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Notícias Populares: o espreme que sai sangue

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O Notícias Populares, também conhecido simplesmente como NP, foi um jornal que deixou sua marca na história da imprensa brasileira, causando polêmica e fascinação por sua abordagem única de manchetes violentas e sexuais. O jornal, que circulou em São Paulo de 1963 a 2001, é até hoje lembrado como um símbolo de crime, sexo e violência. Seu lema, “Nada mais que a verdade”, ecoa na memória dos leitores e críticos, deixando uma herança duradoura no jornalismo nacional.

Criado pelos jornalistas Herbert Levy (fundador da também lendária Gazeta Mercantil) e por Jean Mellé, um imigrante judeu da Romênia, o Notícias Populares rapidamente se destacou pela sua ousadia editorial. Contudo, essa ousadia também lhe rendeu uma série de controvérsias e desafetos no meio jornalístico. Críticos acusavam o NP de exagerar nos noticiários e até de inventar notícias para atrair leitores sensacionalistas. Uma das controvérsias mais notáveis foi a infame série de reportagens sobre o “bebê-diabo”. O jornal aproveitou-se de uma notícia sobre um bebê com deformações para criar uma narrativa fictícia que se desenrolava ao longo das edições, apresentando os eventos inventados como fatos verídicos.

Outra polêmica envolveu um boato sobre um suposto ‘bando do palhaço’. O Notícias Populares acompanhou a investigação de um suposto grupo de palhaços que atraía crianças com balas e doces para, alegadamente, as sequestrar em uma Kombi branca. A história começou com o desaparecimento de Aline, uma menina de 11 anos da cidade de Carapicuíba. Na época, o delegado titular da Polícia Civil de Carapicuíba expressou a frustração das autoridades, declarando: “Ninguém aguenta mais.” A narrativa sensacionalista alimentou o medo público e gerou um frenesi midiático que, posteriormente, revelou-se infundado.

O Notícias Populares também demonstrou sua habilidade em criar manchetes chamativas, como no caso do desaparecimento de Roberto Carlos em 1968. O jornal usou a falta de comunicação com o cantor, que estava em Nova York, como pretexto para lançar a manchete “Desapareceu Roberto Carlos”. Essa tática resultou em um aumento significativo nas vendas do jornal. No dia seguinte, o NP continuou explorando o tema com a manchete “Acharam Roberto Carlos”.

No entanto, o jornal não se limitou a noticiar casos reais de forma sensacionalista. Duas de suas capas são particularmente marcantes pelo mau gosto e insensibilidade. A primeira, de 1992, trazia a manchete “Inferno” com fotos de cadáveres nus, associados ao Massacre do Carandiru. A segunda, de março de 1996, chocou muitos fãs ao estampar imagens dos corpos mutilados dos integrantes da banda Mamonas Assassinas, que haviam falecido tragicamente em um acidente aéreo (existem edições com esse material impactante à venda na web por escandalosos 400 reais).

Além das manchetes impactantes, o Notícias Populares era conhecido por suas colunas notórias. “Tudo Sobre Sexo,” escrita por Rosely Sayão, foi uma das primeiras colunas a abordar o tema de forma aberta em jornais brasileiros. Enquanto algumas críticas podem apontar para a abordagem sensacionalista do NP, essa coluna era um dos primeiros passos em direção à discussão aberta sobre sexualidade na imprensa nacional.

Outra coluna notável, “Voltaire de Souza,” pseudônimo de Marcelo Coelho, editorialista da Folha de S.Paulo, trazia contos envolvendo mortes, sexo e outros temas polêmicos. O estilo provocador de “Voltaire de Souza” encontrou seu lugar no NP, mas posteriormente migrou para o jornal Agora São Paulo.

O jornal também se destacou por seu pioneirismo ao dedicar uma coluna ao público LGBT, chamada “Espaço Gay.” Em uma época em que a discussão sobre diversidade sexual estava longe de ser tão aberta como é hoje, o Notícias Populares deu visibilidade a essa comunidade, abrindo portas para a discussão e o reconhecimento de seus direitos.

Por fim, a coluna “Histórias da Boca” apresentava histórias ao estilo de Nelson Rodrigues, escritas por diversos jornalistas do NP. Essas histórias polêmicas e envolventes mantinham o espírito do jornal, que buscava chocar e surpreender seus leitores.

O Notícias Populares, com sua abordagem única e provocadora, deixou uma marca na história do jornalismo brasileiro. Apesar das críticas e controvérsias, o jornal manteve uma base de leitores cativos ao longo de décadas, e suas manchetes sensacionalistas ainda são lembradas por muitos. Embora tenha sido extinto em 2001, o NP continua a ser um exemplo de como a imprensa pode influenciar e refletir a sociedade em que está inserida, tanto nos aspectos positivos quanto nos negativos. A ousadia e a polêmica que marcaram o Notícias Populares permanecem como uma lembrança viva de um capítulo fascinante da história do jornalismo brasileiro.


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