Com as eleições presidenciais dos Estados Unidos se aproximando e Donald Trump novamente como protagonista, o cenário político americano vive um momento de incerteza. O ex-presidente republicano, após sua controversa derrota em 2020, volta ao palco da disputa com a possibilidade real de retornar à Casa Branca. De acordo com levantamentos recentes, Trump está à frente de sua adversária, a vice-presidente Kamala Harris, no Colégio Eleitoral, com 219 delegados contra 215. No entanto, ainda há 104 delegados em jogo nos decisivos swing states, que podem definir o futuro do país. A pergunta que paira sobre os Estados Unidos e o mundo é: o que esperar de um eventual “Trump II”? Este texto explora as possíveis implicações políticas, econômicas e sociais de um segundo mandato de Donald Trump.
A política externa de Donald Trump durante seu primeiro mandato foi marcada pela doutrina “America First”, que priorizava os interesses dos Estados Unidos em detrimento da cooperação internacional. Um segundo mandato provavelmente intensificaria essa abordagem, com Trump reiterando sua crítica a instituições multilaterais como a ONU e a OTAN e ampliando sua postura isolacionista.
Em relação à China, Trump pode aumentar a tensão comercial e tecnológica, com a possibilidade de novas sanções e tarifas. Sua retórica anti-China era uma peça central de sua política externa e, durante a pandemia de COVID-19, foi usada para culpar Pequim pela disseminação do vírus. Espera-se que, num eventual segundo mandato, o confronto entre as duas maiores economias do mundo se intensifique ainda mais.
Outro aspecto importante seria o relacionamento com a União Europeia. Durante seu primeiro mandato, Trump criticou frequentemente os líderes europeus por sua falta de contribuição financeira para a OTAN e ameaçou retirar os EUA de acordos importantes, como o Tratado de Paris sobre mudanças climáticas. Um retorno de Trump poderia representar novas fricções nas relações transatlânticas e uma possível retração dos compromissos ambientais assumidos sob a administração de Joe Biden.
No campo econômico, Trump deverá continuar sua política de desregulamentação, focando no alívio para grandes corporações e indústrias tradicionais, como o setor de energia. Durante seu primeiro mandato, Trump desmantelou várias regulamentações ambientais e financeiras instituídas por seus antecessores. Um segundo mandato poderia ver uma expansão dessa agenda, especialmente com relação ao setor de combustíveis fósseis, o que colocaria em risco as políticas climáticas adotadas durante o governo de Joe Biden.
A redução de impostos para empresas também seria uma das marcas de um novo mandato de Trump. Durante sua primeira gestão, o corte de impostos de 2017 beneficiou principalmente grandes corporações e os mais ricos. Se reeleito, é possível que Trump continue nessa linha, ampliando as brechas fiscais para empresas e dificultando uma redistribuição mais equitativa da riqueza.
No entanto, a economia americana enfrentaria desafios estruturais significativos, como o aumento da dívida pública e as crescentes desigualdades sociais. Trump tem adotado uma abordagem de curto prazo, focada em estimular o crescimento econômico imediato, mas sem enfrentar as questões mais profundas, como o acesso desigual ao mercado de trabalho e à educação de qualidade.
A questão imigratória foi um dos pilares da campanha de Trump em 2016, e tudo indica que voltará a ser uma das suas principais bandeiras. Em um segundo mandato, Trump provavelmente retomaria sua política de “tolerância zero” em relação à imigração ilegal, incluindo a separação de famílias na fronteira e a deportação em massa de imigrantes sem documentação.
O muro na fronteira com o México, uma promessa central de sua primeira campanha, poderia voltar ao foco, com Trump buscando concluir sua construção. Embora boa parte do projeto tenha ficado inacabado devido a questões de financiamento e controvérsias legais, Trump poderia pressionar por novos recursos para terminar a obra.
Além disso, políticas restritivas de imigração legal também poderiam ser intensificadas. Trump poderia buscar limitar ainda mais os vistos de trabalho e programas de acolhimento de refugiados, sob a justificativa de proteger os empregos dos americanos e garantir a segurança nacional.
O impacto de um segundo mandato de Trump na Suprema Corte dos Estados Unidos é um dos pontos mais críticos. Durante seu primeiro governo, Trump nomeou três juízes conservadores, transformando a composição do tribunal em uma maioria de 6 a 3. Isso teve e terá implicações profundas para o futuro das leis de direitos civis e questões sociais.
Temas como o direito ao aborto, o controle de armas e os direitos LGBTQ+ podem sofrer retrocessos significativos, à medida que a Suprema Corte toma decisões que refletem uma visão mais conservadora da sociedade. Em um eventual Trump II, a possibilidade de novas nomeações para a Corte poderia solidificar ainda mais esse viés, com consequências de longo prazo para a legislação dos Estados Unidos.
Além da Suprema Corte, Trump também poderia continuar a indicar juízes conservadores para tribunais inferiores, o que reforçaria seu impacto sobre o sistema judiciário americano por décadas.
Trump é um mestre em polarizar o debate público. Seu estilo abrasivo, marcado por declarações controversas e pelo uso agressivo das redes sociais, contribuiu para uma sociedade americana cada vez mais dividida. Essa polarização não apenas marcou sua presidência anterior, mas também definiu o cenário político atual.
Se reeleito, é provável que Trump continue a explorar divisões raciais, de gênero e de classe em seus discursos. Em vez de adotar uma postura conciliadora, Trump tenderia a intensificar o clima de “nós contra eles”, exacerbando tensões sociais e políticas. Seu relacionamento tenso com a mídia, que ele acusa frequentemente de produzir “fake news”, também deve continuar, com ataques a jornalistas e órgãos de imprensa críticos ao seu governo.
A ascensão de movimentos populistas de direita, inspirados pelo estilo e retórica de Trump, também seria amplificada em um segundo mandato. Esses grupos podem se sentir ainda mais encorajados a pressionar por agendas radicais, alimentando o cenário de instabilidade política interna.
Durante seu primeiro mandato, Trump foi um dos maiores defensores da indústria de combustíveis fósseis e um cético declarado das mudanças climáticas. Sua decisão de retirar os Estados Unidos do Acordo de Paris foi um golpe significativo nos esforços globais para combater o aquecimento global. Embora Joe Biden tenha revertido essa medida, recolocando o país no tratado internacional, um segundo mandato de Trump provavelmente traria uma nova retração nas políticas ambientais.
Trump se opõe a regulamentações que limitem as emissões de carbono, argumentando que elas prejudicam a competitividade da indústria americana. Ele também favorece a exploração de petróleo e gás em áreas protegidas, como o Ártico. A continuidade dessa abordagem poderia colocar os Estados Unidos dos principais obstáculos ao combate global às mudanças climáticas.
Além disso, Trump sempre mostrou ceticismo em relação às evidências científicas que indicam a gravidade do aquecimento global. Em um segundo mandato, sua administração provavelmente reduziria ainda mais os fundos para pesquisa ambiental e continuaria a desmantelar agências responsáveis por fiscalizar a qualidade do ar e da água.
O cenário eleitoral nos Estados Unidos depende em grande parte dos swing states, estados que não têm uma inclinação política clara e que alternam entre votar em democratas e republicanos. Conforme o agregador de pesquisas Real Clear Politics, Donald Trump lidera em termos numéricos em sete estados cruciais: Arizona, Carolina do Norte, Geórgia, Michigan, Nevada, Pensilvânia e Wisconsin. Esses estados juntos representam 104 delegados no Colégio Eleitoral e serão decisivos para determinar o resultado da eleição.
Embora Trump esteja numericamente à frente de Kamala Harris, a disputa nos swing states ainda é extremamente apertada, com ambos os candidatos tecnicamente empatados devido à margem de erro. Isso indica que, nas semanas finais da campanha, tanto Trump quanto Harris devem concentrar seus esforços nesses estados, promovendo suas agendas e tentando conquistar os eleitores indecisos.
Um eventual segundo mandato de Trump dependerá não apenas de sua capacidade de manter sua base fiel de eleitores, mas também de convencer os indecisos de que ele é a melhor escolha para liderar os Estados Unidos por mais quatro anos.
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