O longa “Se Eu Contar, Você Escuta?”, primeiro trabalho audiovisual da diretora Renata M. Coimbra, está em cartaz nos cinemas de São Paulo, Belo Horizonte e Brasília, além de já ter sido exibido em Natal e João Pessoa. O documentário é um relato sensível e necessário, que mostra como a violência sexual mudou para sempre o destino de oito meninas, que já adultas, relatam suas experiências de forma direta e comovente.
A diretora Renata Coimbra conheceu essas mulheres há mais de vinte anos, quando ainda eram adolescentes e estavam em situação de rua. Na ocasião, Renata supervisionava um grupo de assistentes sociais da Prefeitura de Presidente Prudente e gravou as entrevistas com elas. Essas gravações foram redescobertas em uma mudança de residência, quando encontrou uma caixa com as fitas dos depoimentos.
“Ao ouví-las novamente, passei a me perguntar o que aconteceu com aquelas meninas. Elas estariam vivas? Na ocasião, se viam sem saída, mas e agora?”, comenta a diretora. Renata convidou então, Célia Freire, uma das assistentes sociais que acompanhava as meninas e que havia desenvolvido uma forte relação com elas. Juntas, saíram em busca dessas jovens encontrando algumas e se surpreendendo com o destino delas, o que motivou a realização desse documentário.
Quando perguntada sobre a experiência de dirigir um primeiro filme como esse, Renata destaca: “Há 20 anos atrás, quando eu trabalhava com as protagonistas, ainda meninas, e realizava meus estudos, jamais imaginaria que suas histórias seriam contadas através de um documentário. Eu era uma pesquisadora, acadêmica e embora sempre tenha sido uma apaixonada por filmes desde muito jovem, essa possibilidade estava muito distante. Reencontrá-las, conhecer sobre suas vidas, saber como estavam, como enfrentaram a dura realidade que viveram e sobre suas lutas cotidianas, foi uma experiência reveladora. Poder transmitir suas histórias de dignidade e resistência, compartilhando com o público é de uma satisfação indescritível.”
Sobre a potência do audiovisual para tratar um tema tão complexo, a diretora reforçou: “Acredito que a linguagem cinematográfica, com divulgação de temas complexos que exigem sensibilidade, auxiliam na mobilização social e empatia daqueles que assistem aos filmes. Considerando a gravidade representada pelos casos de abuso e exploração sexual em nosso país, aliada com a intensificação de casos durante a pandemia da Covid-19, inclusive com aumento de relatos de violência sexual no contexto online, atenta para a perpetuação dos mesmos e a necessidade de seu enfrentamento. Tenho expectativa de que o documentário possa promover engajamento social na defesa de crianças e adolescentes que vivem tais contextos.”
Um filme necessário
A violência sexual atinge crianças e adolescentes de todas as idades e classes sociais. É um fenômeno complexo que abarca dois espectros mais específicos: o abuso e a exploração sexual. Dados de 2021 levantados pela Unicef em parceria com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), com base em casos registrados em boletim de ocorrência, mostram que a cada hora, cinco crianças e adolescentes são vítimas de violência sexual no Brasil. Os pesquisadores desse fenômeno estimam que para cada caso registrado, ao menos outros nove foram não integram as estatísticas por inúmeros motivos.
O filme ainda conta com a trilha sonora original criada pela premiada musicista mineira Maria Bragança, que se inspirou nas cirandas brasileiras e músicas cantaroladas pelas protagonistas durante seus depoimentos. Uma delas, a popular “Brilha, Brilha, Estrelinha“, na sua versão medieval, traz uma pergunta reveladora: “Eu devo contar para você, mamãe, o que está causando meu tormento?”.
Sinopse
Gravações em áudio realizadas nos anos 90 revelam a história de oito meninas vítimas de violência sexual. Filhas de famílias de migrantes e agricultores, elas viviam nas ruas de uma cidade do interior do Brasil, algumas desde os 9 anos de idade. Mais de 20 anos se passaram e, agora adultas, revisitam sua infância e contam os motivos que as levaram às ruas em uma surpreendente saga pela sobrevivência.
A Diretora – Renata M. Coimbra
Renata M. Coimbra é professora universitária da UNESP Presidente Prudente, com MBA em Cinema-Documentário e Doutorado em Psicologia. Em 1999, no início de sua carreira, entrevistou um grupo de meninas de sua cidade expostas à exploração sexual comercial e atendidas por uma equipe de assistentes sociais da Prefeitura. Impactada pela crueldade da situação, passou a dedicar-se ao enfrentamento da exploração sexual comercial de crianças e adolescentes (ESCCA). Escreveu diversos artigos e publicou livros sobre o assunto até que 20 anos depois, ao ouvir novamente as fitas gravadas com essas meninas, resolveu procurá-las e realizar esse documentário.
Sobre a Produção:
O filme é uma produção da T’AI Criação, sediada em Brumadinho(MG). O documentário teve apoio do Programa Ibermedia 2015, foi selecionado pelo Edital de Cinema BNDES 2016, sendo contemplado para investimento, tornando-se o primeiro projeto de documentário mineiro a receber esse prêmio. Vale ressaltar a importância deste certame nacional, instituído em 1995, que ao longa da sua existência premiou 449 títulos, sendo oito deles produzidos em Minas Gerais. A T’AI Criação é a quarta produtora mineira a ser contemplada. Esta obra foi selecionada na Chamada Pública BRDE/FSA PRODAV 01 e contou com recursos públicos geridos pela Agência Nacional do Cinema – ANCINE. Este lançamento é realizado com recursos da Lei Municipal de Incentivo à Cultura de Belo Horizonte.
O filme “Se Eu Contar, Você Escuta?” fará sua estreia internacional na Califórnia/EUA, onde integra a Seleção Oficial do LOS ANGELES WOMEN IN FILM FESTIVAL 2022.
*Com participação do jornalista fábio Gomides.
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