A escalada de um conflito como o atual entre Israel e o Hamas é sempre um evento que desencadeia uma aversão ao risco nos mercados financeiros em todo o mundo. Isso resulta na fuga de capital de ativos voláteis em direção a refúgios considerados mais seguros, notavelmente o dólar e os títulos do Tesouro dos EUA. Pedro Schicchi, Analista de Grãos e Oleaginosas da hEDGEpoint Global Markets, destaca que essa aversão ao risco tem implicações diretas nos futuros de commodities no curto prazo.
Schicchi observa: “Em especial agora, uma vez que as taxas de juros nos EUA já eram atraentes antes dos acontecimentos da semana passada. A fuga de capital é, em geral, baixista para os futuros de commodities, uma vez que os investidores vendem suas posições em ativos de risco”.
No entanto, é importante ressaltar que esse efeito tende a ser de curto prazo, uma vez que, a longo prazo, os fundamentos de mercado prevalecem. Um dólar mais forte também exerce pressão baixista sobre os preços das commodities, uma vez que torna as exportações dos EUA mais caras. Isso é particularmente relevante no caso da soja, que é um mercado altamente orientado para exportação nos EUA e concorre diretamente com o Brasil.
Além disso, a região em questão desempenha um papel crítico no mercado global de petróleo com proximidade com o Canal de Suez, um ponto crucial para o transporte marítimo de produtos em todo o mundo. Schicchi ressalta que conflitos na região podem elevar os preços do petróleo e também aumentar os prêmios de risco no frete marítimo.
O analista também aponta que, embora Israel tenha um papel limitado na importação de commodities agrícolas, o Oriente Médio como um todo é um grande importador de diversos produtos agrícolas, com peso significativo no mercado global. O impacto do conflito no mercado de grãos depende da escala do conflito e das respostas dos países vizinhos. Se o conflito se limitar às áreas atuais, os efeitos nos grãos podem ser limitados. No entanto, a situação muda se o conflito se ampliar na região. As formas pelas quais a escalada do conflito pode afetar o mercado de grãos são diversas e podem variar dependendo dos acontecimentos das próximas semanas.
A análise de Schicchi pode ser segmentada em três aspectos principais: os impactos nos mercados financeiros em geral, os potenciais impactos nos preços do petróleo e nos fretes e, por fim, os fundamentos dos grãos e o fluxo comercial.
Começando pelos mercados financeiros, a aversão ao risco que acompanha um conflito leva à fuga de capital de ativos arriscados para ativos considerados mais seguros, como o dólar e os títulos do Tesouro dos EUA. Isso pode impactar negativamente os futuros de commodities no curto prazo.
Schicchi destaca que, devido às taxas de juros atrativas nos EUA, a fuga de capital é agravada, tornando-se um fator baixista para os futuros de commodities, já que os investidores vendem suas posições em ativos de risco.
No entanto, é importante ressaltar que esses efeitos tendem a ser transitórios, pois os fundamentos prevalecem a longo prazo. Além disso, um dólar mais forte exerce pressão baixista sobre os preços das commodities, tornando as exportações dos EUA mais caras, o que afeta especialmente o mercado de soja, que concorre diretamente com o Brasil.
Quanto ao petróleo e aos fretes, a região em questão é fundamental no mercado de petróleo e está próxima do Canal de Suez, por onde passa uma quantidade significativa de produtos pelo mundo. A tensão na região pode elevar os preços do petróleo e aumentar os prêmios de risco nos fretes marítimos.
O analista ressalta que esse será o segundo conflito em curso na mesma região, o que pode aumentar o prêmio de risco incorporado nos preços dos fretes na região. No entanto, as possibilidades de como a situação pode se desenrolar são numerosas e, em grande parte, especulativas.
No que se refere aos fundamentos dos grãos e ao fluxo comercial, Pedro Schicchi observa que Israel não é um dos principais importadores de commodities agrícolas. No entanto, o Oriente Médio como um todo é um grande importador de produtos agrícolas, com destaque para grãos e carnes. Países como Egito, Irã, Iraque, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos desempenham um papel significativo nesse cenário.
Schicchi aponta: “Em primeiro lugar, quando o risco é alto, os países tendem a estocar bens essenciais, sendo os alimentos um alvo comum. O Egito, em particular, pode desempenhar um papel chave, pois seus leilões de compra de grãos já movimentam o mercado. Além disso, o país compartilha uma fronteira com a Faixa de Gaza, o que o torna um canal importante para a entrega de ajuda humanitária, como alimentos e medicamentos”.
Outro fator a considerar é como os exportadores de produtos agrícolas, em especial o Brasil, navegarão nesse ambiente geopolítico. Vários dos países mencionados são grandes compradores de milho, frango e carne bovina brasileira, com o Irã, por exemplo, importando milho quase exclusivamente do Brasil há anos.
Além disso, Israel é um importante fornecedor de fertilizantes fosfatados para o mundo, e danos duradouros à capacidade de produção desses fertilizantes representam um risco para o mercado agrícola.
Schicchi conclui: “No final, tudo dependerá de quanto o conflito se intensificará e, especialmente, de como os países vizinhos responderão a ele. Se permanecer restrito às áreas atuais, não é provável ter um grande impacto direto no mercado de grãos. No entanto, os riscos serão maiores se o conflito tomar maiores proporções na região, afetando não apenas os mercados financeiros, mas também o fluxo comercial e os fundamentos dos grãos”.
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