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O agronegócio na visão do líder Maurílio Biagi Filho

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O ribeirão-pretano Maurílio Biagi Filho é um dos mais poderosos empresários do agrobusiness nacional. Iniciou sua carreira em 1956, como estagiário na Usina Santa Elisa, passando por todos os cargos até a posição de CEO. Durante seu tempo, a Santa Elisa cresceu significativamente, saltando de uma moagem de 118.149 toneladas de cana por safra para o recorde de 7.011.577 toneladas de cana por safra, quando em 1998 atingiu a primeira posição no ranking setorial. Nos anos 80, na condição de CEO da Refrescos Ipiranga (envasadora da Coca-Cola), liderou o processo de aquisição da Sorocaba Refrescos, construiu a fábrica de Uberlândia e a atual fábrica de Ribeirão Preto. Atualmente acumula as funções de CEO da Maubisa Consultoria; membro do Conselho da Bioenergética Aroeira e das Indústrias Metalúrgicas Pescarmona S.A (IMPSA) e presidente da Agrishow. Maurílio também faz parte do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social da Presidência da República, o CDES. “O etanol não é mais considerado uma prioridade para o Governo muito por culpa do próprio setor que não conseguiu fazer sua lição de casa, ou seja, cumprir aquilo que sinalizou à então ministra Dilma Rousseff e que, lá atrás, levou o Governo a acreditar no setor sucroenergético. (…) Não podemos nos esquecer da alta carga tributária, da burocracia do poder público, dos problemas de infraestrutura”, afirma o empresário e consultor. 

Até quando o senhor acredita, que a agricultura terá fôlego de se manter como base da economia brasileira que cresce muito pouco anualmente?

Enquanto houver uma grande demanda mundial por alimentos, nossa agricultura tende a se manter em crescimento, mesmo com altos e baixos de alguns setores. Temos a maior fronteira agrícola do mundo, clima favorável e ainda um grande potencial a ser explorado de forma planejada e sustentável. O agronegócio sempre foi o principal pilar da economia brasileira. É importante ressaltar que a economia brasileira está crescendo muito pouco, mas, se nossa economia fosse somente agronegócio, estaríamos crescendo a taxas chinesas. O Agro é, de longe, o principal motor do Brasil.

Em uma entrevista, o senhor afirmou que o problema mais sério na agricultura, é o da cana, por causa da falta de perspectiva para o etanol. Isso ainda persiste?

Pior, se agravou. E não há sinais de reversão no curto e médio prazos. Trabalhamos sem horizonte. Para agravar, o açúcar também passa por fase de baixa. Quando foi quebrada a paridade econômica do etanol com a gasolina, o etanol foi ferido de morte. A gasolina teve o preço estabilizado artificialmente por oito anos enquanto que os custos de produção do etanol mais que dobraram. A tendência é de que o etanol se consolide como um mero aditivo à gasolina, que hoje é na ordem de 25%.

Quais seriam os ajustes necessários que deveriam ser feitos no país, para que o mesmo volte a ser competitivo, já que em sua visão, a nação não está competitiva neste momento?

São os ajustes de sempre: redução da carga tributária, redução da taxa de juros, controle da inflação, investimentos públicos necessários, estímulo à produção e ao agronegócio, melhora da infraestrutura, investimento em educação e qualificação profissional, desburocratização do Estado e a criação de um ambiente favorável para novos investimentos privados e inovação. O grande desafio é encontrar um ponto de equilíbrio entre todos esses fatores.

Alguns empresários do setor sucroalcooleiro, tem afirmado que Governo tem prejudicado a viabilidade do etanol como combustível. Como o senhor tem enxergado esse fato?

O etanol não é mais considerado uma prioridade para o Governo muito por culpa do próprio setor que não conseguiu fazer sua lição de casa, ou seja, cumprir aquilo que sinalizou à então ministra Dilma Rousseff e que, lá atrás, levou o Governo a acreditar no setor sucroenergético. Hoje o relacionamento do setor com a presidenta é distante, cada um chega com um discurso e ela não sente firmeza na organização do setor. Perdeu-se a credibilidade junto à presidenta e, desta forma, ela não tem olhado para o etanol como uma prioridade nacional. O assunto etanol está fora da pauta de discussões. Sem perspectivas e regras claras, nenhum empresário fará novos investimentos no médio e longo prazos.

Grandes empresários do nosso país, afirmam que o sistema trabalhista brasileiro é paternalista, e isto dificulta muito para quem empreende. Acredita que esse é o fator mais “pesado” na condução de um grande negócio no Brasil?

Esse fator pesa, mas não é só ele. Não podemos nos esquecer da alta carga tributária, da burocracia do poder público, dos problemas de infraestrutura, da escassez de mão de obra qualificada e da falta de planejamento e de gestão de muitos empresários que, ao iniciarem seus negócios, não conseguem superar as adversidades.

Quais são as expectativas de negócios para a Agrishow em 2014?

A Agrishow vive uma tendência positiva, por isso, esperamos superar os números de 2013. Ainda não temos estimativas.

O senhor disse em 2012 que queria exportar edições da Agrishow para a Ásia e para a África. Continua com esse plano?

Essa é uma possibilidade que está no radar da Agrishow. É claro que isso depende de uma série de fatores, inclusive econômicos. Creio que, com a renovação da concessão da área onde é realizada a Agrishow, por 30 anos, o foco agora seja mais o de melhorar a infraestrutura do espaço expositivo que já temos aqui em Ribeirão Preto.

Um dos principais problemas para os empresários do agronegócio é a infraestrutura do país. O que deve ser feito para que esse problema seja sanado de uma vez por todas?

Se não forem sanados os principais gargalos da infraestrutura do Brasil, creio que a situação vai piorar ainda mais.

A entrada de grandes companhias internacionais no setor sucroenergético, é bom ou ruim em um longo prazo para o país?

As grandes empresas internacionais (big oils) podem trazer investimentos de longo prazo de que o setor sucroenergético brasileiro necessita. O setor de óleo e gás também está se expandindo e pode oferecer grandes oportunidades. É uma questão de procurar variar os negócios para não ficar na mão de apenas um ramo de atividade que não atravessa bom momento. É aquela velha história de não colocar todos os ovos na mesma cesta.

Não poderia deixar de fazer essa pergunta: o senhor será vice na chapa do ministro Alexandre Padilha na disputa pelo governo de São Paulo?

Ainda estou avaliando o convite feito a mim pelo ministro Padilha e pelo ex-presidente Lula. Ainda não me decidi, mas tenho grande resistência familiar e limitações que dificultam aceitar o encargo [em 14/02 o empresário disse que não será candidato a vice-governador].


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