Roberto Batalha Menescal aprendeu a tocar acordeão e dedicou-se ao violão como autodidata. Posteriormente, estudou teoria e harmonia com Guerra-Peixe e Moacir Santos. No ano seguinte, a música “O Barquinho”, parceria com Ronaldo Bôscoli, é gravada no LP homônimo de Maysa. Participa da turnê nacional e internacional de divulgação do disco. Entre 1964 e 1968, atua como produtor e arranjador de discos. Em 1968, Menescal e Elis Regina se apresentam no Mercado Internacional do Disco e Editores Musicais (Midem), em Cannes, e excursionam pela Europa. Logo após, André Midani o convida para trabalhar na PolyGram. Torna-se diretor artístico e produz discos de Caetano Veloso, Gal Costa, Gilberto Gil, Chico Buarque, Nara Leão, Maria Bethânia, Jorge Ben Jor entre outros. Suas interpretações são incluídas em trilhas de novelas e filmes e, com Chico Buarque, compõe a canção “Bye, Bye, Brasil” (1979) para o filme homônimo de Cacá Diegues. Com o conjunto Bossacucanova compõe a faixa título e grava o CD “Brasilidade”. Dois anos depois, Menescal e Cris Delanno lançam o CD “Eu e Cris”. Em 2005, divide o palco com Wanda Sá e Miéle no show Benção Bossa Nova e atua como narrador do documentário “Coisa Mais Linda – Histórias e Casos da Bossa Nova”, de Paulo Thiago. Em 2008, apresenta-se com o guitarrista Andy Summers. Três anos depois a dupla lança o DVD “United Kingdom of Ipanema”.
Como o senhor enxerga a função social da música na vida de uma sociedade?
A música sempre foi uma manifestação seja cultural, artística, popular, etc, desde que se tem notícias de civilizações antigas. Foi provado que a música sempre esteve presente nesses povos sendo simples como ouvimos de tribos brasileiras, seja evoluída como ouvimos nas salas de concertos. Experimente tirar o som musical de um capítulo de novela para ver que pobreza fica!
Por que a revolução silenciosa da bossa nova é tão reverenciada em todo mundo depois de passados tantos anos?
A bossa nova nasceu com uma característica internacional porque aquela geração dos anos 50 ouvia muito jazz, música francesa e italiana que encontrávamos nos grandes filmes musicais e sem intenção maior nossa bossa nova vinha com influências do som que recebíamos do mundo inteiro e por isso ela também foi bem recebida em todo o exterior.
A bossa nova, o samba e a MPB são as peças principais do seu “quebra-cabeça” musical. Quando as experimentações como aconteceu com o guitarrista do The Police, Andy Summers, começaram a lhe atrair?
A bossa é um tipo de samba com uma levada moderna que encantou os jazzistas do mundo inteiro, sendo que também a MPB é uma continuação daquela porta que abrimos com a bossa, e grandes músicos internacionais nos têm procurado para fazer projetos de bossa e MPB. É o que aconteceu com Andy Summers, Stace Kent, Paul Winter e tantos outros artistas mundiais.
O que se absorve para a vida e para a carreira, quando se tem o privilégio de criar com Carlos Lyra, Tom Jobim, Vinicius de Moraes, Ronaldo Bôscoli e outros?
Cara, essa sorte que tive fez da minha vida um sonho que pude realizar. Tenho pena de quem não teve a mesma possibilidade!
Compor para o senhor é um ato que deve ter mais transpiração, inspiração, observação ou reflexão?
Todos esses métodos de compor, são válidos e depende da necessidade. Por exemplo, às vezes temos uma encomenda de um cantor pedindo uma música nova para seu projeto; às vezes é para um filme como foi o que fiz com “Bye Bye, Brasil”; às vezes vêm num momento de descanso total (inspiração), às vezes você acorda com uma nova melodia, enfim, não tem regra, mas tudo é válido.
Em que pontos de sua carreira essas quatro partes se encaixaram de maneira perfeita?
Graças a Deus, não me tem faltado elementos para que eu possa seguir fazendo minhas músicas.
O mar sempre esteve presente em suas canções. Ele [mar] é o seu farol ou acredita que sua ligação vai muito além, com algo que chega perto do sagrado?
Vivi muitos anos ligado diretamente ao mar, ou adorando-o ou confessadamente como predador, pois, fui muitos anos caçador submarino (hoje peço perdão por esse pecado), mas naturalmente as músicas nasciam de minhas idas ao mar ou da reflexão e paixão que tinha por ele.
Vamos falar um pouco das gravadoras. O senhor esteve à frente da PolyGram. Sente saudade da forma como a indústria da música era gerida naquele tempo?
Amigo, tenho saudades é do futuro que me tem trazido o tempo todo, grandes surpresas e alegrias. Claro que foi muito bom meu tempo na PolyGram, pois, foi uma época muito saudável para a boa música e vivi intensamente esse período, mas já foi!
As plataformas digitais de música são um negócio que vê com ceticismo ou otimismo?
Vejo com muito otimismo porque estamos através delas, em contato com o mundo inteiro. Não tem mais aquela coisa de lançamos um disco no Brasil! Hoje você lança sua música diretamente no mundo, é só esperar um pouquinho a poeira assentar.
“Ah! Se Eu Pudesse”, “Vagamente”, “Você”, “Nós e o Mar” e “O Barquinho”. Que sentimentos essas músicas trazem para o seu íntimo quando são ouvidas novamente?
Primeiramente eu procuro sempre atualizar a forma de mostrá-las, com novas harmonias, novas levadas, etc. Tento fazer com que elas me pareçam sempre atuais.
E o que elas têm em comum e que só o senhor consegue enxergar até hoje?
Elas têm um tanto de minha cara, minhas passagens por essa minha vida que tanto gosto!
O senhor fez 80 anos em 2017. O que a música representou para a sua vida durante todos esses anos?
A vida! Só tenho que agradecer por ter recebido as oportunidades que tive e que continuo tendo durante todo esse percurso.
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