A trajetória da Brasil Kirin, desde a sua fundação como Schincariol até sua venda para a Heineken, é uma história de ascensão meteórica seguida por um colapso surpreendente. Uma das maiores empresas de bebidas do Brasil, a Brasil Kirin foi um símbolo de resistência nacional no setor de bebidas, competindo de frente com gigantes como AmBev e Grupo Petrópolis. No entanto, a crise econômica no Brasil e as dificuldades em enfrentar a concorrência acabaram precipitando o fim da operação da empresa, culminando em sua venda. Neste artigo, vamos explorar os fatores que levaram ao surpreendente fim da Brasil Kirin, destacando os principais momentos de sua história, sua fusão com a Kirin Holdings, a crise econômica e o que a levou à venda para a Heineken.
A história da Brasil Kirin começa muito antes da fusão com a Kirin Holdings. Fundada em 1939, a Schincariol nasceu como uma empresa familiar em Itu, no interior de São Paulo, produzindo refrigerantes. O produto mais icônico da empresa, a Itubaína, com sabor tutti-frutti, conquistou gerações de brasileiros. A marca rapidamente se expandiu, crescendo e ganhando espaço no mercado de refrigerantes.
Com o passar dos anos, a Schincariol viu uma oportunidade de expandir seus negócios e ingressou no mercado de cervejas. Inicialmente focada em uma atuação regional, a empresa começou a ganhar força ao adquirir outras marcas, como Cintra e Glacial, e com o lançamento de novos produtos, como a cerveja Nova Schin. Em meados dos anos 2000, a Schincariol já era um dos grandes players do setor de bebidas no Brasil, com uma rede de 13 fábricas espalhadas pelo país e presença internacional.
A marca também investiu pesado em campanhas publicitárias de impacto, como o famoso “Experimenta!”, com Zeca Pagodinho, que viralizou e ajudou a consolidar a cerveja Nova Schin como uma das mais consumidas no país. Patrocinando equipes esportivas e competições, a Schincariol fortalecia sua marca e se posicionava como um competidor de peso contra a AmBev e o Grupo Petrópolis.
Em 2011, o mercado brasileiro de bebidas viu um movimento que causou grande impacto: a venda do Grupo Schincariol para a Kirin Holdings Company, uma gigante japonesa do setor de bebidas. O acordo inicial previa a compra de 50,45% da Schincariol por R$ 3,95 bilhões, mas rapidamente evoluiu para a compra total do grupo por R$ 7,3 bilhões no final do mesmo ano. A operação foi aprovada pelo CADE, e a Schincariol passou oficialmente para o controle da Kirin, marcando o início de um novo capítulo.
Em 2012, a Schincariol foi rebatizada como Brasil Kirin, uma tentativa da Kirin Holdings de integrar a marca ao seu portfólio global e dar uma nova identidade à empresa. Sob o comando de Gino Di Domenico, que substituiu Adriano Schincariol na presidência, a Brasil Kirin continuou a expandir seu portfólio de produtos, abrangendo não só cervejas, mas também refrigerantes, sucos, águas minerais e energéticos.
A aposta da Kirin no mercado brasileiro não foi por acaso. O Brasil, naquela época, representava uma grande oportunidade de crescimento para a multinacional japonesa, devido ao tamanho do mercado consumidor e à paixão dos brasileiros por cerveja. No entanto, essa aposta, que parecia promissora, enfrentaria desafios inesperados nos anos seguintes.
A partir de 2014, o Brasil entrou em uma das piores crises econômicas de sua história recente. A recessão afetou diversos setores, e o mercado de bebidas não foi exceção. A Brasil Kirin, que já enfrentava dificuldades em competir com a poderosa AmBev e o crescente Grupo Petrópolis, começou a sentir o impacto da crise de maneira significativa. A empresa não conseguiu manter o crescimento acelerado dos anos anteriores e viu suas margens de lucro encolherem.
A concorrência acirrada, combinada com uma economia estagnada, fez com que a Kirin Holdings reavaliasse sua operação no Brasil. Em comunicado oficial, a Kirin declarou que, “levando em conta os riscos associados à economia brasileira e a situação da concorrência em um mercado estagnado”, seria difícil transformar a Brasil Kirin em uma operação rentável. Essa declaração marcou o início do fim da operação da Kirin no Brasil.
Além disso, a mudança no comportamento do consumidor, que passou a priorizar marcas premium e artesanais, representou um desafio adicional para a Brasil Kirin, que ainda era vista como uma marca de segunda linha em comparação com concorrentes como a Heineken e a AmBev.
Em fevereiro de 2017, a Heineken anunciou a compra da Brasil Kirin por 664 milhões de euros, aproximadamente R$ 2,2 bilhões na cotação da época. O acordo incluiu todas as fábricas, marcas e a estrutura de distribuição da Brasil Kirin, tornando a Heineken a segunda maior cervejaria do Brasil. A aquisição foi aprovada pelo CADE em maio de 2017, consolidando a Heineken como uma das maiores forças do setor de bebidas no país.
Para a Heineken, a compra da Brasil Kirin foi uma oportunidade de expandir sua participação no Brasil, especialmente no mercado de cervejas populares e no crescente segmento de cervejas artesanais, com marcas como Baden Baden e Eisenbahn. A integração das operações começou imediatamente, com a Heineken assumindo o controle total das fábricas e marcas da Brasil Kirin.
Apesar do fim da Brasil Kirin como entidade independente, muitas de suas marcas icônicas continuam a fazer parte do dia a dia dos brasileiros. Marcas como Schin, Glacial, Itubaína e Eisenbahn ainda estão presentes no mercado, agora sob a gestão da Heineken. A cerveja Nova Schin, que uma vez foi uma das mais vendidas no Brasil, continua a ser comercializada, embora com menor destaque.
As marcas premium adquiridas pela Brasil Kirin, como Baden Baden e Eisenbahn, também continuam a prosperar no segmento de cervejas artesanais, que tem crescido rapidamente no Brasil. A Heineken soube capitalizar essas marcas, mantendo sua identidade e ampliando sua distribuição pelo país.
O legado da Brasil Kirin também permanece na memória coletiva dos consumidores brasileiros. Campanhas publicitárias como o “Experimenta!” com Zeca Pagodinho e a associação da marca Schin com eventos populares como o Carnaval ainda são lembradas com carinho pelos consumidores.
A venda da Brasil Kirin para a Heineken teve um impacto significativo no mercado de bebidas brasileiro. Com a aquisição, a Heineken consolidou sua posição como a segunda maior cervejaria do Brasil, atrás apenas da AmBev. A competição entre essas duas gigantes elevou a disputa por participação de mercado, beneficiando os consumidores com mais opções de produtos e preços mais competitivos.
Além disso, a saída da Kirin Holdings do Brasil representou uma lição importante para outras multinacionais que buscavam investir no país. O Brasil, apesar de ser um mercado atraente, também apresenta desafios únicos, como a volatilidade econômica e a forte concorrência no setor de bebidas.
O surpreendente fim da Brasil Kirin marcou o encerramento de um ciclo na história das bebidas no Brasil. A antiga Schincariol, que cresceu de forma impressionante e se tornou um ícone nacional, foi absorvida por gigantes globais, mas seu legado continua vivo através de suas marcas e na memória dos brasileiros.
A venda para a Heineken não só consolidou a presença da empresa holandesa no Brasil, mas também trouxe novas oportunidades para o mercado de bebidas, que continua a evoluir. Para a Kirin, a experiência brasileira serviu como um alerta sobre os desafios de se operar em um mercado tão competitivo e volátil quanto o Brasil.
Assim, o fim da Brasil Kirin não é apenas o término de uma empresa, mas o reflexo das mudanças dinâmicas no setor de bebidas no Brasil e no mundo. E, mesmo que as marcas Brasil Kirin e Schincariol tenham desaparecido, suas histórias continuam a influenciar o mercado de bebidas brasileiro até hoje.
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