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O cinema diversificado da cineasta Eliane Caffé

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Eliane Caffé é graduada em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo em 1985 e cursou o mestrado no Instituto de Estética y Teoria de las artes da Universidade Autónoma de Madrid, Espanha em 1991/92. Iniciou sua carreira de cineasta com os curtas “O nariz”, “Arabesco” e “Caligrama”, premiados no Brasil e em festivais internacionais. Em 1997, dirigiu seu primeiro longa-metragem, “Kenoma”, que foi exibido na 55ª Mostra La Bienale di Venezia (Prospective) e ganhou vários prêmios, incluindo o “Soleil d’or” como melhor filme no XX Biarritz International Film Festival, na França. O segundo longa, “Narradores de Javé”, recebeu também vários prêmios no Brasil e no exterior, entre os quais se destacam: melhor filme no 30º International Independent Film of Bruxelas, melhor filme e melhor roteiro no Festival de Cinéma des 3 Ameriques (Quebec/Canadá/2004), “Mano de Oro” como melhor filme no Festival Internacional de Cine de Punta Del Leste/2004. Seu terceiro longa-metragem “O Sol do Meio Dia” (2010) ganhou o prêmio de melhor filme pela crítica na 33ª Mostra Internacional de São Paulo. Em 2016/2017 finalizou e lançou “Era o Hotel Cambridge”. Na área de vídeo e TV realizou a microssérie “O Louco dos Viadutos” (TV Cultura/2009), além dos documentários experimentais “Milágrimas por Nós” e “Céu sem Eternidade”. Paralelamente, coordena oficinas em diferentes zonas de conflito.

Eliane, você é uma cineasta admirada pelos seus pares e por críticos de cinema que já entrevistamos. Como se sente quando rompe a admiração do público chegando até os seus pares?

Feliz e mais acalorada. O carinho dos outros que temos em nós e fora de nós, também é fundamental para o sentido da labuta.

Como definiria o seu estilo de fazer cinema?

Cada vez mais um cinema voltado às zonas de conflito e com a participação ativa das pessoas que vivem nos territórios elegidos da criação.

O cinema deve ter um papel social?

Creio que toda expressão humana que projeta-se para além do indivíduo carrega já uma função social. A diferença é estarmos conscientes disso ou não. E estarmos conscientes nos faz mais livres para interagirmos com nosso tempo.

Em “Era o Hotel Cambridge” esse papel social foi cumprido?

Foi e ainda está sendo. Após quase 3 anos da filmagem, seguimos atuando em vários grupos da Frente de Luta por Moradia. O cruzamento de segmentos de diferentes classes sociais, de alguns profissionais e ativistas que hoje militam em conjunto é o maior legado que construímos em uma parceria infindável com o Movimento dos Sem Tetos do Centro e a Escola da Cidade.

O que mais lhe marcou nessa obra em especial?

Descobrir que o cinema ainda pode ser transformador; não tanto como resultado final, mas muito mais como processo de construção.

Neste filme, a roteirista e diretora (que era você) tiveram uma briga interna ou sua cabeça de roteirista e diretora funciona em uníssono?

O roteiro do filme foi resultado da minha antiga parceria com o dramaturgo Luis Alberto de Abreu (também fizemos “Kenoma”, “Narrradores de Javé” e “Sol do Meio Dia”) e com apoio da Inês Figueiró. Mas, durante a fase de filmagem também tivemos a colaboração de todos os atores (José Dumont, Isam Ahmad Issa, Carmen Silva, Suely Franco, Paulo Américo e outros) que aportaram muito à narrativa através das improvisações. Ou seja, a cabeça de roteirista e diretora são alma/corpo, uma só entidade.

Quem já assistiu ao filme “Kenoma” o nomeia como singular e atemporal. Sua visão sobre esse longa também é de singularidade e atemporalidade?

Talvez o tema do filme ainda seja atemporal, mas, como forma narrativa não estou mais segura.

“Narradores de Javé” é um filme que retrata a cultura sertaneja. As culturas do Brasil (que é um país amplo) estão bem retratadas no cinema atual?

Nosso cinema segue sendo muito diversificado e com a maior facilidade dos meios de produção, muita gente de todos os cantos estão criando e trabalhando. O problema é termos acesso a essa produção tão rica, pois, o sistema de distribuição é cada vez mais refém do mercado hegemônico. Até as redes sociais já começam a tangenciar o buraco negro das gigantes privadas da comunicação.

Para onde você acredita que caminha o cinema no Brasil?

Creio que nosso melhor cinema (como o de outros países) estão indo cada vez mais para as brechas do grande mercado. O que tem girado a roda dos grandes festivais e canais de exibição ainda são as obras feitas no modelo e padrão da indústria norte-americana (com poucas exceções). O que fica de fora desse modelo, são os filmes “exóticos” que enchem o cardápio dos VODs e formam um público Cult e mais periférico. Parece que as experimentações mais radicais migraram para a plataforma web que, por sua vez, esta também está cava vez mais segmentada. Ou seja, nosso cinema como qualquer outro setor de produção que acontece no mundo Ocidental neoliberal, está destinado à mesma lógica restrita do valor de mercado. Para mudarmos isso (e devemos mudar!), só mesmo trabalhando com as políticas que visam a transformação de todo o sistema.

O que não pode faltar em um filme dirigido e roteirizado por você?

O respeito, encantamento e espanto pela nossa luta diária de dar sentido a vida.

Militância e cinema se convergem em suas obras em quais sentidos?

Em alguns trabalhos na natureza dos temas escolhidos, porém, hoje em dia, cada vez mais na aposta pelo coletivo como lugar privilegiado e incandescente de gerar luz e força.


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