Branca Barão é especialista em comportamento humano e master trainer em programação neurolinguística. A consultora, escritora e palestrante está sempre viajando pelo Brasil há mais de 14 anos ministrando palestras e cursos personalizados e com metodologia própria que une interatividade, emoção e a experiência para estimular a capacidade de comunicação, a criatividade e a inovação, propondo novas formas de engajamento e mudanças comportamentais para empresas de diversos segmentos. É membro da Mensa Brasil – sociedade internacional formada por pessoas de alto QI. Ela possui certificação Internacional em dinâmicas humanas e de grupos, tendo cursado a primeira graduação do Brasil em Ciência da Felicidade. Seu mais recente livro é o comentado “A Mulher que Vivia de Propósito”. “Somos os únicos animais da natureza que sabemos que um dia vamos morrer… isso nos dá, naturalmente, uma urgência de fazer a vida valer a pena. E para valer a pena temos que incluir: clareza de valores, coragem para sermos autênticos, um trabalho que nos realize, relações que nos permitam ser quem realmente somos. Gosto de me imaginar com quase 100 anos me perguntando: Viver valeu? Se eu responder sim, que vida eu terei vivido? Assim posso buscar a cada momento, viver o dia de hoje realizando aquilo que me trará a certeza que valeu à pena lá na frente!”
Branca, gostaria de abordar alguns assuntos antes de falarmos sobre as mulheres. Como descobrir um propósito?
Olhando para si mesmo e respondendo com honestidade:
Que vida vale à pena viver? A partir daí, construindo a cada escolha a vida que responde a essa pergunta, de propósito, ou seja, intencionalmente! Um propósito tem a ver com aquilo que a gente entrega de nós para o mundo e com aquilo que desfrutamos da vida. Trabalhe seu autoconhecimento e terá autoconsciência o suficiente para viver nessa direção.
Somos os únicos animais da natureza que sabemos que um dia vamos morrer… isso nos dá, naturalmente, uma urgência de fazer a vida valer a pena. E para valer a pena temos que incluir: clareza de valores, coragem para sermos autênticos, um trabalho que nos realize, relações que nos permitam ser quem realmente somos. Gosto de me imaginar com quase 100 anos me perguntando: Viver valeu? Se eu responder sim, que vida eu terei vivido? Assim posso buscar a cada momento, viver o dia de hoje realizando aquilo que me trará a certeza que valeu à pena lá na frente!
Você terá uma boa pista se definir com toda sinceridade do mundo para si mesmo e de acordo com o seu próprio dicionário essas três palavras tão importantes: Felicidade, Realização e Sucesso.
Em que momento da nossa existência isso deve ser buscado?
Hoje! Não importa quantos anos tenha… Esse é o melhor momento. Nunca se é cedo demais, nem mesmo tarde de mais. É preciso agir com aquilo que temos em mãos nesse exato momento. Claro que quanto antes fizermos isso, melhor, afinal teremos mais tempo para desfrutar dessa descoberta. Na escola aprendemos português, matemática, história e geografia, mas não autoconhecimento, felicidade e propósito, por exemplo. Aprendemos que isso não é tão importante, ou pior, que é algo óbvio, que simplesmente acontece, uma sorte! E não é assim, autoconhecimento é trabalhoso, geralmente buscado depois, quando somos mais velhos, geralmente por conta própria.
Crianças normalmente estão em contato com quem são de verdade, em sua essência, assim, se os pais ou responsáveis por elas, permitem a expressão dessa essência, elas não precisarão fazer um resgate depois e redescobrir quem são e o que amam e a vida que querem viver. Elas já sabem. O que acontece é que geralmente a gente vai, aos 10 ou 12 anos de idade passando a tentar ser aquilo que esperam de nós e acabamos deixando de ser nós mesmos. Resgatar isso depois é muito mais difícil e trabalhoso do que simplesmente fluir na vida com a leveza e autenticidade que toda criança leva consigo. Para os mais velhos, acredito que será muito melhor se permitir essa descoberta e desfrutar de alguns anos de uma vida plena do que morrer sem saber.
Existe uma ligação entre falta de propósito e insatisfação pessoal?
Certamente sim. O propósito é o que dá sentido aos nossos dias, a cumprir uma rotina. Sem ele, somos como hamsters, correndo na rodinha, presos em uma gaiola. Repetimos o que fazermos, apenas por estarmos habituados a fazer. Mas se alguém nos perguntar: Porque você está fazendo isso? A gente trava!
Como não deixar que outras pessoas decidam o seu propósito?
Acredito que aprender a ouvir a si mesmo é uma das tarefas mais difíceis. Mesmo quando estamos falando com a gente mesmo, é difícil definir qual é a sua voz verdadeira. Ali misturado, tem a voz da sua mãe, do seu pai, de outros familiares, marido, esposa, amigos, namorado, chefe e até dos gurus da internet a quem você dá ouvidos. Separar a sua própria voz, ouvi-la e dar crédito a ela é o desafio.
Uma dica para identificar essa voz é fazer a si mesmo a pergunta: O que eu quero? E responder sem filtros… A partir da identificação daquilo que realmente queremos, começamos a separar o que sou eu mesmo e o que é aquilo que o mundo fez de mim!
O ambiente interfere na busca por esse propósito?
Propósito é autoconhecimento aplicado, logo, tudo aquilo que a nossa percepção entra em contato: Relações, ambiente, trabalho, viagens, músicas e filmes, experiências, conversas, restaurantes, etc… são pistas daquilo que encaixa ou não na pessoa que eu sou e na vida que eu quero viver. Experimentar coisas novas, deixando nossos preconceitos de lado, duvidar das próprias certezas, aprender a dizer sim, quando quero dizer sim e a dizer não quando não quero algo, é parte dessa construção.
Importante dizer que encontrar um propósito não é um ponto final. Encontrei meu propósito e pronto, agora só viver nessa direção. Propósito não é algo concreto, é como uma escultura que vamos moldando no decorrer da vida e que nunca estará pronta, mas quanto mais detalhes descobrimos e passamos a direcionar nossa vida e nossas escolhas com elas, mais felizes seremos e mais clareza teremos dos próximos detalhes a incluir ou retirar dessa escultura.
A cada nova descoberta é uma oportunidade de aperfeiçoar a vida que você vive para se sentir ainda mais realizado, feliz e ter sucesso, de acordo com o seu próprio e individual significado dessas palavras.
Como uma pessoa deve se posicionar entre a busca pelo dinheiro e a busca pelo seu propósito?
Continue fazendo aquilo que faz hoje para pagar os boletos e conforme for se descobrindo, vá incluindo pequenas doses de quem você é e daquilo que mais ama fazer no que faz hoje. Sem nenhuma pressa ou pressão, apenas seja tudo que pode ser a cada momento e transborde aquilo que você é em tudo que faz. Quando menos esperar estará direcionado sua carreira com o seu propósito e será reconhecido por isso.
Acredito que a autenticidade é o nosso maior diferencial. O grande desafio é tomar consciência disso e de como encaixar quem eu sou naquilo que faço. Uma vez feito isso, você nunca mais vai se conformar em trabalhar apenas para pagar os boletos.
O planeta pós-pandemia será um mundo com mais propósito em sua visão?
Acredito que essa é uma escolha individual. Depende do nível de consciência que um ser humano estava no momento do início da pandemia, das reflexões que fez, das decisões que tomou perante tudo que aconteceu no mundo nesse período.
Para muitos de nós, foi impossível, num momento onde nos preocupamos tanto em não morrer ou em não perder quem amamos, não repensar a vida inteira, assim como ter mais clareza dos valores que são importantes na vida e incluir muito mais de cada um deles no dia a dia. Mas também conheço pessoas que se tornaram mais fechadas a sua própria essência e que sente que a vida tem menos sentido que antes.
A pandemia foi a mesma para o mundo inteiro. Como cada país reagiu a ela é diferente. Como cada pessoa usou isso para se revoltar ou para aprender, crescer e avançar na direção da vida que deseja viver, também.
Vamos mudar de assunto. Por que as mulheres devem ser mais egoístas?
Na nossa cultura, ainda machista, até hoje vejo meninos sendo criados para terem sucesso e serem felizes, enquanto meninas são educadas para cuidar dos irmãos, ajudar a mãe na cozinha e quando não fazem isso não são “boas meninas”.
Lembro quando eu ouvia as recomendações de segurança em um voo, que a regra de colocar primeiramente em mim a máscara de oxigênio em caso de despressurização da cabine, me parecia absurda. É claro que eu colocaria a máscara no meu filho, pequeno, primeiro. Fomos treinadas a cuidarmos primeiramente dos demais para então cuidarmos de nós mesmas. Isso quando sobrava tempo… Nas poucas vezes que conseguimos, realmente nos priorizar, dificilmente fizemos isso sem nos sentirmos “egoístas!” O que eu quero dizer, quando digo para as mulheres sejam um pouquinho egoístas é: Se priorize. Você vai se sentir egoísta à princípio e está tudo bem!
O ser humano em si, é egoísta, não?
Somos. Uns mais, outros menos. O egoísmo em si, significa pensar apenas em si mesmo, querer que o mundo ao nosso redor funcione priorizando nossas necessidades e vontades. Isso realmente é péssimo. Não se trata de sermos mais egoístas, é sobre cuidarmos de nós mesmas para podermos cuidar dos demais!
Por que o egoísmo é visto como um mal em nossa sociedade?
Porque o mundo está carente de altruísmo de compaixão, de empatia e colaboração e quanto mais egoísta for uma pessoa, menos apta a transbordar esses valores ela estará.
Acredita no fim do patriarcado com essa mulher se colocando como figura central de sua vida?
Penso que o fim do patriarcado depende de uma série de fatores. Uma mudança de cultura nunca é unifatorial. Dependemos de leis, da política, dos conselhos das empresas, da mudança de mentalidade dos homens e principalmente da própria mulher. Enquanto muitos homens foram criados para amarem um esporte, uma carreira, dinheiro, sucesso e a si mesmos, a maioria das mulheres foi criada para amar os homens. Aprender a amar a si mesma, à sua história, seu próprio sucesso, talento e carreira e não se sentirem egoístas é um grande passo!
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