Designer reconhecida nacionalmente e internacionalmente por suas realizações nas áreas de produto, imagem corporativa e design estratégico, Angela Carvalho viveu e trabalhou durante 12 anos na Europa e escolheu o Rio de Janeiro como cenário para realizar seu sonho de fazer design. Iniciou cedo o seu caminho como empresária. Construiu com o designer alemão Alex Neumeister e dirigiu por 22 anos a NCS Design Rio – escritório reconhecido pela realização de projetos pioneiros e inovadores em design e por importantes premiações, entre elas o prêmio IF Design Hannover (Alemanha) considerado o Oscar do Design. Atua ativamente na difusão e promoção do design sendo membro do Grupo Consultivo da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico, Energia, Indústria e Serviços do Rio de Janeiro e do Board da IPPO – International Project Platform Offenbach – Alemanha. Uma de suas principais criações foi a identidade visual da Caixa Econômica Federal, mas podemos citar outras tantas como o redesign do ferro de passar Arno e a logomarca da Davene. “A tarefa do designer é projetar o futuro. Estamos sempre à frente de nosso tempo e uma de nossas tarefas é levar aos empresários novos conceitos e ideias. Mesmo que exista uma grande procura pela diferenciação no mercado são poucas as empresas que estão realmente prontas para o processo de inovação”, afirma a designer.
Angela, o que seria um design consciente?
O design é tradicionalmente considerado como uma atividade de projeto que se desenvolve com a industrialização e atua sobre questões ligadas à funcionalidade e à estética, sobre a percepção de qualidade e valor de produtos e serviços contribuindo para definir diferenciais no mercado e provocar o desejo de consumir. Na sociedade de consumo, cuja lógica está baseada na obsolescência e na posse sempre renovada de bens e serviços, o design se tornou uma importante ferramenta do marketing e das estratégias empresariais voltadas para a competição. No entanto, a estrutura e toda a lógica do consumo passou a ser questionada devido aos impactos que vem causando à vida e à sustentabilidade do planeta. Hoje todos sabemos que a humanidade entrará em colapso se continuar consumindo em ritmo crescente, exaurindo reservas não renováveis, criando lixo e poluição ambiental. Já estamos sofrendo as consequências de nosso consumo desenfreado e de uma mentalidade inconsequente e egoísta. Na visão de John Maeda, designer e presidente da Escola de Design de Rhode Island (EUA), necessitamos criar uma “nova raça de designers”. Pessoas que usem a sua criatividade para desenvolver ideias capazes de contribuir para a transformação do planeta inspirando novos valores. Como designers temos que ser capazes de propor soluções criativas para os dilemas do consumo e do crescimento. O Design Consciente (marca criada pela designer) propõe que os profissionais assumam suas responsabilidades dentro da sociedade, que questionem os parâmetros estabelecidos e que principalmente tragam soluções que tenham como objetivo o bem-estar do ser humano e do planeta. Esta nova forma de atuação está ligada aos conceitos de consumo consciente e economia verde, à utilização de processos e materiais sustentáveis e principalmente à inovação. O designer pode ser um vetor de transformação ao agir com consciência dentro de seu âmbito de atuação.
Como é a sua atuação para que as empresas entendam o conceito do design consciente?
A tarefa do designer é projetar o futuro. Estamos sempre à frente de nosso tempo e uma de nossas tarefas é levar aos empresários novos conceitos e ideias. Mesmo que exista uma grande procura pela diferenciação no mercado são poucas as empresas que estão realmente prontas para o processo de inovação. Assim primeiramente procuro colaborar fazendo uma avaliação sobre a estrutura empresarial, o mercado e metas a serem atingidas. A partir deste conhecimento compartilho informações sobre questões ligadas à inovação, formas de consumo, tecnologias, processos e materiais sustentáveis preparando o empresário e os funcionários para que possa se dar início ao processo criativo. Busco em todos os projetos uma otimização no uso de materiais e tecnologias de fabricação, olhando o processo como um todo e influenciando na escolha de soluções consequentes que incluam desde a produção até o descarte final ou reciclagem. Importante frisar que o design consciente não é contra o consumo, mas sim a favor da inovação que mude os rumos do consumo em favor da qualidade de vida. Tenho atuado muito na área de consultoria preparando empresas para os desafios do futuro. E na base desta preparação estão questões como: quem somos, para onde queremos ir e qual impacto que pretendemos ter na sociedade e no planeta. Ao lançar luz sobre estas questões, responsabilidades são assumidas e processos podem ser revistos e aprimorados.
No seu trabalho é muito usado o termo inovação social. Fale mais a respeito disso.
Nossa sociedade está em evolução e estamos vivenciando um momento de transição no sistema de produção e consumo onde compartilhar será um conceito importante para a diminuição dos níveis de consumo e para o aumento da qualidade de vida. Em vez de possuirmos produtos passaremos a criar estruturas de serviços que possibilitem obter os mesmos resultados e benefícios antes conseguido somente com a posse de determinado produto. Um exemplo bem atual é o uso de bicicletas públicas e os sistemas de compartilhamento de carros. O designer passará a atuar na criação de processos e contextos que tragam benefícios para o ser humano e promovam novas maneiras de consumo. Esta é uma forma poderosa de inovação que coloca o design no centro do processo de transformação social. Dentro dela se inclui a educação para o consumo e o empoderamento para atuar no ” Faça você mesmo” (Do it Yourself) onde pessoas aprendem a criar seus próprios projetos e produtos se tornando consumidores mais conscientes e exigentes. Novas tecnologias como a prototipagem rápida e o scanner 3D evoluindo com grande rapidez irão, em um breve tempo, mudar completamente o cenário dos negócios, a forma de atuar dos designers e a sua relação com os consumidores. Temos que estar preparados para essas mudanças.
A sua visão sempre foi de fazer um design de qualidade. O que seria um design de qualidade?
O conceito de qualidade tem vários aspectos. Não se trata somente de materiais resistentes ao tempo e ao uso. Qualidade é também comunicação de valores. Quando projeto um produto, meu objetivo é que ele vá ao encontro das necessidades das pessoas, que seja fácil de usar e limpar, que seja bonito e cause um prazer estético no usuário, que transmita confiança e realmente crie uma conexão. É esta conexão afetiva que fará com que o produto seja cuidado e tenha uma vida mais longa. Quando a Mercedes-Benz coloca nos seus carros a estrela de 3 pontas ela está assinando um produto que tem uma preocupação com a qualidade no design, no uso da tecnologia e dos materiais. Qualidade é, portanto, um somatório de detalhes que constroem uma percepção maior.
Muitos não sabem, mas você foi a criadora da identidade visual da Caixa Econômica Federal. Como foi a criação dessa identidade na época?
O projeto da Caixa foi um dos mais desafiadores de minha carreira como designer devido à sua complexidade e amplitude. Nossa proposta foi transformar totalmente a imagem corporativa a partir de um trabalho que envolvesse todos os níveis da instituição. Atuamos na definição da forma da assinatura empresarial priorizando a denominação Caixa que tornava a marca mais visível nas suas apresentações visuais e em patrocínios. Criamos um novo padrão de agências e formas de atendimento que deram mais conforto ao cliente. Atuamos no design de interiores, na sinalização interna e externa, no mobiliário e até na criação de espaços para a espera sentada. Trabalhamos também no projeto de outras marcas de negócios da Caixa como Loterias, Caixa Aqui e Caixa Seguros. Foi uma experiência que trouxe resultados positivos para a imagem e comunicação da instituição e foi validada na percepção dos clientes. A marca da Caixa ainda está atual o que prova que a simplicidade é sempre uma boa escolha.
Em quais pontos o designer brasileiro precisa melhorar?
O designer nacional já está maduro. Prova disso é que estamos recebendo premiações por nossos projetos nos melhores e mais importantes concursos do mundo. Temos talento e capacidade de realizar projetos com alto nível de complexidade. Existem hoje no Brasil empresas de design de diferentes portes e com visões e atuações adequadas às necessidades e orçamentos dos clientes. A meu ver, temos que cada vez mais validar nossas heranças culturais, nossos materiais e formas de expressão. Devemos ser originais e acreditar que fazemos um design de alto nível. Precisamos assumir nosso papel como agentes da inovação.
Você é formada na Escola Superior de Desenho Industrial da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Esdi), uma das 60 melhores escolas de design do mundo. A formação na mesma teve qual peso na sua carreira que é extremamente bem-sucedida?
Certamente a Esdi foi importante na minha carreira. Tive a sorte de estudar com professores como Bergmiller [Karl Heinz], Freddy Van Camp, Aloísio Magalhães, Renina Katz, Roberto Verschleisser entre outros que formaram uma geração de profissionais. A Esdi foi fortemente influenciada pela visão da escola alemã de Ulm e isso trouxe importantes ganhos no que diz respeito às metodologias de projeto. Eu tive a oportunidade de fazer uma pós-graduação em Milão e de trabalhar por 7 anos na Alemanha o que contribuiu para complementar minha formação e ampliar o meu entendimento das diferentes formas de atuar em design.
Qual o peso do design como fator comparativo de um produto em uma competição industrial?
Hoje é quase impossível pensar num produto competitivo que não inclua a participação do designer. O estudo dos mercados, a busca por diferenciais e a agregação de valor fazem parte do campo de atuação do designer. Infelizmente muitas empresas brasileiras ainda não estão se utilizando desta ferramenta que pode trazer ganhos importantes para seus negócios.
Como conseguir uma alta qualidade visual de um produto?
A qualidade visual é apenas reflexo de um processo de criação que envolve vários outros fatores como: funcionalidade, interface amigável, facilidade de montagem e limpeza, materiais e processos de fabricação.
O bom design se define pelos detalhes ou ele deve ter algo a mais para essa definição?
O bom design é feito de detalhes. É uma experiência, uma percepção que abrange o físico, mas também inclui a emoção e o intangível.
Muitos dizem que você é uma formadora de tendências. Se enxerga assim também?
O designer deve ser curioso e estar sempre antenado no que acontece. Nosso material é a vida. Como podemos inovar se não estamos à frente de nosso tempo, se não questionamos o óbvio, se não ousamos para criar o que ainda não existe? Acho que todo o verdadeiro criador é um formador de tendências. Eu me vejo inspirando pessoas através de meus projetos e ideias. Esse é o meu lugar no mundo.
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