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O jornalismo na vida da escritora Daniela Arbex

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Daniela Arbex é autora do best-seller “Holocausto Brasileiro”, eleito Melhor Livro-Reportagem do Ano pela Associação Paulista de Críticos de Arte (2013) e segundo melhor Livro-Reportagem no prêmio Jabuti (2014). Com mais de 300 mil exemplares vendidos no Brasil e em Portugal, a obra ganhou as telas da TV, em 2016, no documentário produzido com exclusividade para a HBO, com exibição em mais de 40 países. Seu sucesso, “Cova 312”, foi o vencedor do Prêmio Jabuti em 2016 na categoria Livro-Reportagem. A obra aborda a ditadura de uma forma que a história oficial nunca fez. Uma das jornalistas mais premiadas de sua geração, Daniela tem mais de 20 prêmios nacionais e internacionais no currículo, entre eles três prêmios Esso, o americano Knight International Journalism Award (2010) e o prêmio IPYS de Melhor Investigação Jornalística da América Latina (2009). Há 20 anos trabalha no Jornal Tribuna de Minas, onde é repórter especial. Este ano lançou o livro “todo dia a mesma noite – a história não contada da boate Kiss”. “Acho que o jornalista pode, sim, ter amigos, desde que a ética esteja acima de qualquer relacionamento. Por várias vezes, denunciei fontes que, no passado, me ajudaram. Não tenho nenhum problema com isso. Nunca troquei informação por benefícios. Por isso, o informante pode vir a ser denunciado e precisa saber disso. Não há tratos”, afirma a jornalista.

Daniela, quais os principais desafios de um jornalista que atua nos tempos atuais?

A instantaneidade e a violência. A falta de tempo é um grande inimigo dos jornalistas que buscam fazer jornalismo de qualidade e a violência é uma realidade cada vez mais próxima de nós.

Pulitzer dizia que o jornalista não deveria ter amigos. Acredita que o jornalista tem se perdido muitas vezes por achar que é a notícia ou por ser muitas vezes íntimos de quem é a notícia?

Acho que o jornalista pode, sim, ter amigos, desde que a ética esteja acima de qualquer relacionamento. Por várias vezes, denunciei fontes que, no passado, me ajudaram. Não tenho nenhum problema com isso. Nunca troquei informação por benefícios. Por isso, o informante pode vir a ser denunciado e precisa saber disso. Não há tratos. O único trato é manter o sigilo de sua fonte, quando ela não quer ser identificada ou corre riscos. No mais, sempre há relações de interesse da fonte. Precisamos estar atentos para não sermos usados por elas.

Quanto de distanciamento o jornalista deve ter das suas fontes?

Há um limite tênue que não deve nunca ser ultrapassado. Cordialidade deve existir, sim, mas jamais intimidade. Sem ética não se constrói uma carreira de credibilidade.

Temos hoje (principalmente na internet) um jornalismo partidário em ambos os lados. Como analisa essa questão?

No meu caso, o meu partido político é o jornalismo. Partidarismo não cabe aos jornalistas. Que suas opiniões fiquem fora do noticiário, porque elas não interessam a ninguém. O compromisso do jornalista é com o que tem relevância pública. O resto ele deve deixar em casa.

Você é conhecida por realizar matérias bem apuradas. Como se chega a uma apuração praticamente perfeita?

Não sei se perfeita é a palavra, mas a apuração de qualidade é a base para qualquer trabalho. Só se chega a um bom texto, quando a apuração é de qualidade, quando a gente tem obsessão pela checagem dos dados. E para fazer uma boa apuração é fundamental gastar sola de sapato.

A grande reportagem terá futuro num mundo cada dia mais digital?

Eu diria que a grande reportagem é o futuro do jornalismo. A superficialidade é um tiro no pé dentro das redações. A alma do jornalismo está exatamente no investimento que se faz na busca da informação capaz de fazer a diferença, de ajudar a sociedade. Fugir disso é assinar o atestado de óbito dos jornais.

Na sua visão, o jornalismo brasileiro muitas vezes esquece do Brasil real?

Às vezes, se distancia dos temas invisíveis que não aparecem na agenda pública exatamente porque não são cobertos e nem priorizados nas redações. Nesse sentido, o papel do repórter é fundamental para trazer à tona temas desconhecidos ou incômodos.

Quais as maiores dificuldades que encontrou ao escrever o livro “Holocausto Brasileiro?”.

Encontrar os sobreviventes e conseguir ouvir os funcionários do hospital que se sentiam acusados pelas violações praticadas nesse hospital.

Até você trazer esse livro à baila, as pessoas tinham alguma noção dessa tragédia?

Quando comecei a apurar essa história, achava que apenas a minha geração desconhecia essa tragédia. Quando lancei o livro, percebi o quanto estava enganada: o Brasil desconhecia o seu Holocausto.

O que absorveu desse trabalho e que lhe fez refletir sobre a sua própria vida?

Ser jornalista é uma oportunidade única de aprender com a história do outro. Esse livro me mostrou o pior e o melhor do ser humano. Ele também me humanizou.

Por que o jornalismo ainda será necessário para entendermos o mundo em que vivemos?

Sem jornalismo não há democracia. O jornalismo de qualidade constrói memória e nos ajuda a compreender o tempo vivido e a transformá-lo.


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