o ECAD de máfia. E para você, o Ecad seria o anjo ou o demônio do mundo musical?
Assim como todo e qualquer lugar que reúna pessoas existirão os bons e os maus, na política, na polícia, nos hospitais, etc… O ECAD não poderia ser diferente. É claro que tem gente lá que quer se aproveitar do cargo, mudar regras para proveito próprio ou dos seus “protegidos”, mas também tem muita gente séria. Constantemente eu sugiro mudanças nas regras do ECAD, mas eu sugiro e faço críticas baseadas em fatos, experiência, conhecimento no assunto. O que acho absurdo são pessoas que não têm a mínima noção de nada sobre direitos autorais saírem na mídia falando mentiras sobre o ECAD ou qualquer outra entidade, pois, isso acaba confundindo as pessoas de fora. Sempre defendo a união dos artistas com o ECAD. Nós estamos no mesmo time. No time adversário estão as pessoas que não querem pagar os direitos autorais de execução pública, e é contra estas pessoas que precisamos lutar publicamente. Com o ECAD precisamos discutir internamente, só ir à público quando o mesmo passar a ignorar a opinião e interesse dos artistas. Hoje vejo muita gente que era totalmente contra o ECAD que está em cargos de gerência em associações, isso é ótimo, é necessário que eles sintam na pele o dia a dia, entendam como o sistema funciona, para, se criticarem, criticarem com responsabilidade, com intuito construtivo e não destrutivo como estavam fazendo tempos atrás.
Qual a sua visão sobre os serviços de streaming de música como os famosos Spotify, Rdio e Deezer?
A minha opinião é que o streaming é uma pequena lamparina no fim do túnel onde muita gente achou que nem lamparina teria. A gigantesca oferta crescente de músicas no mercado e a facilidade de acesso às músicas gratuitas praticamente inviabilizam qualquer lucro com a música, a não ser em shows e arrecadação de direitos autorais por execução pública (rádios, TVs, etc.). A venda digital também não paga as contas de ninguém. O que tenho visto é um crescimento do crowdfunding (financiamento coletivo). Grandes artistas, muitos dos meus ídolos inclusive aderiram a este sistema e conseguiram investimento para gravar discos, DVD’s, documentários, etc. Esta tem sido realmente a única esperança para os artistas conseguirem arrecadar algum dinheiro que não seja pelo show ou por execução pública. Na verdade, isso é apenas uma “digitalização” de um processo milenar. Até na minha cidade eu já propunha aos artistas que queriam gravar discos que vendessem os discos antecipadamente e muitos deles conseguiram gravar o disco assim, portanto, é apenas um novo jeito de fazer uma ideia antiga.
A inadimplência dos usuários de música, já chegou a mais de R$ 900 milhões anuais. Qual solução você acredita ser viável, para deixar artistas e consumidores satisfeitos na voraz era do compartilhamento digital?
A meu ver, a inadimplência na execução pública acaba sendo mais uma vítima da péssima Justiça que temos no país e não se tem esperança que isso mude tão cedo. Mas estão sendo fechados acordos com empresas que há anos estavam inadimplentes e esse número está tendendo à queda.
Sobre a pirataria (pessoas baixando músicas piratas) tenho visto um movimento das grandes corporações como Microsoft, Google, etc, para apertar o cerco e, pelo menos, diminuir.
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